Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

29.5.06
 
Nas nossas escolas...
No último fim-de-semana por força das actividades desportivas da família fui a um sarau de ginástica na Esc. Sec. Soeiro Pereira Gomes, em Alhandra. Com os anos que já levo de envolvimento nestes meios da ginástica, com as minhas filhas, fico sempre a pensar na quantidade de mundos paralelos que existem ao lado uns dos outros e que desconhecemos por completo, se não tivessemos descoberto, num clube de bairro, uma classe muito interessante (criativa, de várias idades, nada convencional) onde participam crianças e jovens. Trata-se de ginástica de grupo, muito expressiva, em que a ginástica, o drama e a dança acabam por aparecer associados de forma imaginativa e muito criativa.
Quando chega a Maio começam os saraus de ginástica nas diversas colectividades e escolas em que a modalidade se pratica e é frequente as classes serem convidadas para participar em saraus de outros clubes. Foi assim que fomos parar à Esc. Sec. Soeiro Pereira que realizou o seu sarau de ginástica nesse fim-de-semana. Nele participaram classes de ginástica, grupos de dança, de saltos em trampolim, de ginástica acrobática, de hip-hop, de step, aeróbica ... gente de todas as idades, de todas as cores (diferentes etnias)... classes da escola e de clubes convidados. A assistência, também muito variada, esteve atenta e participativa até ao fim.
Quando saíamos, na rua, estava uma carrinha a vender cachorros quentes, próprio destes eventos, muitos jovens, de todas as cores, um carro da "escola segura", e tudo se passou com muito boa disposição e organização, como sempre acontece em todos os saraus, sejam eles de um conhecido clube da capital, ou de uma colectividade de aldeia ou de bairro!

Fiquei a pensar que nesta Escola deve haver um ambiente especial porque que nela se criam oportunidades para todos poderem mostrar o que têm e fazem de melhor ... É também com acontecimentos como este que, apesar das nossas diferenças, aprendemos a viver juntos - é a socialização que está em causa. Tenho a certeza que se tudo isto não acontecesse, que os resultados escolares dos alunos desta escola seriam certamente piores.

Parabéns ao grupo de Educação Física que organiza estes eventos, ao Conselho Executivo que facilita a sua realização, e a todos os que neles intervêm de uma forma ou de outra!

Margarida Belchior
Professora do 1ºCEB
(2006/05/28)

28.5.06
 
Revisão do ECD
Texto do Projecto apresentado pelo ME para a Revisão do ECD, do Regime de Administração e Gestão das Escolas e da Formação Contínua dos docentes - Descarregar ficheiro anexo (em formato PDF)

Para a próxima segunda feira, dia 29 de Maio, está agendada a primeira reunião entre a FENPROF e o ME sabre estas matérias.

http://www.fenprof.pt/DynaData/SM_Doc/Mid_115/Doc_1498/Anexos/ECD%20revisão%20-%20proposta%20final.pdf

27.5.06
 
INQUIETACOES PEDAGOGICAS DE BUDAPESTE
Escrevo de Budapeste, do Centro Europeu da Juventude, Conselho da Europa. Trata-se de uma reuniao destinada a preparar um manual de Educacao para os Direitos Humanos para criancas.

Algumas impressoes : Nao ha televisao (tambem nao ha til, nem cedilha, nem acentos...) Nao ha televisao nos quartos, nao ha televisao na sala dos computadores (sete computadores e duas impressoras a disposicao de qualquer habitante ou visita do Centro). Numa sala ha uma televisao esquecida como um movel velho e que ha muito deixou de funcionar.

A StaatsOpera apresenta espectaculos todas as noites : cinco horas seguidas de Wagner, um ballet classico mas com algumas inovacoes e ousadias (Meyerling), a Tosca... Nao param.

E depois ha os banhos . Parece que e a maior ocupacao de lazer dos hungaros mas ainda nao tive tempo de ver.

Quanto a escola, as hungaras do Conselho da Europa queixam-se que e excessivamente academica, autoritaria e competitiva !!! Que me dizem a estas inquietacoes exoticas ?

Maria Emilia Brederode Santos

24.5.06
 
O GRANDE DEBATE
O "Debate Nacional sobre Educação", promovido pela Assembleia da República e pelo Governo e organizado pelo Conselho Nacional de Educação, vai começar .

Apresentado 2ª feira na Assembleia da República, vai ser lançado no Porto dia 29 de Maio, em Lisboa dia 31 e em várias cidades do país dia 22 de Junho. Entretanto começará a funcionar o portal www.debatereducação.pt. As Inquietações Pedagógicas têm que dar um contributo diversificado , virtual e ao vivo.

Maria Emília Brederode Santos

23.5.06
 
Castelos e Imagens
Sabiam que Portel é o centro do mundo quando se trata de castelos em imagens ? Pois bem : de há uns três anos a esta parte o realizador Lauro António tem vindo a organizar, para a Câmara Municipal de Portel, um festival de cinema intitulado "O Castelo em Imagens". O pretexto é claro foi o castelo de Portel, mas o festival trata e homenageia todos os castelos portugueses e mesmo "o castelo como símbolo e expressão". De Tim Burton a Orson Wells, de Miyazaki a Nick Park - durante uma semana, em Portel, foi possível ver tanto os castelos de D. Quixote como os de Elsinore e mesmo os de Harry Potter e os de Narnia...

Mas o festival não se limita a mostrar bom cinema. Há dois anos, criou-se um Concurso Nacional Escolar de pintura, desenho, fotografia, video ou DVD. Este ano o número de concorrentes duplicou : 800 obras a concurso ! O júri, de que alegremente fiz parte, só teve a dificuldade da escolha : não eram só muitas obras (que aliás vieram de Timor, Chile, Alemanha, EUA... além, naturalmente, de Portugal) como eram também muitas obras de qualidade. Um regalo e um consolo !

Maria Emília Brederode Santos

13.5.06
 
Mais exames? Não, obrigado.
Por alguma razão pouco clara, parece existir uma fé generalizada na bondade dos
testes e dos exames escolares, um pouco em todos os níveis. Parece acreditar-se
mais na objectividade do resultado das 'medições das aprendizagens', quando
efectuadas através de um teste escrito (e realizado durante um tempo limitado,
em condições geralmente bastante formais e sob uma fiscalização atenta) do que
numa avaliação prolongada no tempo e decorrente de um conhecimento profundo (e
necessariamente subjectivo, como todo o conhecimento) do aprendiz. Trata-se do
mito de que as aprendizagens serão avaliadas mais objectivamente através de um
exame que procure quantificar os saberes do aluno.
Mas é necessário analisar em pormenor este mito. Tradicionalmente os elementos
quantitativos são olhados como tendo uma natureza mais objectiva e mais clara do
que as apreciações qualitativas. Esta é uma questão de natureza sócio-cultural
que não podemos ignorar. Mas isto só acontece porque o mito da objectividade da
quantificação é muito forte. Veja-se o caso recente dos números do défice: o que
parece importar mais é o número em si mesmo em vez daquilo que é essencial e que
é a descrição da situação do país e um retrato dinâmico e evolutivo dessa
situação que permita perceber quais são os factores humanos que mais estão a
constituir elementos de não desenvolvimento. Ao assumir (erradamente) o rigor da
quantificação esquece-se que se trata apenas de modelos (matemáticos) que podem
ser úteis ou não para um dado fim e que podem traduzir melhor ou pior uma dada
situação.
Na educação acredita-se em geral, e sem grande questionamento, que é
absolutamente necessário fazer a comparação e a seriação dos alunos porque isso
trará algum benefício a todos. Errado, como se vê pelos resultados de inúmeras
avaliações nacionais e internacionais. Não é oferecendo aos alunos, aos
professores e aos pais uma lista de números por turma que se está a ajudar a
todos a melhorar as aprendizagens. As actividades escolares não são uma corrida
cujo objectivo é chegar em primeiro lugar. Por muito que custe, a educação não é
comparável à preparação dos atletas cuja finalidade é competir com outros para
trazer uma medalha para o seu país.
A avaliação das aprendizagens na escola continua a ser largamente vista como um
processo de legitimar uma dada classificação numérica a ser atribuída pelo
professor a cada um dos seus alunos. Esta não é obviamente a vocação da
avaliação numa escola que assuma o seu papel constitutivo no processo de
aprender. Em última análise as práticas avaliativas que visam primordialmente a
classificação quantitativa apenas contribuem para a seriação dos alunos e
consequentemente para a exclusão escolar e social de muitos deles.
Em tempos em que mais e mais se reclama, em todos os quadrantes da sociedade, a
necessidade de que a escola básica e secundária contribua de facto para a
formação de futuros cidadãos intervenientes, activos e responsáveis - capazes de
desenvolver a democracia devolvida a Portugal com o 25 de Abril - espanta
perceber que existe um recrudescer da cultura dos exames na escola nomeadamente
ao nível do discurso de alguns políticos (que não sabem de facto do que falam
quando falam de educação) mas também de muitas pessoas com responsabilidades na
educação.
Tudo indica que os alunos vão ser cada vez mais avaliados através de exames
finais nacionais. É preciso reconhecer que os sinais que são dados aos jovens
sobre os modos como são avaliados os seus conhecimentos na escola, entram em
contradição com alguns pressupostos sobre o que significa o desenvolvimento da
cidadania e da educação para a cidadania democrática. De facto, as avaliações
baseadas em provas de exame, com resultados que são reduzidos a números, apenas
estabelecem um modelo que descreve (de uma forma pobre e altamente incompleta) a
situação dos alunos, e servem objectivamente para seriar esses mesmos alunos
segundo critérios que é preciso colocar em questão. A cultura dos exames
escolares acaba por destruir a possibilidade de trabalho cooperativo e colectivo
uma vez que é um instrumento para distinguir, separar e excluir. O exame final
acaba por introduzir a lógica do "cada um trata de si" mas com a particularidade
de que não há escapatória quando cada um está a lidar com um mundo fechado e
altamente codificado como acontece em diversas disciplinas escolares. Cada aluno
acabará por ser classificado de modo "perfeito" numa escala que vai do "grupo do
quadro de honra" ao "grupo dos incapazes" com mais ou menos categorias pelo
meio. É por isso um desafio para os educadores e professores criar e implementar
outras possibilidades para avaliar o trabalho que desenvolvem com os alunos
(avaliando também assim o seu trabalho) num processo de crescimento e de
participação, em vez de promover mais e mais exames para separar, dividir,
classificar, seriar, hierarquizar. E é bom dizer claramente que não estamos
condenados a ter um sistema de avaliação baseado em exames nacionais.
A avaliação, tal como se faz em Portugal no final do ensino básico através dos
exames finais nacionais de Matemática e de Língua Portuguesa, serve diferentes
funções e podemos ver nela diferentes propósitos, sendo que um dos mais
importantes é fazer uma estratificação pública dos alunos. Mas se a educação é
governada por princípios democráticos de equidade e de justiça, qual é o
significado da estratificação e das provas de exame?
O esforço posto no desenvolvimento de provas de exame, e da sua implementação
nas escolas, desorganiza necessariamente tempos e espaços que deveriam ser
obviamente aproveitados para viver a escola e aprender. E essa desorganização
não se dá apenas enquanto os exames duram, mas igualmente nos longos meses de
esforços de preparação dos alunos para "ficarem bem nos exames".
Penso ser largamente assumido por todos que não é possível justificar a
diferença de "tratamento" dos alunos com referência à sua origem étnica, género,
religião, origem social ou outra categoria similar. Pergunto: de onde é que
emerge a ideia de que a competência, capacidade ou habilidade numa dada
disciplina pode ser uma excepção a este respeito? Os exames podem
(eventualmente) ter um papel na educação, mas os exames não precisam de estar
relacionados com a reprovação nem com a estratificação pública. O facto de num
sistema educativo existirem formas de avaliação em que haja uma possibilidade de
insucesso, e em que a estratificação pública dos alunos toma a forma de níveis
de avaliação, faz com que a relação entre a educação e a democracia esteja
irremediavelmente quebrada. Isto leva de imediato a pôr em causa, de forma
radical, a possibilidade de fazer de modo coerente 'educação para a cidadania'.
É preciso questionar o currículo escolar no que respeita às formas de avaliação
e em particular à tendência para basear essa avaliação cada vez mais em exames.
Se questionarmos radicalmente a organização curricular e os exames, somos
levados a perguntar que tipo de currículo queremos implementar - porquê este e
não outros tipos de objectivos, actividades, formas de avaliação - e isso
significa perguntar em que é que queremos que os nossos alunos se transformem
como pessoas. E naturalmente que isto está ligado ao tipo de sociedade que
queremos construir. Trata-se por isso de fazer escolhas curriculares que são
eminentemente de natureza política e ética. É preciso afastar a perspectiva de
que o conhecimento, a cultura e a organização curricular são neutros, sem
intencionalidade, assépticos, produtos acabados que existem fora de qualquer
ligação com o mundo social.

João Filipe Matos, Professor Universitário

12.5.06
 
"Eduquês"? ... Alguém sabe ou conhece este conceito?
... e ainda a propósito...

Há professores que passam a vida na escola a dar o seu melhor para fazer com que os seus alunos aprendam – são de uma dedicação e de um profissionalismo sem par. São esses que sabem que a Escola não é um remédio para resolver todos os males de que a sociedade padece e mesmo assim, continuam todos os dias, persistentemente, a trabalhar, com todos os seus alunos, para que estes aprendam e o façam de forma significativa. Mas, como em todas as profissões, há bons e piores profissionais. Há aqueles que pretendem dar um sentido social ao que fazem, procuram envolver e responsabilizar os alunos pelo seu próprio processo de aprendizagem, de forma a que estes consciencializem os seus sucessos e as suas limitações e tentam ainda, ajudá-los a encontrar a melhor forma de ultrapassar os seus obstáculos. Estes professores gostam do que fazem, tem uma relação pessoal com os seus alunos e são capazes de lhes transmitir o gosto pela sua área do conhecimento (a sua disciplina), a importância que ela teve para eles como pessoas mais realizadas, quer em termos individuais, quer em termos sociais, isto é, sabem transmitir aos mais novos o gosto pelo que ensinam e reconhecem o lugar da sua disciplina e do seu conhecimento no mundo actual. Habitualmente são pessoas empenhadas social e culturalmente que participam em actividades associativas diversas e com uma visão alargada da vida, da sociedade e do conhecimento.
Na minha óptica só se “aprende” reconhecendo o gosto e o prazer dos outros, mais velhos (professores), ou não (colegas, pares), naquilo que fazem. Ninguém “aprende” de forma descontextualizada e para o exame! (Todos nos lembramos do que aprendemos com os melhores professores que tivemos – não foram apenas os conteúdos, os conhecimentos declarativos e factuais explícitos, mas também o seu “ser”, a sua forma de estar e de se relacionar no e com o mundo).

Ter esta consciência, significa uma maior exigência em termos profissionais por parte dos professores, seja qual for o grau de ensino em que exercem, isto é, em que procuram fazer os seus alunos aprender. Exige o desenvolvimento de competências relacionais (a percepção da importância da forma como se relaciona com os outros – dilema da comunidade (Nóvoa, 2002): saber relacionar e o saber relacionar-se), competências específicas e próprias da sua área do conhecimento (as próprias de um físico, para a Física; as de um historiador, para a História; as de um matemático, para a Matemática; … - relacionando-as com a pertinência actual dessa área do conhecimento na actualidade; dilema do conhecimento (Nóvoa, 2002): saber analisar e analisar-se), competências estas que resultarão necessariamente em competências de consolidação e de afirmação de uma identidade profissional mais abrangente social e culturalmente, logo mais consistente (e menos corporativista) (associadas ao dilema da autonomia (Nóvoa, 2002): saber organizar e saber organizar-se.

Um professor ou professora, digna desse nome, tenta analisar a sua prática docente, tenta perceber os sucessos e as dificuldades dos seus alunos e tenta adaptar-se àqueles que tem na sua frente como alunos, partindo do ponto em que estes se encontram para os fazer crescer e progredir em conjunto (ver dilemas acima referidos). Estes professores interessam-se especialmente pelo crescimento e progresso dos seus alunos e trabalham arduamente para isso, independentemente de todos os constrangimentos sociais e organizacionais da escola em que exercem. Habitualmente estes professores não têm problemas em relatar os seus sucessos, nem os seus fracassos. E, dos mais de 40 anos que já levo destas profissões relacionadas com a escola, quer como professora, quer como aluna/estudante, tenho-me cruzado com eles em todos os níveis de ensino, do pré-escolar ao ensino superior.

Mas há também os outros: aqueles para quem a culpa dos insucessos dos seus alunos (ou seja, dos seus insucessos) está sempre nos outros, nos que os antecederam, na sociedade, nas condições da escola, etc, etc. … em nome de uma suposta e única ciência …
Nunca chegam a questionar-se sobre as suas próprias práticas docentes nem sobre os insucessos e maus resultados dos seus alunos … chega-lhes apontar injustamente o dedo aos outros, ignorando que tudo à sua volta está a mudar e que o mundo já não é o que era, nem que o conhecimento já não se encontra inacessível numa recôndita torre de marfim! …

Este é um discurso escrito em “eduquês”? Desculpem, sou professora há 27 anos e nunca ouvi falar nesse termo nos fóruns do conhecimento que tenho frequentado por força do meu aperfeiçoamento profissional.

Alguém sabe ou conhece o que é o “mediquês”? o “advoquês”? ou o “comuniquês”?

Margarida Belchior
Professora do 1ºCEB
(2006/05/09)

8.5.06
 
Lançamento do livro DA VIDA NA ESCOLA
A Editora ASA realiza a sessão de lançamento do livro de Manuela Castro Neves - DA VIDA NA ESCOLA.
Fará a apresentação da obra o Professor António Nóvoa, e o ex-aluno Pedro Fradique dará o seu testemunho sobre a prática da Manuela.
Esta sessão realiza-se no dia 11 de Maio, às 18 h., no anfiteatro da ESE de Lisboa.

3.5.06
 
Freud e o exemplo de humildade e rigor de António Damásio
Freud e o exemplo de humildade e rigor de António Damásio

Comemoram-se 150 anos do nascimento de Freud, pai da psicanálise.
Não queria deixar passar esta data sem referir a importância de Freud para a compreensão dos processos educativos.
Não sendo pedagogo, Freud esteve na origem de grandes inquietações pedagógicas, dando um forte contributo para o conhecimento do funcionamento da mente humana. Este conhecimento tem sido muito relevante designadamente para se poder compreender os efeitos da acção educativa em contextos como a família ou a escola. Veja-se, por exemplo, na Pedagogia Institucional as experiências vividas, em que a Psicanálise tem um papel de grande significado na compreensão das relações educativas e na organização da vida escolar.
Da literatura saída no fim-de-semana sobre Freud, gostaria de salientar a interessante entrevista concedida por António Damásio ao Público, onde este coloca Freud entre grandes vultos dos últimos dois séculos (com Darwin e William James).
Confesso que o que mais me impressionou nas palavras de A. Damásio foi, não só a referência aos seus trabalhos sobre os mecanismos fundamentais da emoção, mas sobretudo a sua humildade ao afirmar que a sua opinião, ao avaliar a pertinência actual da psicanálise face a outras terapias, ...”tem tanto valor como outra. Como neurocientista, como neurologista, não tenho prática psicanalítica e não tenho maneira de avaliar proporcionalmente qual é o impacto real da psicanálise no mundo de hoje”. Noutro momento da entrevista, interrogado sobre pertinência da psicanálise, responde que não tem “conhecimento suficiente para dar uma resposta sensata”.
Muitos dos opinionmakers que tudo resolveriam em dois tempos, no domínio da educação, deveriam aprender esta humildade científica com Damásio.
É difícil aceitar nos nossos dias o modo como são realizados julgamentos sumários da pedagogia por pessoas que revelam grande ignorância sobre teorias, práticas pedagógicas e contextos educativos.

Ana Maria Bettencourt