Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

25.1.08
 
BAIRRÃO RUIVO:
na Palavra, no Pensamento e na Memória

Cândido da Agra*

Que pode socorrer-nos no angustiante sentimento de perda do grande amigo, do exemplar colega Bairrão Ruivo? A palavra, o pensamento, a memória.

A palavra
Que palavras direi? O professor que a Universidade e o País acabam de perder era um académico de vasta cultura humanística e científica: para além da sua especialidade, dominava temas que iam da filosofia (a sua primeira formação) à biologia. Não por estéril curiosidade mas por fecunda convicção epistemológica e pragmática. Ao serviço da intervenção sobre os problemas humanos. Era ele um dos raros que antes de dizer a interdisciplinaridade a praticava. Numa Universidade como a nossa, divorciada da cultura, do universalismo e do humanismo, Bairrão Ruivo é um exemplo de resistência.
Quem, hoje, tem coragem para segui-lo?

O pensamento
A ausência física irreversível transporta-me para a presença imaterial, mas viva e legada, de Bairrão Ruivo: o seu pensamento. Leio três textos, retiro três lições.
Primeiro texto, 1969: “Contribuição do Prof.Zazzo … para o estudo da debilidade mental”.
Lição: na senda do seu mestre Zazzo, adverte: a técnica é um meio provisório, aplicada sem fundamentação teórica envolve dois perigos, o fetichismo e a tecnocracia.
Segundo texto, 1974:”…Problemas de Epistemologia da Psicologia”
Lição: “O psicólogo deverá interrogar-se com insistência sobre a ciência que pratica. Ai dele se não o fizer!” Que acontece? Corre “o risco de actuar sem sentido”.
Terceiro texto, 1992: “A perspectiva Ecológica em Psicologia da Educação”
Lição: a psicologia actual é chamada à construção de uma “nova teoria social do conhecimento e de um pragmatismo científico que conduza à solução dos graves problemas que se põem à humanidade”.
Muitas outras lições podem e devem ser retiradas dos escritos do Professor Bairrão. Quem vem visitá-lo na sua doação intelectual?

A memória
As nossas conversas, sem conto ao longo dos 20 anos de trabalho na mesma universidade, rapidamente descolavam da especialidade de cada um de nós e da epistemologia regional para as questões gerais do conhecimento e do método científicos. A, infelizmente, última ocorreu entre Campanhã e Santa Apolónia. Foi há 9 meses. Desta vez, centrámo-nos nas implicações das neurociências cognitivas para as ciências do comportamento. Encontrei Bairrão Ruivo, Professor Emérito de Psicologia, aluno de “master” em Biologia na Open University! Apesar da doença!
Quem poderá esquecer tão raro desejo de habitar na morada do saber e da ciência?

____________________________________
* Professor na Faculdade de Direito da Universidade do Porto


24.1.08
 
Morreu um Pioneiro, um Mestre e um Amigo
Teresa Vasconcelos*

Seu nome é o abraço
Profundo que nos liga[1]

Desde há largos anos que Joaquim Bairrão era uma referência, não apenas no campo da educação especial e da intervenção precoce, mas no campo global da educação de infância. É sobre o seu contributo para o desenvolvimento da educação de infância em Portugal que me irei debruçar. Não conseguirei ser muito objectiva. Primeiro porque estarei falando de um grande Amigo, uma referência fundamental no meu percurso profissional, de um mentor. Depois, porque me estarei referindo a um verdadeiro companheiro de jornada, nomeadamente quando fui Directora-Geral da Educação Básica entre 1996-99 e, posteriormente quando desenvolvemos o Grupo de Estudos para o Desenvolvimento da Educação de Infância de que ele foi o primeiro Presidente. Foi membro do Conselho Consultivo do Gabinete para a Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar (1996-99), por mim coordenado, tendo, nessa qualidade, dado pareceres de extrema importância para o processo de expansão, nomeadamente quanto à Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar e à legislação sobre intervenção precoce.

Coisas tão subtis se elevam
E se tornam visíveis1

Falar sobre o contributo desenvolvido por Joaquim Bairrão no âmbito da educação de infância, é descrever um trabalho pioneiro. Muito antes de o poder político tornar a expansão e o desenvolvimento da educação pré-escolar uma prioridade sua (a partir de 1995), Joaquim Bairrão desenvolvia no Porto, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, um conjunto de estudos nacionais e internacionais (International Educational Achievement Preprimary Project; European Childhood Care and Education Project, etc.) alertando para a importância estratégica da educação pré-escolar como modo de colmatar as desigualdades sociais, intervir precocemente no desenvolvimento da criança, garantir a qualidade dos serviços prestados. Estes estudos forneceram dados fundamentais que permitiram a elaboração do Relatório Nacional que levou a que Portugal fizesse parte do estudo comparativo internacional da OCDE sobre “Educação e Cuidados para a Infância”. Os seus estudos sobre a qualidade das instituições pré-escolares foram pioneiros, tendo sido divulgados por todos os educadores portugueses no sentido de os incentivar a subir o nível de qualidade dos respectivos estabelecimentos que, pela qualidade então considerada média (72%), não conseguiam ter impacto significativo no desenvolvimento ulterior das crianças, sobretudo das mais carenciadas.
No fim desta viagem
De um tempo
A outro tempo. 1

Joaquim Bairrão deixa um grande vazio. Foi exemplar académico, grande lutador, um homem de visão. Tinha aquilo a que Alvin Toffler chama uma “visão de avião”: distanciada, prospectiva, que antecipava o tempo. Talvez pelo facto de, em tempos, ter sido aviador, e lhe fizesse tanta falta voar. Voou para uma dimensão que desconhecemos e não iluminamos. Mas deixou uma esteira de luz e pegadas fortes neste país, neste chão. Por isso, por muito que nos doa a sua ausência, ouso dizer que ele está presente.

___________________________________________
*Professora na Escola Superior de Educação de Lisboa

1 Versos do poema “ A Viagem” – Mª Isabel Barreno

23.1.08
 



 
JOAQUIM BAIRRÃO: um teórico forçado à prática?
Júlia Serpa Pimentel* e Isabel Felgueiras**


Em Junho de 2003, Joaquim Bairrão escrevia, sobre si próprio, a seguinte interrogação há dias encontrada: “um teórico forçado à prática ou um prático forçado à teoria?”. Esta dúvida retrata bem o Joaquim Bairrão que aqui é recordado.

Nascido em 1935, a sua formação universitária iniciou-se com a Licenciatura em Filosofia pela Universidade de Lisboa que conclui em 1964. Logo que termina a sua tese, intitulada “Aspectos Psico-sociais da Motivação”, já na área da Psicologia, vai para Paris como bolseiro da Fundação Gulbenkian, onde obtém o “Diplôme d’Etudes”, no “Institut de Psychologie - Université de Paris» (1967). Em 1977, faz o Doutoramento em Psicologia na Universidade de Paris – Nanterre, sob a orientação de Zazzo. A sua incessante busca do conhecimento científico e as inquietações filosóficas e epistemológicas marcaram a sua vida profissional em que se assumiu como “eterno aprendiz”, faceta sobre a qual Emílio Salgueiro, psicanalista, diz: “O último grande interesse científico do Joaquim Bairrão foram as ‘neurociências’. Jubilado pela Universidade do Porto, inscrevera-se prontamente numa pós-graduação da “Open University” do Reino Unido, centrada neste tema: a irrequietude mental do Joaquim Bairrão impedia-o de estar ‘parado’, ‘desocupado’, muito tempo. Seguia, dir-se-ia religiosamente, as ‘lições’ vindas regularmente pela Internet… No fim de cada módulo prestava as necessárias provas de proficiência quanto ao aprendido, o que fazia sempre com alguma apreensão, como se dependesse da ‘nota’ obtida um reforço vital para a auto-estima do Joaquim-Bairrão-adolescente, que se mantinha bem vivo dentro dele”.

Em 1967, regressado a Portugal, cria o Centro de Observação Médico-Pedagógico (COMP) a convite do Ministério da Saúde e Assistência, deixando para trás o desafio de Zazzo para permanecer em Paris. Maria Belo, hoje psicanalista, a primeira psicóloga a integrar o COMP, relembra: “Bairrão Ruivo, que se formara em Paris, fora o primeiro psicólogo português a ter voltado para Portugal para exercer como tal. Ficou para todos nós, até pela sua forma de estar, como o percursor. Era inteligente, líder e rigoroso no seu trabalho. Mas tinha também a contradição interna de quem viu e aprendeu com a Europa, mas é genuinamente português. Fomos muitos a sofrer desse mal”.

Entre 1968 e 1992 dirige essa instituição, com prestígio nacional e internacional pelo trabalho relevante na avaliação e intervenção com crianças e jovens com necessidades especiais e suas famílias. Joaquim Bairrão foi pioneiro ao introduzir a dimensão interdisciplinar na equipa que formou, integrando psicólogos, médicos pediatras e pedo-psiquiatras, enfermeiras, assistentes sociais, educadoras, professores e terapeutas, recorrendo também à consultadoria de especialistas de reconhecido mérito nas áreas da neurologia, genética, oftalmologia e otorrinolaringologia.

O COMP/COOMP/DSOIP (Centro de Observação e Orientação Médico-Pedagógico, mais tarde Direcção de Serviços de Orientação e Intervenção Psicológica) foi, para muitos, local privilegiado de aprendizagem: pela atitude de permanente questionamento das práticas e pela constante actualização de conhecimentos que Joaquim Bairrão exigia e proporcionava, através de contactos regulares com especialistas estrangeiros. Jorge Vala, hoje investigador no Instituto de Ciências Sociais, salienta: “Quando, há muitos anos, cheguei ao COOMP para estagiar, não procurava formação num campo de intervenção específico, mas um ambiente de estímulo intelectual e de formação na pesquisa. O COOMP foi talvez o primeiro centro de investigação em Psicologia no nosso país. Um centro de estudo, de criação, de produção teórica e de apoio à intervenção. Bairrão havia sido meu professor e com ele aprendi o essencial num processo de investigação: inquietação intelectual e rigor no teste de hipóteses”. De facto, a “prática” não bastava para contentar o espírito inquieto de Bairrão que cedo iniciou, no COOMP, trabalhos de investigação pioneiros na área da Deficiência Mental, das Crianças em Risco, da Intervenção Comunitária e da Intervenção Precoce.

Maria da Graça Andrada, médica especialista em desenvolvimento e reabilitação pediátrica, recorda a colaboração que mantiveram no âmbito da Sociedade Portuguesa para o Estudo Científico da Deficiência Mental: “Trabalhámos juntos com a Professora Levy e outros membros, constituindo uma equipa multidisciplinar … procurando encontrar uma linguagem comum e aprofundar os conhecimentos nas neurociências, neurodesenvolvimento e psicologia do desenvolvimento. Lembro com saudade os “Encontros Nacionais de Educação Especial” e a “Revista do Desenvolvimento da Criança” … onde a sua presença, o seu saber e a sua experiência foram imprescindíveis. Tinha um grande coração que acabou por o trair. A Medicina tem destas incongruências.”

Ao recordar a evolução da justiça de crianças/jovens e de família em Portugal e reportando-se à década de 70, Armando Leandro, Presidente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, salienta Joaquim Bairrão e João dos Santos entre aqueles que “… mais influência tiveram no desenvolvimento de uma cultura de transdisciplinariedade no diagnóstico das situações humanas que se colocam a essa justiça … Com naturais repercussões na postura de vários dos agentes com responsabilidades no suporte e na aplicação dessa justiça…” Diz ainda: “Com a emoção da imensa saudade, recordo a lição… quando, em Maio de 2007, anuiu generosamente a proferir, em Évora, uma conferência…que teve como tema «Educação. Um direito, uma responsabilidade». Experimentei o mesmo encantamento com que, 30 anos antes, ouvia, como juiz, as suas sábias explicações acerca dos fundamentos dos diagnósticos e propostas de intervenção da distinta equipa que dirigia sobre as situações de crianças e jovens e famílias que reclamavam a nossa atenção e decisão”.

Também Luís de Miranda Correia, Professor Catedrático na Universidade do Minho recorda “… o professor, o cientista, o colega, com o qual nem sempre estava de acordo, mas por quem nutria a maior consideração e admiração. Sinto profundamente a sua partida, embora esteja certo que as lições que nos deu, nas mais diversas áreas da vida, constantemente com um sorriso contagiante e uma muito forte determinação, permanecerão para sempre entre nós”.

Iniciou em 1979 a sua carreira como docente e investigador na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto donde se jubilou em 2005, sendo, à data da sua morte, Professor Emérito. Salienta-se a criação do 1º Mestrado em Intervenção Precoce em Portugal e a direcção de vários projectos nacionais e internacionais no âmbito da educação pré-escolar, qualidade dos contextos educativos, interacções da criança em contexto familiar e de creche e intervenção precoce, cujas conclusões contribuíram para a tomada de decisões a nível de políticas educativas.

Invocando o seu papel como mentor de projectos de investigação e de intervenção e como professor, os seus colaboradores mais directos na FPCE-UP realçam: “sempre incutiu à equipa a ideia firme de rigor científico associada à convicção de que o Homem pode mudar a realidade e que as condições necessárias para tal mudança se radicam na partilha de saberes entre os membros da comunidade tanto civil como científica… Distinguiu-se pela constante procura de ideias e de projectos inovadores, estimulantes e promotores de mudança em que sempre envolveu toda a sua equipa, motivando-a e desafiando-a através de calorosas discussões e do seu particular sentido de humor”.

Ana Serrano, Professora Auxiliar na Universidade do Minho, recorda-o na sua luta em torno da Intervenção Precoce: “Foi sempre persistente na defesa dos direitos das crianças em risco, e, apesar do seu problema de saúde, esteve sempre empenhado nas reuniões com responsáveis do governo, no debate sobre as nossas preocupações face à nova legislação da Intervenção Precoce. Para mim ele será sempre uma referência histórica nesta área”.

Integrava o “Transatlantic Consortium in Early Intervention”, constituído em 2002 por investigadores de sete universidades da Europa e EUA, com uma vertente de ensino e investigação pós-graduada (Mestrado Internacional em Intervenção Precoce) que, através do intercâmbio de docentes e discentes, fomentou o conhecimento científico e práticas de excelência.

R. Simeonsson, membro do Consortium, ao ter conhecimento da sua morte, escreveu: “Joaquim Bairrão tocou as vidas de todos os que o conheceram e de muitos que não o conheceram … a sua presença permanece connosco nas suas diferentes facetas - defensor activo das crianças, professor dedicado, “sábio” filósofo, investigador inquieto, mentor atento dos seus alunos e, acima de tudo, amigo generoso… A sua visão era ampla, o que levou os seus colegas internacionais a concederem-lhe o título de “ Distinguished Transatlantic Professor”. O seu caloroso afecto e simpatia são inesquecíveis para todos quantos com ele mantiveram uma amizade duradoura…”

Autor e co-autor de numerosas publicações em língua portuguesa e inglesa, recebeu em 1994 o Prémio APPORT de Reconhecimento na área da Psicologia, e em 1998 foi agraciado pelo Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de “Grande Oficial da Ordem de Mérito”.

Para além da sua carreira científica, de que aqui se fez um brevíssimo resumo, a sua faceta de conversador e contador de histórias deixa, em todos os que com ele conviveram mais de perto, uma enorme saudade, que leva E. Salgueiro a escrever: “… sentia-se doente e em risco de morte, mas o prazer em estar vivo e em apreciar tudo o que de bom a vida continha, levou-o a aceitar o último desafio da ‘transplantação cardíaca’, cujo resultado funesto o impediu de continuar a construir projectos vivos de aprofundamento do saber e nos deixou, a todos, tristes e mais pobres. Recordemos o Joaquim Bairrão bem vivo, com o seu bom humor e a sua curiosidade inesgotável, e lembremo-nos do muito que ganhámos em o termos conhecido e beneficiado da sua amizade”. No seu Jubileu, José Alberto Correia, chamou-lhe “Electrão Livre”. De facto, as convicções, princípios e valores por que sempre lutou tornaram-no, em muitas circunstâncias, “incómodo” ao poder científica ou politicamente instituído. Também por isso vai fazer falta

______________________________________________
*Psicóloga e Professora no Instituto Superior de Psicologia Aplicada
**Psicóloga e Chefe de Divisão no Instituto Nacional para a Reabilitação

22.1.08
 



No JL de 22 de Novembro de 2006, Joaquim Bairrão, preocupado e “inquieto” com as medidas de política que estavam a ser tomadas - numa área que sempre constituiu um dos seus interesses e preocupações - participou nas páginas das Inquietações Pedagógicas com o texto “Mayday, mayday Intervenção Precoce”. Esse texto que recordamos e os depoimentos e relatos que aqui hoje se publicam, constituem um testemunho da sua determinação, coragem e resistência - “incómodo” ao poder científica ou politicamente instituído -, a sua curiosidade inesgotável e permanente preocupação de rigor científico e de aperfeiçoamento – aos 72 anos era aluno de “master” em Biologia na Open University – e a sua clara opção por uma cultura de transdisciplinariedade no diagnóstico e abordagem das questões - era um dos raros que antes de dizer a interdisciplinaridade já a praticava!
Publicado no Jornal de Letras - Educação 16 de Janeiro de 2008

16.1.08
 
Sísifo
A Unidade de I&D de Ciências da Educação acaba de editar a versão portuguesa do quarto número da Sísifo. Revista de Ciências da Educação, subordinado ao tema:

Conhecimento, decisão política e acção pública em educação (que pode consultar no seguinte sítio web:
http://sisifo.fpce.ul.pt/)

Aa versão em inglês ficará disponível a partir do dia 21 deste mês.

Está também disponível a versão completa do número 3 da Sísifo (para download e/ou impressão).

_________________________________________________________________________________
Responsável Editorial deste número: Luís Miguel Carvalho

Dossier temático (Conhecimento, decisão política e acção pública em educação):
João Barroso, Luís Miguel Carvalho, Madalena Fontoura e Natércio Afonso
As Políticas Educativas como objecto de estudo e de formação em Administração Educacional
José Hipólito Lopes As Autonomias Imaginadas. A Autonomia como referencial da acção pública em educação
César Rufino Avaliação interna das escolas e circulação de políticas públicas num espaço educacional europeu
Graça Maria Jegundo Simões A Auto-avaliação das escolas e a regulação da acção pública em educação
Estela Costa Contributos para uma análise cognitiva da política de avaliação de professores
João Carlos de Matos Ribeiro A construção do papel do Presidente da Escola na regulação local das políticas públicas de educação
Clara Freire da Cruz Conselhos Municipais de Educação. Política educativa e acção pública
Carlos Pires A Construção de Sentidos em Política Educativa. O caso da Escola a Tempo Inteiro
João Macedo Faria A Vez e a Voz dos Pais. O associativismo parental em tempo de governança
Carla Cibele FigueiredoRedes sociais e políticas. O papel dos pais na genealogia das políticas públicas de educação sexual
Ana Pina A Imprensa Escrita e a Mediatização das Políticas Educativas

Recensões:
Fátima Antunes
Recensão da obra “A Regulação das Políticas Públicas de Educação: espaços, dinâmicas e actores”, de João Barroso [org., 2006, Lisboa: Educa/Ui&dCE]

Conferências:
Jean-Louis Le Moigne
Inteligência da complexidade. Os objectivos éticos da investigação e da intervenção em educação e formação não remetem para um “novo discurso do método de estudo do nosso tempo”?
Bernard Charlot Educação e Globalização. Uma tentativa de colocar ordem no debate

Outros artigos:
Ortenila Sopelsa
O ensinar e o aprender no Ensino Fundamental. Um movimento interativo com a pesquisa

15.1.08
 
Analfabetismo e abandono escolar
Uma escola na margem sul do Tejo, numa zona rural, bem perto de Lisboa e dos territórios de que tanto se tem falado a propósito do futuro aeroporto, fez um levantamento sobre necessidades de alfabetização.

Nesse levantamento foram identificados nove jovens com menos de trinta anos, sem a antiga quarta classe.
Esta é uma situação absolutamente inaceitável que aquela escola está a tentar remediar, através de um processo de alfabetização.

A escola portuguesa não pode continuar a produzir analfabetos fruto da sua incapacidade para integrar todas as crianças e jovens em processos educativos.

Na mesma escola há um grande número de jovens inscritosno 2º e 3º ciclos do ensino básico, absolutamente desmotivados, com múltiplas repetências, e para quem o futuro não passa pela educação e formação . Hoje apesar de ser mais difícil o abandono da escola, o perigo ainda existe, se não for assumido um combate activo e novos métodos de aprendizagem e apoio..

O abandono escolar é um dos elementos da pobreza cultural que, infelizmente, ainda nos atinge de modo grave, e que é necessário ultrapassar quanto antes.
As estatísticas estão a melhorar, mas esse progresso não dispensa o empenhamento de todos e uma vigilância que não pode abrandar.
Ana Maria Bettencourt

14.1.08
 

R, aluno de etnia cigana (continuação), segundo a Directora de Turma

É uma história de sucesso, de alegria e mesmo de momentos de muita felicidade que R viveu na minha escola, no seio da "minha" turma, ele próprio um dos meus meninos ...

Recordo o seu sorriso, os seus olhos lindos e meigos, o seu empenho, as suas desculpas para a não realização dos trabalhos de casa ..."Ó stora, a Manuela, a minha irmã, riscou-me tudo!" Conheci a Manuela e enquanto falava com os pais de R. ela riscou-me vários papéis. Era verdade!
A Manuela, também ela ansiava pela escola, aceder ao saber, quiça a uma nova vida! Deve estar próxima do 1º ano, mas para ela o contacto com a escola, com a sociedade em geral, ainda vai ser mais curto. Condição de mulher cigana!

O desfecho está traçado, o fado assim o dita!
A barraca, a feira, a fogueira ...

Lá bem no fundo do seu coração de menino haverá sempre uma recordação feliz da escola ... dos colegas ... das visitas de estudo que fez ... e talvez da DT.

Ana Santos

10.1.08
 
O Currículo e o Governo da Infância na Crise da Modernidade
O currículo e o governo da infância na crise da modernidade

A Ui&dCE e o Curso de Formação Avançada em História da Educação convidam a assistir ao simpósio O currículo e o governo da infância na crise da modernidade, a realizar no próximo dia 1 de Fevereiro, nas instalações da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

1 Fev 17h Anfiteatro da FPCE-UL
Conferências_
Cosmopolitanismo, Currículo e Reformas do Ensino. A construção da sociedade através da construção da criança
Thomas S. Popkewitz

Crise da modernidade e inovações curriculares: da disciplina para o controle
Alfredo Veiga-Neto

Comentários_
António Nóvoa
Jorge Ramos do Ó

8.1.08
 
(Re)Inventando lideranças:Género Educação e Poder
A Fundação "Cuidar O Futuro" e a Rede "Mulheres e Liderança" vai organizar um Simpósio Internacional (RE)INVENTANDO LIDERANÇAS:GÉNERO, EDUCAÇÃO E PODER.

A parte I do Simpósio é já no dia 11 de Janeiro às 17.00, na UniversidadeAberta (Lisboa), com uma Conferência-Desafio por Rosiska Darcy de Oliveira(Presidente do Centro de Liderança da Mulher, Rio de Janeiro) sobre"Mulheres e(m) Liderança: Género, Educação e Poder" - entrada livre.

A parte II do Simpósio realiza-se no Porto na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, com um conjunto diversificado de painéis sobre a questão das mulheres e da liderança. Inscrição e contactos para mais informação sobre a 2ª parte do simpósio: mailto:liderancas@gmail.com

7.1.08
 
R, Jovem de Etnia Cigana
Há pouco mais de um ano entrevistei em Vialonga R, aluno de etnia cigana que completava nessa altura o 9º ano de escolaridade. Tinha então quinze anos e razoáveis classificações. Sabia que queria completar o ensino básico, essencial para tirar a carta de condução, indispensável "na vida de um cigano".
Dizia-me que a escola lhe tinha dado tudo, falava com entusiasmo das aprendizagens realizadas nas aulas e no centro de recursos, da Internet, da Directora de Turma que muito o tinha apoiado evitando que abandonasse a escola, e regozijava-se com o facto de já não ser um analfabeto. Lembro-me de o ver nos intervalos perfeitamente integrado no seio dos colegas, contente por estar na escola.
Hoje foi um R triste que encontrei, que abandonou a escola após concluir o 9º ano, que tudo o que espera da vida é um casamento, marcado para breve, com uma prima, também cigana, quase analfabeta, a vida numa barraca e a participação no negócio agonizante da feira.
O círculo fechado em que vive agora, isolou-o dos colegas e do mundo que conheceu até ao ano passado.
Os amigos de então ficaram para trás. Já não apareceu no encontro de Natal que reuniu todos os colegas com a Directora de Turma.
Depois de uma longa conversa com R e com o pai, despedi-me de pessoas muito tristes, porque estão na eminência de perderem as barracas em que vivem e que lhes permitiram alguma estabilidade de vida e a frequência da escola ao R e irmãos.
Seria importante que a Segurança Social e as autarquias conseguissem contribuir para uma integração social satisfatória destas pessoas. Não faz sentido que continuem a viver em barracas, mas não é possível "olhar para o lado" arrancando estas pessoas da terra em que conseguiram pela primeira vez uma vida com alguma segurança para as crianças.
Expulsá-los será contribuir para o reforço dos guetos em que vivem e da absurda socialização das crianças e jovens nesses guetos, afastando-as de processos educativos em que com grande esforço dos educadores se têm vindo a integrar e desenvolver satisfatoriamente.
Nas escolas portuguesas para além dos apoios indispensáveis a uma integração que oferece grandes dificuldades, seria importante que a orientação escolar apoiasse os jovens de etnia cigana na construção e consolidação da sua identidade vocacional e de projectos de vida autónomos.
Ana Maria Bettencourt

6.1.08
 
A propósito da formação e da inovação
A pedagogia das inovações e o seu acompanhamento são essenciais para que sejam bem aceites pelas escolas. A formação de professores pode desempenhar um papel decisivo, se for inserida no contexto. Se ajudar os professores a identificarem problemas e a encontrarem soluções. Diz Philippe Meirieu ..."O corpo docente não aceita uma inovação se não compreender que se trata de um instrumento para fazer avançar o sistema. Para aceitar fazer parte da solução, é preciso aceitar fazer parte do problema. E, para fazer parte do problema , é preciso fazer parte integrante do projecto.
As pessoas que não compreenderam que existem problemas, que estes problemas estão ligados a ambições, que estas ambições são assumidas por uma sociedade extremamente exigente em relação ao sistema educativo, viverão as inovações institucionais como um entrave à sua liberdade individual ou ao seu conforto pessoal"...
AMB

5.1.08
 
As autarquias, a integração educativa e o jogo do empurra.
Todos sabemos como a integração das crianças de etnia cigana na escola é difícil e encontra como obstáculos, preconceitos culturais e o facto da educação escolar não fazer parte dos projectos que as famílias têm para os seus filhos. É confrangedor ver crianças que aos 7, 8, 9 anos não sabem pegar num lápis e jovens com capacidades demonstradas abandonarem a escola para casarem precocemente ou irem trabalhar sem a idade legal para o fazer....(factos que constituem claros atentados aos Direitos Humanos). Apesar das dificuldades, existem por este país fora algumas experiências de integração na escola bem sucedidas, que representam um enorme esforço da parte dos professores e responsáveis por esses projectos.
É um destes projectos que está em curso no agrupamento de escolas de Vialonga, onde uma população escolar em situação de abandono do 1º ciclo está, através de um projecto especial, a ser integrada com sucesso na escola e a aprender. O projecto abrange igualmente um grupo de crianças do pré-escolar.
Os pais de grande parte destas crianças foram agora avisados que de que as suas habitações, ilegais, vão ser destruídas na próxima semana, deixando-os na rua.
A GNR fará o papel a que é obrigada.
Os pais são candidatos a alugar casas pagando-as, mas os senhorios não aceitam as suas candidaturas.
Provavelmente terão de abandonar aquela zona, levando as crianças, uma vez mais, para situações de abandono e exclusão educativa e social.
Perante a indiferença de muitos, dirigiram-se à escola, a instituição que até agora consideram ter resolvido muitos problemas das crianças.
É um bom sinal que a escola seja considerada como um interlocutor.
Mas a escola fica com a angústia, pouco podendo fazer. Tem ajudado, falando com quem pode intervir.
Há sobretudo a considerar em casos como este o papel da autarquia, que não pode ser indiferente e tem de ser o mediador e a entidade que encontra soluções para estes dramas, articulando esforços dos várias intervenientes no processo.
Uma autarquia, ainda para mais de maioria socialista, tem de estar disponível para ouvir os pobres e os excluídos. Para articular esforços e encontrar soluções.
É este o único caminho aceitável.....para uma responsabilidade social pela integração e educação em que todos os esforços nunca serão demais. Essa responsabilidade social, alargada, pela educação e integração das crianças e dos jovens, é um traço distintivo do funcionamento dos países nórdicos .
Esperemos que o jogo do empurra tão característico do nosso país não se instale também neste caso.....
Ana Maria Bettencourt

3.1.08
 
ANO NOVO...O INVESTIMENTO E O MANDATO DA ESCOLA
Nos últimos anos, Portugal tem vindo a interrogar-se sobre os frutos do esforço de investimento na Educação. Passámos de uma etapa em que se considerava, de forma generalizada, que o problema da educação residia na falta de investimento, para uma outra etapa em que se aponta para problemas de funcionamento.

Alguns procuram encontrar, de modo simplista, bodes expiatórios, nos professores ou na acção do Ministério da Educação.

Considero que não é o investimento em educação que está em causa mas o modo como se entende o mandato da escola e como esta o gere, a passagem de parte significativa da responsabilidade pelo que se aprende da família para a escola e para as equipas compostas de professores e outros profissionais. O que exige mudanças profundas ao nível da organização, da pedagogia, e sobretudo da capacidade de a escola apoiar os alunos.
Para que estes trabalhem mais e aprendam a fazê-lo na própria escola.

Parece haver consenso em torno da ideia de que é preciso que os alunos da escola pública trabalhem mais. Mas enquanto uns consideram que esse trabalho tem de ser realizado em casa (ou nas explicações), para outros, a evolução da população escolar /democratização do acesso obriga a que seja realizado, em grande parte, na escola, sob pena de não existir.

Há uns tempos, numa reunião internacional promovida pelo Conselho Nacional de Educação, uma professora norueguesa contou como, no seu país, se passou de uma fase de grande perplexidade - como era possível que o país com um dos maiores investimentos em educação apresentasse resultados insatisfatórios nos testes internacionais? - para uma fase de questionamento e pesquisa de novas formas de organização e trabalho com os alunos.

Em Portugal deram-se passos significativos para que a escola pública pudesse ser mais eficaz. Aumentou-se o investimento, melhoraram-se os equipamentos, caminhou-se para a estabilização dos professores nas escolas, sem a qual não havia qualquer hipótese de aumentar a responsabilidade pelas aprendizagens. Mas a estabilidade, sem uma organização que garanta a continuidade pedagógica, o funcionamento em equipa, a reflexão conjunta e a procura de soluções para os problemas de aprendizagem dos alunos, não trará os frutos que dela se esperam.
Uma organização em que o tempo dos professores seja mais rentabilizado, estes se sintam mais realizados, e os alunos trabalhem mais e sejam mais apoiados na própria escola.

Que o Ano Novo permita novas dinâmicas e melhores resultados para todos!

Ana Maria Bettencourt