Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

25.8.06
 
AVENTURAS NO CIBER-ESPAÇO
Os miúdos de 8 a 12 anos (e os adultos intrometidos como eu) andam a ler uma nova série de livros de aventuras muito actual : a colecção Detectives da Internet, da Gradiva e que data já de 1997. Li o vol. 2, Tecla de Escape. O inevitável grupo de amigos encontra-se espalhado pelo mundo anglo-saxónico (Austrália, Canadá, EUA e Inglaterra) e ligado pela World Wide Web para conversarem, jogarem partidas de xadrez, procurarem a informação mais diversa e, claro!, perseguirem e descobrirem malfeitores. Fora disso, vão às aulas, fazem TdC, jogam ao "espião", comem waffles ao pequeno-almoço e lêem o "Oliver Twist". Os pais são directores de empresas de software, detectives mas também empregados de limpeza e reformados.

Através das aventuras habituais neste contexto menos habitual e por meios ainda muito pouco habituais, aprende-se a consultar Newsgroups (rec.jogos.xadrez, por ex.), a usar o correio electrónico, um editor gráfico ou a fazer as mais diversas consultas (a descobrir a meteorologia dum dado dia num dado local, o fuso horário de uma cidade no outro lado do mundo, os hoteis de N.Y. ou de Londres...)

Esqueci-me de dizer que o bandido é Presidente de uma empresa de "sistemas de Treino Multimedia" e o seu crime a fuga ao fisco...

Não há dúvida : entrámos na ciber-era !

Maria Emília Brederode Santos

17.8.06
 
O GESTO E A PALAVRA
Antologia de Textos sobre a Surdez


Pouco antes do Verão foi lançado o 1º vol. de uma antologia intitulada O Gesto e a Palavra, coordenado por Maria Bispo, André Couto, Mª do Céu Clara e Luis Clara, todos fundadores e membros da direcção da AFAS - Associação de Famílias e Amigos dos Surdos. A edição foi da Caminho e vem na sequência da publicação em português de obras internacionais de referência para os surdos e para a comunidade surda. Na obra agora publicada incluem-se textos estrangeiros mas também portugueses que pretendem retratar a situação dos surdos em Portugal, num "debate entre investigação científica e opinião". Embora nem todos os textos desenvolvam ideias e atitudes com as quais a AFAS esteja de acordo, creio que todos giram em torno da importância fundamental da Língua Gestual Portuguesa , entendida como um direito fundamental dos surdos (severos e profundos) e que "embora constitucionalmente reconhecida, longe está de ser implementada nos vários níveis de ensino..." (Prefácio)

Para esta obra escrevi um pequeno texto sobre "O acesso dos surdos à televisão" e incluí uma investigação feita a propósito da legendagem de alguns episódios da "Rua Sésamo", bem como da inclusão de alguns episódios com linguagem gestual, testados junto de crianças surdas.

Parece-me esta antologia uma obra bem necessária. Há tão poucos trabalhos escritos sobre a situação dos surdos portugueses - e tantas experiências vividas que, se não redigidas ou publicadas, se arriscavam a cair no esquecimento para andarmos todos, constantemente, a reinventar a roda...

Maria Emília Brederode Santos

15.8.06
 
Educação e desenvolvimento - A propósito de Alqueva


Paisagem deslumbrante, a da albufeira do Alqueva vista de Monsaraz.
Antes, quando ia ao Alentejo sonhava, com aquela paisagem lindíssima mas colocava nela água...
Agora há mesmo água a sério e está ainda mais bonita.....
Mas queixam-se os habitantes daquela região de desolação dramática.
Faltam projectos consistentes de desenvolvimento. Falta vida, falta iniciativa....
No Alqueva como em Foz Côa, faltam propostas de educação e formação que viabilizem um desenvolvimento sustentado. Mesmo quando existe sabedoria nos habitantes, como é o caso, a educação e a formação são necessárias para que ousem inovar.

Quando se perceberá neste país que sem uma educação e uma formação adequadas, os programas de desenvolvimento são raramente consistentes?

Ana Maria Bettencourt

12.8.06
 
Educação e desenvolvimento - A propósito de um documentário sobre a Ilha do Corvo



Do trabalho de Pedro Coelho sobre a ilha do Corvo, que a SIC passou recentemente, ficou-me a ideia da solidão dos seus habitantes, do tremendo isolamento da ilha apesar da Internet e da Televisão, das zangas e descontentamentos difíceis de gerir num espaço tão pequeno, da dependência relativamente à Câmara Municipal…uma desilusão para o seu autor relativamente à imagem romântica que muitos têm da ilha.
Ficou-se a saber pouco sobre aquela comunidade, através de um retrato em que os habitantes, ao que parece, não gostaram de se ver. Ficou por dizer aquilo que se perdeu no espírito comunitário que tão nostalgicamente era evocado.
Ficou por se ver a beleza invulgar da ilha, relevante para o retrato
Que mal podiam os habitantes ver nos subsídios, se são legítimos? Porque é que a Televisão e a Internet deveriam promover a comunicação e o reforço do espírito comunitário? Que mal podiam ver nos empregos na Câmara Municipal, de quem foi a iniciativa para quase tudo o que há na ilha hoje? Quem os ajudou a perspectivar uma mudança em que os subsídios seriam colocados ao serviço do desenvolvimento?
O que mais me impressionou foi o modo como a educação tem sido encarada e como parece ter sido gerida na ilha. Há um papel que a educação indiscutivelmente teve nos últimos anos na evolução das pessoas, permitindo-lhes viver de uma forma mais adequada ao nosso tempo e exprimirem-se com muito maior facilidade hoje do que antes. Para uma açoriana isto é muito importante e é importante que se reconheça essa importância. Os açorianos tiveram durante muitos anos dificuldades tremendas para ultrapassar a barreira das ilhas e ter acesso a mais do que a escola primária. Para os corvinos ir para outra ilha significava viver num mundo onde sentiam grande insegurança. O acesso à educação, aos subsídios e às novas tecnologias foi mesmo muito importante.
Fica porém o sentimento do absurdo que é a existência de equipamentos educativos decalcados de outros contextos. É o caso dos 2º e 3º ciclos de escolaridade básica, referidos no documentário. Em zonas com tão poucos alunos ( a professora de matemática referia ter uns quatro alunos) faria todo o sentido que, à semelhança do que se faz por exemplo na Irlanda, as escolas fossem concebidas como pólos de desenvolvimento e mesmo ninhos de empresas. Seria importante estabelecer a ligação entre os ciclos do ensino básico e a educação de adultos (a irracionalidade que já foi denunciada há muitos anos no continente da existência de professores dedicados unicamente ao 2º ciclo, no Corvo é mais visível e ainda mais absurda....).
O desenvolvimento de capacidade de iniciativa empresarial seria a única maneira de contrariar a subsidio dependência que tanto choca, sobretudo porque um dia acabarão sem que a ilha tenha um projecto de desenvolvimento consistente. Os professores deveriam ser recrutados entre aqueles que demonstrassem capacidade como agentes de desenvolvimento local, o que não parece ter sido o caso.
A escola e os professores deveriam desempenhar um papel activo numa educação para o desenvolvimento. Uma componente importante seria uma educação para os media que preparasse os cidadãos para usufruir dos meios novos a que tiveram acesso rompendo isolamentos psicológicos e geográficos.
Este modo de conceber a educação e a formação deveria ser válido para outros contextos isolados, onde existem escolas pequenas. A solução de deslocar os alunos, que tem sentido no continente, não pode ser generalizada e é impossível nas ilhas, quando existe a barreira do mar...mas as escolas pequenas também não fazem sentido se não estiverem integradas num projecto de desenvolvimento. Porque se insiste em estarmos tristemente sós adoptando um modelo de escola - absurda em determinados contextos - numa Europa onde que já se descobriu outros caminhos para articular escola e desenvolvimento local ?

Ana Maria Bettencourt

9.8.06
 
Onde posso comprar a Noesis ?
Para responder a esta pergunta de Luisa Pereira (comentário ao

post da Ani Bettencourt sobre a revista Noesis) informo que :

1. A revista tem sido enviada para todas as sedes de agrupamento para ser distribuída gratuitamente por todas as escolas do agrupamento.

2. Qualquer pessoa pode assinar a revista (custa 10,00 euros por um ano, 19 por dois) . Escreva para revistanoesis@min-edu.pt

3. A revista por enquanto só está à venda no "Espaço Noesis" da Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular na Av. 24 de Julho.

O tema do dossier do próximo número - que sairá no princípio de Outubro - é "Artes e Educação".

Maria Emília Brederode Santos

4.8.06
 
Noesis









A Noesis está de parabéns pelo segundo número desta série.
São muito interessantes os temas, o modo como são tratados e as ilustrações. Creio que constitui um bom instrumento de trabalho a ser utilizado pelas escolas. Nesta linha há um artigo da Maria do Céu Roldão que penso trabalhar em situações de formação. Trata o trabalho colaborativo de professores (o que fazemos e o que não fazemos nas escolas, pg 22-23 do nº 66- Julho/Setembro de 2006 ).
Sei que em férias não é altura para falar de trabalho colaborativo, nem sequer de trabalho mas podem crer que a comparação que no artigo é feita com a série televisiva do Dr House é muito divertida e pertinente. Quando for o momento de trabalhar os projectos de turma, vale a pena discutir com base neste texto.

Ana Maria Bettencourt