Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

26.12.08
 
sobreiro de muitas vidas


No novo ano que entra, marcado por incertezas e dificuldades, lancemos um olhar para este sobreiro de muitas vidas, sempre renovadas.
Maria José Martins

25.12.08
 




10.12.08
 


Declaração Universal dos Direitos Humanos
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60 anos

 

A educação para os Direitos Humanos

A escola deve promover a aprendizagem da Declaração Universal dos Direitos Humanos .
A educação para a defesa dos Direitos Humanos pode ser materializada quer através da realização de projectos (ver post de Pascal Paulus a seguir), quer ao nível dos conteúdos, não só através do conhecimento do texto da Declaração, mas também através da organização de debates sobre temáticas do mundo actual relacionadas com os Direitos Humanos. É essencial que se criem condições para um entendimento sobre o significado da discriminação e da igualdade, no plano social, étnico, sexual, que se entenda o significado da democracia e da sua privação.
Colocar a escola à “escuta” do mundo, como defende J. Gonnet, para o poder compreender e nele intervir, deve ser um objectivo essencial, desenvolvido quer através de uma abordagem interdisciplinar, quer através de estudo, por exemplo, da História, da Geografia, da Economia, da Literatura e das Línguas.
A pedagogia dos Direitos Humanos não deve esquecer o manancial de conhecimentos que pode ser veiculado através dos media. O estudo de casos de violação dos direitos humanos, das lutas de povos pela autodeterminação e a análise de questões jurídicas podem constituir elementos de formação importantes. O estudo de um país, da cultura de um povo e das razões históricas e políticas de um conflito trazido pela televisão podem constituir um espaço de formação muito significativo. O intercâmbio e a pesquisa de informações podem constituir estratégias pertinentes para o desenvolvimento destes trabalhos.
No currículo do ensino básico existe uma área transversal de Formação Cívica onde temas e projectos relacionados com a DUDH podem ser desenvolvidos.
Este aniversário pode constituir um convite para o desenvolvimento de projectos neste domínio.
Ana Maria Bettencourt

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos faz 60 anos
O trabalho aqui referido foi realizado por crianças de 8 e 9 anos em 2001, e tinha como tema "Os direitos das crianças - o que nós já fizemos".
Tudo aconteceu na sequência de um comentário de uma das meninas da turma, no momento dedicado a "contar e mostrar", a propósito de uma reportagem que ela tinha visto acerca da forma como eram tratadas as mulheres afegãs pelos Talibans . Foi decidido contactar mulheres afegãs tendo-se encontrado um grupo de resistência que propunha medidas de apoio concreto. Entre estas havia a possibilidade de contribuir para viabilizar as pequenas escolas clandestinas, para meninas, organizadas por mulheres, nas aldeias. Depois de discutir como angariar fundos (em que as crianças afirmaram pedir esmola não, Pascal!) decidimos fazer um caderno especial que vendemos fazendo reverter a venda para a inciativa das mulheres - sabendo que precisavam do equivalente de 5.000 escudos para custear uma escola durante um mês, conseguimos juntar quase o suficiente para um ano escolar.A versão virtual do caderno especial está em http://web.educom.pt/pr2022/turmadois/index.htm, um comentário mais completo acerca do trabalho em http://web.educom.pt/pr2022/textos/opcaocurric.html
Pascal Paulus

9.12.08
 

Educação para os Direitos Humanos

Coordenação: Direcção de Serviços de Avaliação do Sistema Educativo.Editora: Instituto de Inovação Educacional.ISBN: 972-783-037-4.
Download do livro: Formato PDF (484 KB); Formato Word 6.0/95 (307 KB).

ÍNDICE:
Questões mais frequentes sobre a Educação em matéria de Direitos Humanos.
Porquê a Educação em matéria de Direitos Humanos?
Dez sugestões para a acção.
Questões sobre a Educação em matéria de Direitos Humanos.
Grelha conceptual para a Educação em matéria de Direitos Humanos.
Propostas de Actividades.
Janelas e Espelhos. Observação de Fotografias na Perspectiva dos Direitos Humanos.
Literatura e Direitos Humanos. Questões para Aplicação à Literatura, Materiais Pedagógicos e Media.
História e Direitos Humanos. Análise de Documentos.
Ciência, Tecnologia, Ambiente e Direitos Humanos.
Textos Fundamentais.
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos Sociais e Culturais.
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.
Convenção sobre os Direitos da Criança.
Lista bibliográfica de obras no âmbito dos Direitos Humanos.
Endereços da Internet.

4.12.08
 

Ainda a propósito da avaliação dos professores
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O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO *

Foi John Steinbeck, o mesmo que chamava aos professores “caçadores de pirilampos” porque fazem nascer o conhecimento a partir dos pequenos pontos de luz que ensinam os seus alunos a descobrir, quem titulou desta forma um notável romance sobre um personagem ambíguo que, tendo perdido tudo, recomeça a sua ascensão na vida mas num percurso cheio de ínvias decisões e eticamente discutíveis oportunismos - decisões que a ele mesmo, no interior da consciência, causam angústia e perplexidade.
Peço-lhe de empréstimo o título para sintetizar em alguns pontos os porquês do meu particular descontentamento, nesta tarde em que escrevo, de um inverno marcado por muitos outros descontentamentos que respeito. Descontentamento o meu tão legítimo quanto outros, a que tenho direito e que não quero nem devo silenciar, cidadã que sou e lutei para ser, por um país democrático sem intervalos, profissional que sou e fui do seriíssimo ofício de ensinar, que estudei, estudo e investigo - porque requer saber, esta coisa de ensinar de que tantos gostam de falar no espaço público, quase sempre opinando no plano do puro senso comum. Ofício em que, como tantos outros da comunidade a que me honro de pertencer, também iniciei, acompanhei e supervisionei muitos outros, tal como outros também me ensinaram e ainda ensinam a especificidade e a complexidade de ser professor.
Falo-vos pois dos professores. E daquilo que se tem chamado a sua luta contra um alegadamente persecutório modelo de avaliação do desempenho docente, isto é, do acto de ensinar que nos caracteriza e distingue como profissao na malha complexa do tecido social dos nossos dias. Não falo dos professores de há 50 ou 100 anos, professores esses de outro momento histórico, adequados ao seu tempo, portadores de um saber ao tempo restrito a poucos, e por isso muito valorizado socialmente, que distribuiam ex cathedra, uns muito bem, outros nem tanto, a um grupo razoavelmente restrito, homogéneo e predisposto, por pertença e cultura, a acolher os seus ensinamentos. Nem vos falo, como se tornou moda nos debates entre educadores de bancada, de quanto “no meu tempo” eu e os meus parceiros da minoria mais ou menos brilhante e razoavelmente selecccionada, que chegava aos estudos mais adiantados, e que éramos , no meu 5º ano do então ensino liceal, cerca de 5% do respectivo escalão etário. Apesar de muitos, dentro e fora da escola se obstinarem em não o ver, o mundo mudou, a escola é que nem por isso – por isso mesmo se tornou tão mais difícil e complexo ser professor. Mas também mais valioso e mais indispensável socialmente. Falo da dificuldade de ser professor da escola pública de hoje e de amanhã, a de todos e para todos, a que por isso mesmo se tornou bem mais difícil de fazer funcionar bem, isto é, garantindo que o superior direito de todos a aprender é concretizado, através de uma acção aprofundada, modificada e mais eficaz de todos nós, os professores, os gestores, os formadores, os académicos.

Falo de ser professor hoje, nessa escola e com essas dificuldades que, por razões de experiência profissional longa, muito trabalho de formação e alguma pesquisa reconhecida, conheço bastante bem. Não é fácil ensinar hoje, não. Nem se parece nada com o imaginário falacioso que se projecta naqueles professores que outrora só tinham que ensinar quem estava predisposto para aprender. Mas é ensinar o que faz (ou não ) um professor – só que hoje e no futuro previsível isso significa ensinar, e ensinar bem, a todos os que proclamamos com direito a uma cidadania plena. Tarefa que só pode merecer o nosso respeito e justificar tudo o que se faça para a melhorar, distinguir, apoiar, dignificar e, por tudo isso, garantir-lhe a dignidade de ser avaliada.

Pois nasce-me daqui o pesado descontentamento de que aqui falo:
De ver que os professores reclamam – e fazem-no no uso do direito democrático de se manifestarem , o mesmo que eu uso aqui - contra uma avaliação que pela primeira vez incide sobre o cerne do seu desempenho , isto é – a sua acção de ensinar.
De ouvir afirmar que sempre foram avaliados e aceitaram ser avaliados, que rejeitam este, mas aceitam outro “modelo”, desde que não este. Creio que o dizem de boa fé mas não corresponde à história da avaliação de professores amplamente documentada. Nunca , em nenhum dos regimes de avaliação, houve avaliação de desempenho docente , observado, supervisionado e avaliado. Houve sim regimes que utilizaram outros referentes (formação, tempo de serviço, relatório de actividades, por exemplo). Como também é conhecida por todos a relutância dominante na classe, por razões de cultura sedimentada em muitas décadas, de abrir mão do carácter individual e privado da aula, aquilo que a tipologia de Andy Hargreaves, um conceituado investigador canadiano, descreve como uma cultura profissional baseada no individualismo. Esta característica é uma resultante de múltiplos factores, não um “crime” da classe. Mas bloqueia e tem inviabilizado muita da necessária melhoria, que cada vez mais se sabe requerer mais trabalho colaborativo entre pares, mais supervisão e regulação. Nos resultados do famoso TIMSS também consta que a taxa de trabalho docente supervisionado, relativamente aos alunos de Matemática e Ciências que foram sujeitos do estudo, era de 4% em Portugal para uma média de 60% nos restantes países. A prática da supervisão com avaliação de desempenho da acção de ensinar só existe entre nós no período de estágio ( o que corresponderá aos 4% identificados acima) e ainda assim tolerada numa grande maioria de casos com grande sofrimento, apenas mitigado pela ideia de que depois nunca mais acontecerá. . O problema novo da avaliação de desempenho que agora se inicia é que justamente reverte essa lógica. Daí a violência e a aparente adesão maciça à sua contestação
Pesa-me e algumas vezes me envergonha o tom – o direito de contestar é inalienável, e compreende-se que seja emocional; mas não se aceita que seja insultuoso. Aceito ainda menos a ausência de análise dos pressupostos de avaliação proposta, o silêncio sobre a adequação ou não dos parâmetros , a não produção de sugestões de instrumentos mais eficazes e menos burocráticos, que está expressamente reconhecida no Decreto Regulamentar 2/2008 , desenvolvida nas Recomendações de 8 de Julho do Conselho Científico da Avaliação de Professores, disponível na respectiva página, e agora retomado nas alterações/especificações. O discurso, repetitivo e reduzido à repetição de uma negação que não se argumenta, surpreende-me porque vindo de professores. Permanece inexplicável, tal reacção mesmo quando as alterações recentemente introduzidas seguem por ponto todas as queixas expressas, alterações de que até, nalguns aspectos discordo. Tal postura não visibiliza a capacidade de fazer propostas que os professores certamente têm. Alguns têm-no feito, mas a pressão da massa sobre os divergentes é, historicamente o sabemos, muito pesada. O que ofende a minha crença no direito à opinião livre e ao pensamento divergente.
Descontenta-me ainda que o primeiro esforço sério no sentido da avaliação real a que os professores têm direito, centrada no seu agir científico-pedagógico, tenha sido finalmente lançado, depois de décadas em que não houve coragem de enfrentar a sua necessidade, sem acautelar timings mais graduais, acompanhamento mais directo, alargamento faseado. O que, estou em crer, será introduzido no processo no sentido da sua real apropriação pelas escolas., envolvidas na transformação difícil de uma cultura e um nó de rotinas organizativas que é preciso romper. Mas é preciso que os professores compreendam que são eles que têm o poder de o fazer, assumindo os dispositivos de autonomia e liderança pedagógico-científica que lhes cabem na regulaçao interna dos processos e resultados do seu trabalho e do seu saber.
Nenhum governo, seja ele qual for, seja qual for o sistema , o partido, a equipa, vai daqui em diante poder regressar ao passado nesta matéria , porque o passado já não é viável. Falta que os professores e escolas e a sociedade em geral se dêem conta disso: de que a história da escola pública e da afirmação profissional dos docentes – a atravessar um momento histórico crucial - não se parece com uma luta dos bons e dos maus , de vítimas e perseguidores, nem se situa apenas na oposição entre um qualquer ministério e seus funcionários. É uma questão social central e incontornável , em que são os profissionais que têm de tomar a dianteira, numa sociedade que queira fazer da educação o seu capital maior e a sua aposta no futuro.
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Maria do Céu Roldão
* Artigo publicado no Jornal de Notícias de 2/12/2008

3.12.08
 

Conferência Internacional de Educação
Decorreu em Genève, na semana passada, o maior encontro mundial de educação, promovido pela UNESCO, dedicado ao tema "A educação para a inclusão: a via do futuro" .
Esteve patente em toda a conferência o receio de que a crise financeira mundial possa vir a afectar o investimento na educação. Nas conclusões insiste-se para que seja concedida a mais alta prioridade ao financiamento neste sector.
A educação é hoje em quase todo o mundo encarada como um Direito Humano fundamental e como alavanca da democracia e do desenvolvimento
Na 4ª parte das conclusões-relativa aos professores e alunos- diz-se no ponto 16 que se deve reforçar o papel dos professores através de um esforço para melhorar o seu estatuto e as suas condições de trabalho, e da criação de mecanismos permitindo o recrutamento de candidatos válidos, e a fixação dos professores qualificados abertos às diferentes exigências em matéria de aprendizagem.
No ponto 17 relativo à formação de professores defende-se o desenvolvimento de competências e materiais apropriados para ensinar a grupos de alunos diferentes e para responder às diferentes necessidades de aprendizagem dos alunos ...
Debateu-se muito a necessidade de encarar a diversidade como um desafio.
Durante a Conferência insistiu-se sobre as ideias i) de aliar qualidade na educação e equidade .
ii) de que o acesso generalizado à educação implica uma mudança de paradigma.
Considerou-se que a educação hoje deve ser orientada para as aprendizagens efectivamente realizadas e para os resultados, como estratégias decisivas para a inclusão.
Um número esteve na boca de numerosos participantes: os 75 milhões de crianças que não têm acesso à escola. O objectivo da Educação para Todos 2015, não parece poder vir a ser uma realidade. Prevê-se que nesse ano ainda existam cerca de 25 milhões de crianças fora da escola.
Ana Maria Bettencourt