Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

31.7.06
 
Sobre a importância da discriminação positiva


Uma orquestra de violinos em Vialonga

Os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), lançados em 1996, - Despacho 147-B-ME-96- inserem-se na linha de outros projectos desenvolvidos em Portugal e noutros países da Europa, visando a integração social e educativa de crianças de meios desfavorecidos.
São projectos de discriminação positiva que visam afectar mais recursos a zonas em que as taxas de exclusão são maiores.
Porque ressuscitar agora o debate sobre este projecto já velho, dirão alguns?
· Porque é necessário debater a importância da discriminação positiva como estratégia para actuar em zonas deprimidas e combater a exclusão. Seria bom que os melhores professores, pudessem escolher as escolas situadas em meios sensíveis e tivessem os meios necessários para trabalhar com êxito.
· Porque os TEIP tiveram a triste sorte da maioria das inovações em Portugal: são lançadas sem qualquer estratégia consistente e sem acompanhamento, formação e avaliação que permita ir corrigindo os erros e tirar partido destes projectos para ir mudando o sistema. Hoje existem dúvidas sobre se ainda estão em vigor, por isso é importante falar deles ou pelo menos da necessidade de estratégias deste tipo.
· Porque existem experiências muito positivas graças às condições de estabilização do pessoal docente, ligação entre ciclos do ensino básico e meios suplementares que os TEIP permitiram.
Trago aqui hoje uma delas: recentemente assisti no TEIP de Vialonga a uma exibição da orquestra de violinos. Vialonga soube gerir bem o projecto e os meios que obteve em virtude da existência de um TEIP. A orquestra é um projecto de excelência que está a permitir descobrir vocações musicais e desenvolver competências essenciais à integração das crianças. Alguém me dizia que se não fosse a existência daquele projecto na escola pública, aquelas crianças nunca teriam tido oportunidade de estarem tão felizes e realizadas. Invocando António Damásio sobre a importância do ensino artístico, não tenho dúvidas em afirmar que aquelas crianças vão aprender melhor nas diferentes áreas do saber. Tenho a certeza de que para além disso, a orquestra de violinos em Vialonga será um meio que contribuirá para impedir a formação de guetos.
Parabéns a Vialonga e ao agrupamento por mais este interessante projecto, entre muitos que desenvolvem.

Ana Maria Bettencourt

25.7.06
 
Provas de Aferição
Foi ontem anunciado na imprensa, rádio e televisão a intenção do ME de introduzir no próximo ano lectivo provas de aferição para os alunos dos 4º e 6º anos de escolaridade.

A notícia foi dada como se de uma novidade se tratasse e os comentários de sindicatos e das associações de pais foram no mesmo sentido. Mas, na realidade, não se trata de uma novidade: em 2000 foram introduzidas, aí sim, pela primeira vez, as provas de aferição a Português e Matemática para todos os alunos do 4º ano de escolaridade. No ano seguinte, o mesmo aconteceu no 6º ano de escolaridade, tendo-se repetido as provas também no 4º ano. Posteriormente, e até 2005, passou-se a aplicar as provas a uma amostra de alunos daqueles anos, dado os custos de generalização das provas serem muito elevados e se ter entendido que, enquanto provas de aferição da qualidade do ensino-aprendizagem a sua aplicação por amostragem ser suficiente.

O problema é que o tratamento dos resultados das provas foi muito demorado e a sua devolução às escolas por demasiado tardia acabou por quase não ter efeitos. Porém, a análise dos resultados acumulados ao longo dos anos mostrou consistência relativamente às dificuldades apresentadas pelos alunos em Português e em Matemática:dificuldade de realização de inferências e de identificação de funções sintácticas; dificuldades de raciocínio e de resolução de problemas.

Passaram-se seis anos, os resultados têm mostrado uma enorme consistência, mas nada mudou...Importa que a avaliação tenha consequências, que seja acompanhada por estratégias de intervenção, caso contrário só servirá para nos continuarmos a deprimir!

Teresa Gaspar

24.7.06
 
O Exame dos Exames
Como a Teresa Gaspar (ver post) também vi o debate parlamentar que decorreu a 20/7 sobre os exames do secundário e não gostei. É muito pertinente a defesa que faz da necessidade de se pensar seriamente a adequação dos exames.
O enredo curricular, em que estamos é, a meu ver, responsável pela situação criada, de difícil explicação. Nestas circunstâncias, não estou muito convencida de que houvesse outra solução mais adequada. Mudar o que estava pior e era injusto, num contexto em que ao que parece quase tudo estava mal, era obviamente discutível, mas um caminho possível.

A explicação dada revelou fragilidades mas, pior ainda foi o comportamento de grande parte da oposição parlamentar, que adoptou um figurino que raiou em muitos casos a má educação. É confrangedor como a intervenção parlamentar, se situa à margem do conhecimento e do debate de grande parte das questões essenciais para fazer avançar um sector decisivo para o país. Naquele exame sobre os exames ficaram a perder os jovens, e, ao contrário do que se diz com base em parâmetros de avaliação mais do que discutíveis, ninguém ganhou.

Agora que se defende cada vez mais uma avaliação para todos, seria bom que o trabalho parlamentar também fosse avaliado, por critérios que contribuíssem para a democracia e para a recuperação, que considero essencial, da imagem do Parlamento. Habituámo-nos a avaliar o estilo e o jeito dos protagonistas, mas não chega....
Acredito que o Parlamento poderia dar um contributo decisivo numa perspectiva de fiscalização, conhecimento e construção de soluções visando a melhoria da educação, mas não o fez naquele dia, nem o tem feito.

Ao contrário, tem permitido a quase clandestinidade das reformas curriculares por exemplo e a criação de efémeras agendas mediáticas que não contribuem para criar mais qualidade e equidade na educação. Seria bom que a AR ajudasse por exemplo a conhecer as dificuldades e obstáculos que encontram escolas e professores, para melhorar os seus resultados, e que discutisse que passos podem ser dados para os ultrapassar, de que modo as reformas, as medidas tomadas e as experiências e esforços de muitos professores e escolas contribuem para os ultrapassarem.


Ana Maria Bettencourt

21.7.06
 
A propósito dos exames
Estive ontem a ver na televisão o debate no Parlamento com a ministra da Educação sobre os exames. O argumento principal da ministra é que a possibilidade dada aos alunos de repetirem os exames de Física e de Química visa colocar em pé de igualdade os alunos que pela primeira vez tiveram contacto com a matriz dos testes nestas disciplinas com aqueles que realizariam o exame na 2ª fase e como tal beneficiavam do conhecimento do tipo de prova que saiu na 1ª fase...Curta justificação esta que parece fazer dos testes da 1ª fase as provas modelo que o ministério não facultou durante o ano aos alunos e professores!
Entendo que os exames são importantes instrumentos de aferição dos processos de ensino-aprendizagem. Nessa medida, a construção dos testes não pode ser um exercício teórico e cego das orientações prescritas nos programas sem qualquer ligação com as práticas pedagógicas, com o currículo efectivamente aplicado, ainda mais quando as escolas e os professores dão os primeiros passos na aplicação de novas orientações curriculares que não foram testadas, não foram objecto de acompanhamento nem de formação.
Para além dos exames de 12º ano, cujo dramatismo é bem patente por comprometer o prosseguimento de estudos de muitos milhares de alunos, a mesma questão se coloca nos exames de 9º ano, particularmente na prova de Matemática. Construída exclusivamente na lógica da aplicação do raciocínio matemático à resolução de problemas e sabendo nós que as práticas de ensino nesta disciplina são ainda muito centradas na aquisição das estruturas operativas essenciais, a prova exige um nível de conhecimentos e de capacidade de raciocínio que pouco tem a ver com as aprendizagens realizadas pelos alunos.
Penso que esta desadequação entre os testes e as práticas pedagógicas é profundamente negativa, em primeiro lugar para os alunos que sofrem sucessivas experiências de insucesso, mas também para os professores cuja competência profissional é posta em causa pelos sistemáticos maus resultados. Mas é sobretudo um sinal da doença de que enferma a nossa atribulada política curricular!

Teresa Gaspar

20.7.06
 
Quality Assurance in teacher Education in Europe

19.7.06
 
A ESCOLA FAZ-SE COM PESSOAS
É este o título do livro do Pascal Paulus, uma edição recentíssima da profedições, com prefácio de Rui Canário. É um livro dedicado "às meninas e aos meninos a quem se nega a democracia e os direitos de cidadania, dentro e fora da escola". Começa por ser uma biografia : o Pascal Paulus fala-nos da sua infância e da sua família na Bélgica, dos "momentos que o marcaram", do seu "período português". Depois é um diário, um diário das suas aulas, um "diário de bordo" escrito "durante o primeiro ano de trabalho na Outurela e Portela" (1999 - 2000). Segue-se uma reflexão crítica e uma proposta : "Uma outra educação é possível" !

Como diz Rui Canário : "Os professores falam e escrevem pouco. Este livro é um contributo importante para conhecer a nossa realidade escolar e compreender o que pode ser o exercício competente e rigoroso do ofício de professor".

Maria Emília Brederode Santos

15.7.06
 
Primeira Memória
Prometi que iria dando conta dos livros da Manuela Castro Neves e do PascaL Paulus à medida que os fosse lendo. É quase impossível mas posso encontrar pequenos excertos que vos façam desejar ler mais. Aqui vai um de "Da Vida na Escola" da Manuela Castro Neves, Ed. ASA, 2006 :

"Primeira Memória

Não me lembro da cara. Só me lembro dos pés. Uns pés pequeninos, magros, tisnados pelo sol. Era o dia 7 de Outubro, dia do início do ano lectivo e o menino, uma saca de pano na mão, tal como os outros, aguardava.
Foi o director que abriu a porta e os chamou um a um.
Quando chegou a vez dele, olhou-o de alto a baixo. Depois virou-se para a mãe e disse :
- O rapaz não pode entrar descalço. Vá a casa calçá-lo e traga-mo cá depois.
Respondeu a mulher que isso não podia fazer. O menino não tinha sapatos. Tivera uns, mas já não lhe serviam, pois crescera muito durante o Verão. O seu marido estava sem trabalho e por agora não arranjava maneira de comprar sapatos novos à criança.
Nem ela nem o pai sabiam ler nem escrever, mas queriam muito que o menino aprendesse. Que, por favor, o deixasse ficar mesmo assim. Talvez fosse só uma questão de semanas.
O director respondeu que achava bem que o rapaz aprendesse, mas a lei era a lei e ele não podia fazer nada; que visse ela como conseguia resolver o problema.
A mãe pegou na mão da criança e partiram os dois de cabeça baixa.
Eu, da porta da sala ao lado (a da aula do sexo feminino) fiquei a vê-los.
O chão era empedrado, mas parecia-me que o menino ia deixando pegadas a marcar o caminho do seu retorno à lezíria.
Este tempo existiu. E eu nunca vou esquecer."


Entre o arrepio e o enternecimento, não é ?

Maria Emília Brederode Santos

11.7.06
 
Formação Contínua de Professores, Mudanças e Desenvolvimento Educativo
Ana Maria Bettencourt*

A formação contínua de professores tem hoje inevitavelmente associadas imagens de descrença, desânimo, desperdício. Como alterar este estado de coisas?
Como pode a formação contínua de professores contribuir para a modernização e para o desenvolvimento educativo? Em que medida pode contribuir para melhorar a escola e os seus resultados? Como pode servir de apoio a medidas que vão nesse sentido e que dizem respeito designadamente à escola a tempo inteiro, à prevenção dos abandonos escolares, à formação profissional e à educação de adultos?
A mudança terá de envolver de modo activo os professores ou correrá o risco de não passar de projectos de modificação geradores de insegurança. Por isso é necessário que existam nas escolas formas de acompanhamento e espaços de reflexão sobre a organização, as práticas educativas e os resultados escolares.
Num contexto de grande pressão social e mediática sobre a escola para que obtenha melhores desempenhos, os professores são olhados muitas vezes pela sociedade, injustamente, como bodes expiatórios de um sistema que funciona muito mal porque só é eficaz para alguns.
O desempenho dos professores é decisivo, mas para que obtenham melhores resultados, é necessário repensar o próprio mandato da escola que terá de se tornar num meio onde os alunos que encontram dificuldades, recebem os apoios necessários para as superar. É claro que a escola não pode resolver muitos dos problemas sociais que pesam no seu funcionamento. Mas, se não se mudarem profundamente, como fizeram outros países europeus, os modos de trabalho das equipas de professores, o sistema de acompanhamento dos alunos, a pedagogia utilizada na formação profissional e na educação de adultos, a gestão dos projectos de escola, estamos condenados a perpetuar um sistema inaceitável e injusto que desperdiça recursos e condena os jovens e os formandos à exclusão.
O sistema português falhou de modo trágico na gestão da mudança e na formação de professores. Independentemente de se concordar com esta ou aquela mudança/reforma é preciso analisar o modo como são lançadas, acompanhadas, avaliadas.
O sucesso de uma inovação educativa exige que os professores conheçam e compreendam bem os seus objectivos, o seu contributo para a solução dos problemas dos alunos, das escolas e do país e é também essencial que se mobilizem para a por em prática. A organização da mudança é um importante desafio que se coloca hoje às escolas.
A formação contínua dos professores pode ser determinante para a sustentação das mudanças visando designadamente a obtenção de melhores resultados escolares, mas terá de ser profundamente diferente da formação por catálogo, descontextualizada, na qual foram consumidas nos últimos anos, de forma pouco rentável, verbas astronómicas. Não está em causa o interesse que algumas formações referidas seguramente tiveram, mas sim a orientação global da formação contínua e a sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento educativo. Não é possível entender uma fórmula de financiamento cega que tem condenado as instituições de formação de professores do ensino superior a dar prioridade à formação inicial, ignorando as necessidades da formação contínua.
A formação dirigida a equipas pedagógicas e situada em contexto de trabalho com apoio/parceria de equipas de formação/investigação, gera um ambiente de maior segurança e capacidade de inovação. Este ambiente é essencial para que os professores se sintam com confiança para iniciarem transformações nas suas práticas e analisarem os resultados obtidos, entendendo deste modo que não é a sua capacidade profissional que está em causa, mas sim a evolução das suas funções e a organização do trabalho.

*Professora da ESE de Setúbal

Publicado no Jornal de Letras - Educação

10.7.06
 
No final do Mundial...
Assunto: (o mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial)

(...) O que me inveja são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas.
A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)

Mia Couto, O fio das Missangas

 
Novo número da NOESIS
Já está cá fora o nº 66 da Noesis, todo bonito com as ilustrações bem humoradas de João Vaz de Carvalho.

O tema do dossier - "Mãos na Massa!" - é o Ensino Experimental das Ciências com um artigo de enquadramento teórico de António Cachapuz (Universidade de Aveiro) , outro, mais prático de Isabel Martins, responsável pelo Programa para a Generalização do Ensino Experimental das Ciências no 1º ciclo do Ensino Básico a iniciar em 2006-2007, uma entrevista com Rosália Vargas, coordenadora do Ciência Viva, reportagens em escolas do pré-escolar ao secundário. O destacável com fichas de actividades para crianças dos 8 aos 12 anos (1º e 2º ciclos) é da autoria de Mª Odete Valente (da Faculdade de Ciências) e intitula-se "Mãos na massa ... com a cabeça a pensar" Várias páginas dedicadas a recursos (desde centros de Ciência Viva a livros e sites na internet) completam este dossier bastante oportuno já que o ensino experimental das ciências é uma prioridade da política educativa actual.

Mas outro tema atravessa de certa maneira este número da Noesis : o Debate Nacional de Educação organizado pelo CNE. Ele é um dos principais temas da entrevista com Júlio Pedrosa, Presidente do Conselho Nacional de Educação e da rubrica Lá Fora onde TEresa Gaspar se debruça sobre os "grandes debates" que tiveram lugar em Espanha e em França.

O artigo de opinião é de Mª Céu Roldão e trata do "trabalho colaborativo" dos professores. Madalena Mota, professora de Geografia, mostra-nos o seu "diário" onde conta como desenvolveu um trabalho envolvendo as TIC na Geografia. O artigo de estudo/investigação é de Mariana Dias e incide sobre os desafios que a sociedade do Conhecimento coloca ao sistema educativo português.

A visita de estudo leva-nos ao palácio de Queluz e aos hábitos de higiene - ou falta dela - entre os seus reais habitantes do séc. XVIII. A camapanha de sensibilização deste número gostaria de ajudar a prevenir incêndios e a rubrica de leitura da imagem - "Com olhos de ver" - mostra-nos o "quarto imaginário" de Picasso tal como o viu o pintor Nikias Sakapinakis cuja exposição está no Museu Arpad Szènes-Vieira da Silva até 23 de Julho.

A revista já deve ter sido distribuida por todas as escolas do país.

8.7.06
 
INVESTIGAR EM EDUCAÇÃO
Acabo de receber o nº4 da revista Investigar em Educação da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação.

Segundo o Editorial de Mª Teresa Estrela, a criação da revista teve a intenção de "ocupar um espaço próprio e não concorrencial com outras revistas nacionais, promovendo a síntese da investigação científica educacional realizada no nosso país nos últimos anos, em áreas em que tenha sido significativa em termos de volume, relevância social e inovação."

Este 4º número contem sínteses invetigativas nas seguintes áreas :

Avaliação da aprendizagem dos alunos (1990-2005) - por Carlos Barreira e Jorge Pinto;

Formação contínua de professores (1990-2004) - por Albano Estrela e outros;

Ensino da Biologia - por Isabel Chagas e Teresa Oliveira.

Uma entrevista a Jurgen Schriewer por Ana Isabel Madeira.

Teresa Estrela termina o seu editorial despedindo-se da orientação da revista e agradecendo a autores, c onsultores, colaboradores, etc. Creio que somos nós, membros da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, que lhe devemos um agradecimento por um trabalho verdadeiramente útil para todos nós.

Maria Emília Brederode Santos

7.7.06
 
Dar Oportunidade às Novas Oportunidades
O baixo nível de escolaridade da população portuguesa é hoje considerado como um factor determinante no atraso económico do país face aos seus parceiros europeus. Diversos indicadores confirmam a importância das qualificações para o crescimento e para a coesão social. É neste contexto que o Governo, através dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade promove a “Iniciativa Novas Oportunidades” cuja finalidade é criar condições para que os jovens e a população adulta atinjam com sucesso o nível secundário, através de uma significativa diversidade de ofertas.

Para se atingir o sucesso deste programa é necessário que a sociedade se mobilize e que se alarguem as motivações e as capacidades de todos os intervenientes para agirem diferentemente em diferentes contextos. Repensar a formação contínua dos professores e de outros agentes de formação surge como uma necessidade premente para a concretização deste objectivo que constitui um desígnio nacional. É neste debate que se integra o texto

Com os dois textos que se seguem - “Dar Oportunidade às Novas Oportunidades” e “Formação Contínua de Professores, Mudanças e Desenvolvimento Educativo” - dá-se notícia e procura enquadrar-se estas duas questões.


Dar Oportunidade às
“NOVAS OPORTUNIDADES”

José Alberto Leitão*

Em Portugal a questão que hoje se coloca é a da qualificação da população activa. A estrutura de qualificações, ainda, existente caracteriza-se pelo peso dos níveis baixos de escolaridade. Num universo de 5 milhões de activos cerca de 3.500.000 têm um nível de escolaridade inferior ao ensino secundário, 2.600.000 têm um nível de escolaridade inferior ao 9º ano e cerca de 485.000 jovens entre os 18 e os 24 anos estão hoje no mercado de trabalho sem terem concluído o 12º ano de escolaridade.
Ao mesmo tempo, o nosso tecido produtivo tem sido favorável ao desenvolvimento de actividades intensivas em mão-de-obra, cujos modelos empresariais tendem a veicular estratégias de recrutamento nas quais a escolaridade e a qualificação profissional não têm constituído factores essenciais. Neste contexto, a formação profissional mantém uma característica predominantemente não formal e informal (aprender pela experiência), não sendo, ainda, suficientemente valorizado, quer por empresários, quer por trabalhadores, o seu contributo para o desenvolvimento.
No entanto, nos últimos anos, tem sido realizado um esforço significativo, pelo Estado e pelas famílias, no sentido de promover a melhoria da escolarização em todos os níveis de ensino, sobretudo, da população mais jovem. No que se refere à população adulta um relatório da OCDE, já em 1997, referia que se Portugal não fizesse um esforço acrescido na educação e formação dos adultos, em 2015, apenas 40% da população activa atingiria nove anos de escolaridade, situação que a confirmar-se compromete a construção de um modelo de desenvolvimento alternativo que nos permita sobreviver no seio de uma economia cada vez mais competitiva e de uma União Europeia alargada.
A valorização e o investimento na qualificação das pessoas, que tem vindo a ser prosseguida, enquadra-se nesta política de reforço e prioridade dada pelo governo a esta questão. Esta política não pode circunscrever-se, contudo, à intervenção desenvolvida no âmbito dos Ministérios da Educação e do Trabalho e Solidariedade Social, deve ser uma mobilização conjunta de toda a sociedade, apelando para uma intervenção, privilegiada, dos diferentes parceiros sociais.
Em face desta situação, atendendo às orientações e compromissos europeus e nacionais, amplamente consensualizados, a “Iniciativa Novas Oportunidades” representa um novo impulso no caminho da qualificação dos portugueses.
Pretende-se mobilizar os nossos melhores esforços e energias no sentido de combater o défice de qualificação escolar e profissional, intervindo na população jovem, de forma a prevenir o abandono escolar, a saída antecipada e precoce dos sistemas de educação e formação, e a entrada no mercado de trabalho sem qualificação adequada. A generalização do acesso e conclusão do ensino secundário constitui-se como objectivo a alcançar, possibilitando que os trajectos de qualificação garantam, em simultâneo, uma certificação escolar e profissional.
Relativamente à população adulta, nomeadamente no que se relaciona com os activos, empregados e desempregados, pretende-se intervir através de acções de valorização, reconhecimento, validação e certificação de saberes e competências escolares e profissionais, adquiridas em diferentes contextos de vida e proporcionando, subsequentemente, uma oferta flexível e atractiva de educação e formação que possibilite aos que estão no mercado de trabalho, sem terem completado o ensino secundário, uma nova oportunidade. Neste sentido, os Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (escolares e profissionais) desempenham um papel central, certificando competências, aumentando as qualificações e orientando para a frequência de percursos flexíveis (modulares e capitalizáveis) de educação e formação.
Para que esta oportunidade responda à necessidade de acelerar o ritmo de progressão da conclusão do ensino secundário, com a correspondente qualificação profissional, por jovens e adultos, alcançando as metas fixadas até 2010, exige-se o envolvimento empenhado de todos – instituições públicas e privadas, cidadãos e empresas – contribuindo para que seja possível, definitivamente, superar o défice de qualificações e proporcionar, a toda a população, o acesso à sociedade do conhecimento que associe um elevado desempenho económico com a coesão social.
A aprendizagem e o conhecimento, que a “Iniciativa Novas Oportunidades” pretende concretizar, são uma muralha contra a exclusão e a marginalização, e são, sobretudo, o maior e mais determinante factor de competitividade das organizações, empresas, economia e sociedade e, ainda, da inovação.


* Director do Centro Nacional de Formação de Formadores do Instituto do Emprego e Formação Profissional

Publicado no Jornal de Letras - Educação

 
LENDO OS JORNAIS...
No suplemento de Economia do Diário de Notícias de ontem (5 de Julho), uma notícia sobre uma compra de "activos imobiliários"pelo Fundo Imorendimento II terminava com a seguinte citação : "A Imorendimento destaca a "elevada qualidade arquitectónica e patrimonial dos edifícios adquiridos, que vêm prestigiar o portafólio do fundo, aportando-lhe uma rentabilidade consistente com a política de investimentos". Gostaram ? Eduquês não é certamente. Será "economês" ?

Em todo o caso não suscita a ferocidade que parecem provocar as pessoas da educação : uma sessão na Casa Fernando Pessoa terminou com literatos apelando ao "fuzilamento dos professores". Entrevistas e crónicas de cientistas sociais sugerem que os problemas do ensino se resolveriam lançando napalm sobre o Ministério da Educação e os seus grupos de trabalho. Tamanha ferocidade só encontra paralelo -e bem mais artesanal - no apelo ao apedrejamento dos fiscais do ambiente pelo autarca e Presidente da Associação Nacional de Municípios Fernando Ruas. Tudo figuras exemplares...

Porque será esta sanha ? E porquê tanto respeitinho pelo economês ? Alguém me explica ?

Maria Emília Brederode Santos

4.7.06
 
Professores escrevem livros
Estas últimas semanas assistimos a um fenómeno novo : professores do 1º ciclo escrevem sobre a sua experiência de ensino, revelando - confirmando - a existência de um saber específico dos professores.

Foi primeiro a Manuela Castro Neves e o seu "Da Vida na Escola". Foi depois o Pascal Paulus com "A escola faz-se com Pessoas". Por "acaso" trata-se de dois elementos do Movimento da Escola Moderna, o principal movimento pedagógico em Portugal que, durante décadas, com a maior discrição, foi promovendo uma formação contínua reflexiva dos professores. Ambos tiveram também o apoio e o reconhecimento do ensino superior - da ESE de Lisboa, num caso, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação no outro.

Puxando a brasa à minha sardinha recordaria que a Noesis, nesta sua nova fase, também iniciou uma rubrica "Diàrio de um Professor".

Acho que tudo isto é revelador da necessidade de penetrar na "caixa escura" da escola e do reconhecimento do saber específico que os professores vão construindo.

Dos livros darei mais notícias à medida que os for lendo.

Maria Emília Brederode Santos

2.7.06
 
Futebol e Educação
Futebol e Educação

Até mesmo um blog dedicado à educação não pode deixar passar esta vitória da selecção portuguesa sem a saudar.

Não vejo os desafios de futebol e não me sinto qualificada para escrever sobre o assunto, mas atrevo-me a deixar três notas (perdoem-me os entendidos!):

1-Tenho pena que os portugueses não se entusiasmem, do mesmo modo que o fazem com o futebol, por outras causas tão decisivas para o futuro do país e para eles próprios, como a educação.

2-Não vejo os desafios do mundial, mas sigo os noticiários e as conferências de imprensa e admiro como a educação ao longo da vida tem permitido à maioria dos jogadores desenvolver a capacidade de se exprimirem e lidarem com os media.

3- Ouvimos muitas vezes jovens afirmarem a inutilidade da escola evocando o exemplo de jogadores de futebol que não teriam ido longe na sua escolaridade.
Seria bom que estes jogadores, hoje ídolos da juventude e do país inteiro, abraçassem a causa do desenvolvimento educativo dos portugueses e explicassem o muito que tiveram de trabalhar/aprender para serem capazes de falar e jogar como o fazem e que mostrassem a importância do trabalho e da solidariedade. De igual modo seria desejável que, com o conhecimento que têm de outros países, explicassem aos jovens como, nos contextos e países onde a maioria deles joga, a educação da população foi essencial ao desenvolvimento.
Estou certa que por exemplo Luís Figo, que apoiou uma campanha a favor da aprendizagem do português em França, a convite do Presidente Sampaio, o faria também para a educação.

Ana Maria Bettencourt

 
Não Apaguem a Memória !
Um Sábado dedicado à memória :

à memória política : de manhã, o movimento "Não apaguem a memória" organizou uma concentração frente ao Aljube em homenagem aos que lá estiveram presos e na perspectiva de se constituir aí um museu - um memorial - da resistência ao fascismo.

ao funcionamento da memória: à tarde, no Centro Cultural de Cascais, António Damásio encerrou uma semana cientifica dedicada ao estudo da memória. Das doenças da memória às relações entre a memória e a criatividade...

à memória de Lopes Graça : à noite Rui Vieira Nery recordou Lopes Graça, o homem e a música.Amanhã contarei mais sobre os três tabus em torno de Lopes Graça.

Maria Emília Brederode Santos