Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

22.11.06
 
Como vai o Debate Nacional sobre Educação
Nas últimas semanas, realizaram-se dois importantes seminários no âmbito do Debate Nacional sobre Educação.
O primeiro, Motivação dos Jovens para a Formação em Ciências e Tecnologia partiu da apresentação de um estudo realizado por uma equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra sobre os factores que estão presentes na escolha de formações técnicas e científicas por parte dos alunos do secundário. Claro que a forte correlação com o bom aproveitamento a matemática surge como o factor decisivo do ponto de vista cognitivo-motivacional envolvido nessa escolha.
Mas foi no painel sobre "Como incentivar os jovens para a formação em ciências e tecnologias?" que ouvimos a professora Mafalda Lapa contar a sua experiência maravilhosa na Escola Secundária da Cidadela, em Cascais. Bióloga, professora de técnicas laboratoriais (disciplina que existia no anterior currículo do secundário), desenvolveu, ao longo de cinco anos com o apoio do "Ciência Viva" e de laboratórios científicos, um verdadeiro trabalho de literacia científica e de motivação para a ciência. O seu entusiasmo, a consistência pedagógica do trabalho com os alunos, a demonstração que o ensino experimental requer meios mas produz aprendizagens persistentes e alarga a compreensão do mundo, levaram a Profª Ana Eiró, da Faculdade de Ciências, a exclamar:"Está tudo dito!É destes exemplos que precisamos!".
Infelizmente, o final da história não é esse. A disciplina de técnicas laboratoriais desapareceu na última revisão curricular, o laboratório que Mafalda Lapa conseguiu construir na escola está hoje sem utilização e ela própria está colocada noutra escola onde, para além da sua disciplina, colabora como voluntária na Área de Projecto do 12º ano...
O segundo seminário foi sobre Equidade na Educação: prevenção de riscos educativos . Também este partiu de um estudo realizado por uma equipa do Porto sobre "Abandono escolar em contexto urbano". Como a Mª Emília Brederode comentou no final falou-se dos "meninos invisíveis"para quem a escola só muito lentamente vai encontrando respostas.
Teresa Gaspar

21.11.06
 
QUEM ME EXPLICA ?
Vi/li um anúncio que não consigo entender. Vou transcrevê-lo na esperança de que alguém me acuda e me explique :

"EU VOU SER A ÚLTIMA OCEANÓGRAFA PORTUGUESA

Não queremos ser alarmistas , mas antes soar o alarme. Para que acordemos para os números. Todos os anos 4 em cada 10 alunos deixa a escola antes de terminar o 12º ano a caminho de uma vida mais pobre, com menos segurança, conforto e sucesso, pois os salários de quem tem o 12º ano são, em média, 40% superiores aos de quem não tem. Mas pior que tudo, este ritmo de desistências põe-nos a 89 anos dos nossos concidadãos europeus. Isto faz deles melhores, mais educados, mais qualificados e competentes do que nós."

Até aqui, embora o Português deixe um bocado a desejar, perce-se. Mas atenção ao que vem a seguir :

"Estes são os números. E assim esta é, provavelmente, a última geração de técnicos, empresários e académicos portugueses formados e competentes. Não vamos deixar que isso aconteça, pois não ?"

Alguém entende ? Alguém me explica ? Uma coisa é certa : "os empresários pela inclusão social" que "assinam" este texto não sabem do que estão a falar ou a agência que fez este anúncio não sabe comunicar.

De qualquer forma o que passa é a mensagem : antes é que éramos bons . Que doce ilusão !

Maria Emília Brederode Santos

18.11.06
 
MÁRIO CARDIA
Um blog temático como o Inquietações Pedagógicas não pode deixar de assinalar a morte do ex-Ministro da Educação Mário Sottomayor Cardia. Mas Mário Cardia foi muito mais do que o Ministro da Educação "normalizador" do I Governo Constitucional. Para recordar o lutador estudantil, o anti-fascista e o amigo permito-me fazer um link para www.bichos-carpinteiros.blogspot.com (dia 17 de Novembro de 2006)


Maria Emília Brederode Santos

16.11.06
 
EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO
Já saiu o Caderno Público na Escola nº4, correspondente ao 1º período do ano lectivo de 2006/2007. Este caderno é dedicado à Educação para o Consumo - e o tema não podia ser mais apropriado a esta quadra de pré-Natal em que tv e comércio parecem conluiar-se para fazerem crer a mais miúdos e mais graúdos que o paraíso está ali ao alcance do simples ter...

Aprender a resistir a essa pressão ou, mais positivamente, aprender a escolher são aquisições cada vez mais importantes nas nossas "affluent societies".

Parabéns ao Público na Escola e ao seu director pedagógico Eduardo Jorge Madureira.

Maria Emília Brederode Santos

12.11.06
 
Ainda sobre a Diversidade III

Diversidade e desigualdades III- O défice pedagógico

Grande parte dos desafios da integração colocam-se ao nível do trabalho na sala de aula.
Temos um grave défice pedagógico quer ao nível dos processos de diferenciação do trabalho na sala de aula e dos processos de enquadramento educativo, quer ao nível da capacidade de integração nas aprendizagens de temáticas através das quais a escola se abre aos mundos dos seus alunos valorizando-os. Este défice verifica-se desde a organização da sala de aula no 1º ciclo do ensino básico até ao nível do trabalho das equipas pedagógicas /conselhos de turma no 2º, 3º ciclos do ensino básico e ensino secundário.

Existem hoje espaços curriculares que apontam para a concretização de estratégias de diferenciação, como o desenvolvimento de projectos interculturais e a educação para a cidadania. Refiro-me às Áreas Curriculares Não Disciplinares(ACND)- áreas de autonomia das escolas e dos professores, onde é possível diferenciar e adaptar os Projectos às realidades sociais e aos alunos.
Existem projectos e materiais do maior interesse como por exemplo os que têm sido produzidos pelo ACIME ou pelo Projecto Gulbenkian para a Diversidade. Para terem maior sucesso, as ACND exigiriam o desenvolvimento de estratégias de inovação e acompanhamento que ainda não existem na escola portuguesa.

Dois problemas pedagógicos:

1. A caracterização das turmas realizada no início do ano lectivo dificilmente é acompanhada de estratégias que correspondam às necessidades de integração de cada aluno . Aprendeu-se a fazer a caracterização das turmas, mas uma gestão pedagógica consequente exigiria estratégias de diferenciação pedagógica, percursos individualizados de trabalho. São estratégias que exigem formação, acompanhamento e segurança das equipas de professores face à inovação.
2. Há uma tendência muito generalizada para se verem de forma muito negativa os percursos....o aluno ainda não sabe, ainda não faz....
Charlot, Badinter e Rochex (1992, num trabalho sobre educação e meios sensíveis, defendem que se proceda a uma “leitura em positivo” da realidade social e escolar, porque a interpretação da realidade em termos de “falta, lacunas, handicap”, facilmente conduz a desmotivação.
Conversando há uns anos com uma amiga dinamarquesa conhecedora da escola portuguesa, ela dizia-me :.” a diferença entre a escola dinamarquesa e a escola portuguesa é que na Dinamarca partimos do que os alunos sabem para os incentiva a estudar mais, enquanto em Portugal vocês procuram sempre o que os alunos não sabem e com isso desmotivam-nos....”
Ainda a desigualdade e a diversidade
Numa caracterização de uma turma numa escola de periferia de Lisboa, todos os pais tinham entre o 4º e o 6º ano de escolaridade, à excepção de três que tinham cursos superiores (estes, todos provenientes do Leste Europeu)...São situações frequentes, mas diferentes da imigração a que estávamos habituados. Os filhos destes quadros superiores, ao chegarem ao nosso país, encontram grandes dificuldades causadas sobretudo pelo desconhecimento da língua, mas rapidamente se integram, desde que a escola tenha condições para ensinar o português como 2ª língua, o que nem sempre acontece. Situação bem diferente é a dos alunos de origem africana, para os quais as desigualdades são bem mais pesadas.
O mundo dos alunos imigrantes é com frequência recalcado, quando poderia ser fonte de aprendizagens enriquecedoras no plano cultural para os colegas.
A mim parece-me que a escola portuguesa está muito fechada ao mundo...

Ana Maria Bettencourt

11.11.06
 
Ainda sobre a Diversidade II


II - Diversidade e desigualdades : Viver positivamente um processo de integração

O que pode a escola fazer para que as crianças e jovens imigrantes não sejam vítimas das desigualdades com que são geralmente confrontadas porque o seu mundo cultural e linguístico é diverso? O que fazer para que vivam positivamente o seu processo de integração no nosso país?
1. Em primeiro lugar é essencial fornecer-lhes rapidamente os meios para dominarem o português como segunda língua,
2. Em segundo lugar devemos ser capazes de valorizar o património cultural e linguístico de que são portadores,
3. Em terceiro lugar que seja fornecida aos alunos e suas famílias a informação indispensável a um processo de orientação num sistema de educação e formação complexos, um sistema já de si difícil para os portugueses.
4. Em quarto lugar precisamos de uma escola que saiba diferenciar as suas pedagogias.
5. Em quinto lugar tem de haver estratégias educativas e sociais para combater os guetos nos bairros e nas escolas com grande concentração de imigrantes, designadamente através da criação de projectos de excelência, ensino artístico....(uma estratégia deste tipo vem descrita no post sobre a orquestra de violinos de Vialonga neste blog).
Precisamos de cidades educadoras onde as crianças e jovens desenvolvam o gosto pela cultura, a auto-estima, e hábitos de cidadania.

Ana Maria Bettencourt

10.11.06
 
Ainda sobre a Diversidade

A valorização da diversidade linguística - uma estratégia para combater as desigualdades na educação.


A diversidade existente hoje nas nossas escolas vem colocar um desafio decisivo: o que podem/devem fazer as escolas para que a diversidade seja fonte de enriquecimento e não se transforme em desigualdade? Como podem contribuir para que as crianças e os jovens imigrantes vivam positivamente um processo de integração no nosso país?

Diversidade e desigualdades-I

Há hoje muitas críticas à escola portuguesa pelos maus resultados que os alunos obtêm.
Mas esta generalização que se faz dos maus resultados não é correcta porque, na escola portuguesa, uma parte dos alunos obtém muito bons resultados. Basta analisar a geração de jovens empreendedores ou cientistas que a escola forma. Para muitos destes jovens a escola foi determinante e podemos dizer que foi uma boa escola.

A escola ensina bem mas só a uma parte dos seus alunos.
O grande problema da escola portuguesa tem sido não conseguir produzir respostas adequadas à heterogeneidade e diversidade dos públicos que a frequentam e portanto
não conseguir promover a integração de uma parte muito significativa dos seus alunos.
Um problema grave da escola portuguesa é continuar a utilizar, como principais estratégias de regulação dos problemas de aprendizagem, a retenção e a exclusão, que são a meu ver medidas que desresponsabilizam as escolas, ferem a auto estima dos alunos e conduzem muitas vezes ao abandono dos caminhos da educação e formação. São processos que originam profundas desigualdades. Ou seja, a escola não conseguiu ainda substituir a retenção e a exclusão por estratégias eficazes de apoio e enquadramento e por pedagogias adequadas à heterogeneidade e à diversidade dos alunos.

Ao contrário do que muitos dizem e pensam, as desigualdades continuam a ser um problema grave das nossas escolas. Ouvimos hoje muitos discursos sobre a escola que preconizam que se ignorem as desigualdades, que se ignorem as marcas na escolaridade da origem sócio-cultural e linguística dos alunos. Vemos que se classifica facilmente como boa escola, uma escola que transmite os conhecimentos, esperando que os alunos aprendam. Os esforços e trabalho para que todos os alunos aprendam efectivamente, não são considerados indicadores para avaliação da qualidade de uma escola.
Ensinar e avaliar são efectivamente missões da escola que tem de ser capaz de organizar melhor o trabalho dos alunos, exigir que trabalhem mais e melhor, mas, ignorar a sua origem sócio-cultural e linguística das crianças e jovens é contribuir para reforçar o conceito de que uma boa escola pode sê-lo mesmo que o seja só para alguns, continuando a deixar muitos alunos para trás.
Para que a diferença não se transforme em desigualdades irremediáveis temos de conhecer a diversidade e aprender a valorizá-la na escola. A realidade que temos hoje na escola evoluiu muito rapidamente e surpreendeu-nos, por isso os instrumentos para o seu conhecimento são indispensáveis.

Ana Maria Bettencourt

9.11.06
 
Diversidade Linguística na Fundação Calouste Gulbenkian
Diversidade Linguística na Fundação Calouste Gulbenkian

Realizou-se no passado 7 de Novembro na Fundação Gulbenkian um colóquio sobre Políticas de Língua e Diversidade. O colóquio culminou com o lançamento do CD2 mais um dos interessantes produtos do projecto Gulbenkian Diversidade Linguística na Escola, coordenado pela Professora Maria Helena Mira Mateus, desenvolvido no âmbito do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional e da Direcção Geral de Inovação de Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação.
Este projecto tem dado um contributo da maior importância para o conhecimento da situação de diversidade linguística nas escolas portuguesas (só nas escolas da região de Lisboa existem crianças que falam 57 línguas) e para o apoio às escolas confrontadas com uma situação nova de grande exigência: o ensino do português como segunda língua. Na abertura do encontro esteve presente a Ministra da Educação.
Saudamos este trabalho que vem contribuir para uma melhor integração dos alunos imigrantes.

AMB

8.11.06
 
A PRÓSPERA IRLANDA QUER APRENDER DIREITOS COM PORTUGAL !
Sabem bem que a Irlanda tem sido apresentada entre nós como um modelo de sociedade que deu um salto extraordinário no seu desenvolvimento económico.

Ora esta prosperidade não lhe subiu à cabeça : a Irlanda pediu a Portugal que lhe fosse apresentar os avanços na defesa dos direitos da criança consagrados na Constituição da República Portuguesa e demais legislação.

Foi assim que participei numa Conferência em Dublin nas vésperas de uma campanha para um referendo para introduzir na Constituição irlandesa a promoção dos direitos da criança.

Maria Emília Brederode Santos