Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

29.8.05
 
Onde Pára a Meteorologia?
No regresso de férias não posso deixar de partilhar uma inquietação que me acompanhou ao longo de todo este mês de Agosto em que dia após dia vimos o país arder. As reportagens das televisões mostravam cenários arrepiantes, as casas em perigo, o fumo asfixiante, as pessoas tentando lutar com os seus rudimentares recursos ao fogo que tudo consumia. Os meios técnicos pareciam nunca chegar a tempo e horas, a disponibilidade de aviões e helicópteros sempre dependente de concursos que não se realizaram ou de procedimentos que demoravam a dar resultados, os bombeiros exaustos, dando o seu melhor, mas a quem parecia faltarem conhecimentos especializados de combate e impotentes perante a intensidade do fogo procuravam proteger pessoas e casa... No final, uma outra pequena entrevista a meteorologistas que teciam comentários vagos ao estado do tempo e suas previsões, se as temperaturas teriam tendência para aumentar ou diminuir nos dias seguintes. Não me lembro de ter visto uma única fotografia de satélite, um mapa ou qualquer outro suporte de informação que justificasse as previsões, que introduzisse alguma racionalidade, que explicasse o efeito de correntes, de massas de ar, de ventos sobre o nosso pobre país!
A razão dos fogos que os media nos transmitem é assim obra de criminosos, de pirómanos, de interesses obscuros de madeireiros e de construtores, de particulares que não limpam as suas matas, de um sem número de delinquentes que ajudados pela canícula deleitam-se a brincar com o fogo... Claro que é bem possível que os haja, mas a verdade é que mal as temperaturas descem, as coisas acalmam!
Por isso a informação meteorológica é importante. Ela introduz racionalidade científica à conjugação dos elementos, permite-nos entender as variações que vão ocorrendo no estado do tempo e as condições a que vamos estar sujeitos. Penso que o facto da CNN, da Sky e tantos outros canais de televisão estrangeiros darem grande relevo à Meteorologia tem a ver com essa coisa essencial das sociedades civilizadas que é compreender a natureza ...nós por cá parece que nos bastam as explicações mágicas e as razões expiatórias.
Vamos pedir à RTP que apresente boletins meteorológicos como deve ser?

Teresa Gaspar

27.8.05
 
Os números da nossa vergonha
Mais uma vez esta semana (23/8) o Público trazia, com chamada à primeira página, um artigo de Isabel Leiria, que mostrava a estagnação das taxas de retenção e escolarização nos últimos anos. Baseava-se em estatísticas entre 1994/5 e 2002/3. No ensino básico estas taxas andaram, com algumas flutuações pequenas, na casa dos 13%. Esses valores já muito maus, pioram muito quando se considera o caso do ensino secundário onde atingiram 39,4 por cento em 2001.
As taxas de escolarização eram em 2002/3 de 87,3 no básico, 2º ciclo; 87,2 no 3º ciclo, 59,5 no secundário e 28,3 no superior.
Estes números são intoleráveis e traduzem a incapacidade da escola se organizar de modo a que todos aprendam, e sejam apoiados quando encontram dificuldades. Esta tem de passar a ser a missão principal da escola. A missão de fazer com que todos aprendam e não a missão de verificar se sabem e excluir. É preciso exigir mais trabalho aos alunos, mas é também preciso maior acompanhamento àqueles que têm a tentação de ficar pelo caminho e que pensam que ...se .afinal aos pais e avós também sucedeu o mesmo é porque é normal que assim seja.....
Estas estatísticas só são possíveis em virtude da indiferença e passividade com que assistimos à acumulação de insucessos, de fogos florestais de fuga ao fisco sem que nada de eficaz se faça para resolver os problemas do país.
Quais são os procedimentos usados para atrair para a escola os alunos que abandonam? Que motivos conduzem a escola a abandonar um número tão elevado de alunos do secundário pelo caminho? Que alternativas de formação existem ?

 
Escola pública: a opção impossível para muitos pais

Foto: Ana Maria Bettencourt

Escola pública: a opção impossível para muitos pais


É frequente ouvirmos as famílias portuguesas lamentarem-se por não poderem optar pela escola pública ao nível do 1º ciclo. Gostariam de o fazer, mas os horários são impossíveis para pais que trabalham.
Os horários de muitas escolas públicas são ainda em part-time, com graves prejuízos para as crianças, que ficam sujeitas a ritmos de trabalho incompatíveis com as necessidades de aprendizagem.
Este é um dos principais obstáculos à liberdade de opção.
Grande parte das situações de regimes duplos não pode ser justificada por falta de espaços escolares, nem tão pouco por falta de professores. Justificam-se pela indiferença e incapacidade de pensar o direito de todos à educação.
A qualidade da escola pública e o combate às desigualdades terá de passar por uma escola a tempo inteiro, onde existam condições para aprender, apoios, vida cultural, cantinas, educação física.
Como é possível que a administração educativa e algumas autarquias pensem o futuro, sem equacionar e mudar este estado de coisas? Como é possível que durante anos e anos a escola pública em part-time fosse considerada normal e aceitável?
É tempo de repensar esta situação. O Governo apresentou propostas neste sentido. Será que vai conseguir dar passos seguros? E, já agora que as eleições autárquicas estão à porta, seria bom que a pressa em mostrar obra não se traduzisse unicamente no arranjo dos espaços públicos.
Esta deveria ser a prioridade para todos os candidatos..
O futuro passa sobretudo por uma educação de qualidade para todos.

Ana Maria Bettencourt


24.8.05
 
Ainda o ambiente!


Foto de Ana Maria Bettencourt

Eis uma imagem que vem do fogo!
E, no entanto, não se vêem labaredas nem fumo, nem gente a chorar, ou a correr, ou a lutar contra as chamas, brandindo ramos ou arrastando e assestando pesadíssimas mangueiras…
Aqui os sinais do fogo não são a agitação terrífica do lume, a movimentação tresloucada dos ares faiscando com faúlhas, o pânico ou o desalento nos rostos das pessoas, ou os seus lamentos, ou as suas justas iras e a fadiga extrema.
Esta é uma imagem do “day after”, ou melhor , talvez de um ou dois “years after” .
É silenciosa, nada espectacular, ervas crescendo em geração espontânea, a envolver restos de lenha, espectros de arbustos e de pinheiros queimados ainda jovens. As árvores morrem de pé, lembram-se? Tudo envolto em neblina, sugerindo uma manhã orvalhada de Inverno, de uma infinita tristeza…

Alguns comentários de direcção diferente
Primeiro - Como seria útil que a comunicação social, e especialmente a TV, mostrasse imagens destas, TAMBÉM RELACIONADAS COM O FOGO, e as tratasse no seu significado profundo - a dimensão do ambiente, isto é, o coberto vegetal, a vida recomeçada (em quanto tempo?) e o seu (des)ordenamento, as implicações sociais e afectivas (aqui sim, saber a ressonância deste nas pessoas: os proprietários, os vizinhos, os trabalhadores) o significado económico, em suma, processos que certamente exigem busca de informação, conduzem ao retrato dos protagonistas nos seus contextos, enfim implicam um tratamento jornalístico, com um sentido de serviço de informação sobre fenómenos de enorme importância para a população em geral e não só respeitante aos os protagonistas directos tomados como “objecto” da notícia.
Eis um procedimento que ultrapassaria totalmente a reportagem de efeito imediato, centrada na transmissão repetida das chamas e da exploração despudorada da angústia das pessoas, afinal fácil de realizar – basta focar um “repórter” empunhando um microfone num cenário de fogo (porque não sempre o mesmo, para economizar deslocações?) e dirigir a câmara para os habitantes em estado de emoção pura!
O sucesso imediato é seguro, não há quem duvide do horror…mas o desgaste desse efeito é proporcional - inevitavelmente se banalizam as imagens e as sensações e elas perdem o impacto.
Fogo à hora de jantar ?Onde fica o concelho de XYZ ? Coitadas das pessoas!…

Segundo – As responsabilidades sobre o currículo que estão atribuídas às escolas oferecem várias possibilidades de realização de actividades neste âmbito que poderão adquirir um elevado significado educativo.
No início do ano escolar, as estafadas redacções sobre “as minhas férias” bem podiam dar lugar a um foco sobre os fenómenos relacionados com a mata ou a floresta (cuja existência não é tão evidente nas áreas urbanas, o que não lhe reduz a importância) .
Seria bem oportuno o desenvolvimento de projectos, quer ao nível das turmas, quer no âmbito do projecto curricular da escola, que conduzissem à pesquisa documental em várias vertentes (bibliográfica, cartográfica, suporte visual, etc.), ao estudo articulado e transversal, à recolha de testemunhos e de observação, à elaboração de materiais, à intervenção, em suma, contribuindo para o conhecimento integrado com a cidadania.


Foto de Ana Maria Bettencourt
Texto inserido por Maria José Martins


23.8.05
 
A propósito da subida ao Pico da Ana Maria Bettencourt… o contraste da descida aos infernos dos fogos nas serras do Portugal peninsular!


Portas de Ródão Foto: Margarida Graça



A propósito da subida ao Pico da Ana Maria Bettencourt… o contraste da descida aos infernos dos fogos nas serras do Portugal peninsular!

Para cada vertente de serra ardida (como as da Estrela, do Açor ou do Alvão), cada vale de rio (como o Zêzere), interroguemo-nos sobre quantas pessoas já a caminharam.
Quantas pessoas? Para subir e descer, para desfrutar essas vertentes, para reconhecer as plantas, as folhagens, a sobrevivência delas, umas mais agrestes outras mimosas, os fios de água ou os mais grossos caudais, os bichos voadores ou os que correm ou os esquivos ou os que mordem, os que cantam, os que transportam pólen ou os que transportam sementes, as rochas mais escuras, as rugosas, as pedras roladas, as aguçadas, as várias cores da terra, as cores de húmus a as de caliço, enfim as formas da vida....

E será também de as caminhar depois do fogo, como em homenagem, mas também para aprender a conhecê-las, porque cada espécie tem um modo próprio de morrer. Pois as árvores ardem todas de maneira diferente, e os pássaros, as abelhas, os coelhos, os javalis, as ovelhas e as cabras sofrem os seus dramas com o fogo e a seca, consoante os seus modos de viver…
E também, depois do fogo, com as cinzas, ver toda a vida em luto, mas esperar para ver como das cinzas se renasce, de novo com os seus modos próprios, brotando as forças vitais, com a chuva, ou a partir das profundezas, por esses campos sofridos…

Neste início de ano escolar, tão perto das dores dos incêndios, um desafio para as escolas se empenharem em todas estas formas de vida e de morte, nas terras a que pertencem, as terras em que vivem (porque é de vida que se trata)!

Será que em cada concelho haverá edições respeitantes ao património natural, que ofereça enquadramento para trabalhos das crianças e dos jovens? E que contributo poderão as escolas dar para que se produzam materiais úteis neste domínio?


Aqui vão algumas referências sugestivas, aqui à mão, sem fazer buscas nenhumas.
- Educação Ambiental: guia anotado de recursos. Manuel Gomes (Coord.).Editores: IIE / DEB / DES / CCPES, 1ª Edição: Maio de 2001 (Colecção: Materiais de apoio ao currículo.).
Trata-se de um instrumento auxiliar da prática de Educação Ambiental, identificando recursos em diferentes suportes, para o desenvolvimento práticas educativas e de projectos nesse domínio, viabilizando o seu carácter de interdisciplinaridade e de transversalidade e o seu papel na Educação para a Cidadania
Consulta em linha - http://www.deb.min-edu.pt/inovbasic/biblioteca/cmac01/index.htm

- Manuel Gomes (2002) Itinerários Ambientais. Percursos e Formação. Lisboa, Ministério da Educação

Regista e descreve um projecto desenvolvido desde 1998, no âmbito do Instituto de Inovação Educacional (infelizmente extinto em 2002), que gerou a constituição de redes de escolas, em locais tão diversos como Portimão, Ribeira Grande (S. Miguel), Lages do Pico, , Mira, Cascais, Campo Maior, Olivais (Lisboa), Sernancelhe, Montalegre…), para desenvolver projectos de Educação Ambiental, com base na realização de itinerários a partir da realidade ambiental de cada uma das escolas.

- Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada Há Fogo na Floresta (com ilustrações de Pedro Mendes) (2005) Lisboa, Público
Duas histórias passadas na floresta portuguesa, abrindo para o conhecimento de plantas e animais e para procedimentos de protecção da floresta, os cuidados básicos para evitar incêndios e o que fazer para dar o alerta em caso de fogo ou outro tipo de ameaça.

Na foto, uma região já muito fustigada pelos fogos, ainda preservada neste local, em vias de classificação como área protegida: O Rio Tejo nas das Portas de Ródão, vista da margem Norte para o Alentejo. (foto de Margarida Graça)
-Inserido por Maria José Martins, 23.08.2005

22.8.05
 
Desafios pedagógicos do Processo de Bolonha
A discussão sobre o Processo de Bolonha a que temos assistido em Portugal tem sido demasiado pobre e centrada na duração dos cursos.
Muitos debates partiram de ideias feitas: por exemplo a de que impossível desenvolver com qualidade licenciaturas de três anos . Poucas vezes assistimos à desconstrução dessas ideias. Seria importante por exemplo discutir a organização desses três anos não em termos de disciplinas mas sim de organização do tempo de trabalho e aprendizagem dos alunos. Do tempo consagrado ao estudo, à pesquisa, ao desenvolvimento de projectos, ao contacto com os professores.
Estarão os professores preparados para o novo papel que o Processo de Bolonha exige? Estarão as universidades e os politécnicos preparados para a mudança pedagógica sem a qual Bolonha não passará de uma maquilhagem?

Ana Maria Bettencourt

21.8.05
 
Os Açores e a educação ambiental e patrimonial


1-Terceira, Pico, Pico Foto: Ana Maria Bettencourt

Os Açores e a educação ambiental e patrimonial


Num dos poucos dias da passada semana em que o tempo o permitiu, subimos mais uma vez ao Pico. É sempre uma experiência inesquecível, apesar de muito difícil.
Pelo caminho cruzámo-nos com dezenas e dezenas de turistas europeus provenientes designadamente de França, Alemanha, Itália. Os portugueses eram bastante mais raros. Entre esses raros portugueses quero referir um grupo de escuteiros com que nos cruzámos primeiro e mais tarde uma família composta por pai, mãe e duas crianças menores de 10 anos que se preparava para a grande aventura que é subir a montanha e pernoitar na cratera. Experiência de grande valor pedagógico em que muito se pode aprender, tanto ao nível do método e da disciplina para abordar aquela experiência difícil, como da geologia ou da botânica. Aquelas crianças não esquecerão a aventura vivida e o que aprenderam naqueles dias.

Ao longo dos últimos dias fizemos passeios pedestres que nos revelaram uma vez mais a imensa riqueza da paisagem açoreana, na Terceira cujo interior profundo, porque só se pode percorrer a pé, é desconhecido de grande parte dos seus habitantes, e dos turistas que se vão ficando pela cidade património (lindíssima) , pelas festas e pelos locais onde se vai “ao banho”, que são de acesso mais fácil.

No Pico, o contacto com a dureza e beleza da acção vulcânica mais recente esmaga-nos. Mais uma vez me interroguei sobre a acção da escola na promoção do conhecimento e da capacidade de defesa da natureza. Felizmente há cada vez mais zonas classificadas e museus, o que facilita o conhecimento e defesa da natureza e património, mas existem também cada vez mais atropelos, o que torna indispensável a intervenção de cidadãos com uma formação cultural sólida e capacidade de defesa do património. Algumas entidades regionais bem como algumas associações, têm desempenhado um papel decisivo, como é por exemplo o caso de “Os Montanheiros”.
Mas, da escola exige-se muito mais para a formação dos cidadãos.

Ana Maria Bettencourt


 
A Arte do Vulcão



A Arte do Vulcão - Ana Maria Bettencourt - Pico. Agosto de 2005


20.8.05
 
O Museu da Escola
Que é feito do nosso Museu da Escola ? Alguém sabe ? Alguém viu ?

Em Ljubljana aproveitei para visitar o Museu da Escola Esloveno : foi fundado em 1898 e é "o museu mais antigo da Eslovénia especializado numa esfera específica da criatividade humana" !

Nasceu "como resultado da crescente consciência dos professores da sua identidade profissional e nacional" e a iniciativa partiu de um professor do ensino primário com a intenção de preservar e mostrar a história das escolas e do trabalho dos professores na Eslovénia. Extinto em 1912, ressurgiu em 1938 com o principal propósito de coligir materiais sobre a história das escolas primárias e secundárias em território esloveno. Em 1951 reviu-se este conceito de base criando-se, no museu, três unidades : a recolha e exposição de materiais, a biblioteca, e os arquivos/documentação. Além disso alargou o seu âmbito a todas as instituições que tivessem a ver com a educação. Tornou-se "o centro de documentação para a história da escolarização" em 1960. De então para cá desenvolveram-se muitas outras actividades, desiganadamente de formação.

Quando lá estive ainda pude ver os restos de uma exposição sobre Disciplina (e porque decorria na cidade uma Conferência Internacional sobre Violência contra as Crianças) e de uma "aula ao vivo" em que actores e futuros actores encenavam aulas de determinados períodos.

Segundo as responsáveis há dois anos estiveram lá representantes da Galiza que foram estudar o Museu para depois fundarem o seu, o que teria já acontecido.

E o nosso Museu da Escola ? Alguém sabe ? Alguém viu ?

Maria Emília Brederode Santos

19.8.05
 
Jorge Silva Melo entrevista Glicínia Quartim
Acabo de ver, na 2:, um documento que ilustra o que poderia/deveria ser uma tv que respeitasse a sua função educativa : uma longa e interessantíssima entrevista realizada pelo Jorge Silva Melo à Glicínia Quartim, se bem percebi pelo seu 80º aniversário. A Glicínia não é só uma grande actriz, é sobretudo uma personalidade invulgar: tão forte, tão positiva, tão creativa, tão nova, tão refrescante... eu sei lá ! É interessante vê-la também como um produto da Escola Oficina nº 1 onde foi aluna e onde a mãe foi professora. E podemos imaginar o contributo da escola (que era tão rica quer em espírito científico quer nos ofícios artísticos) na formação da Glicínia que foi bióloga antes de decidir dedicar-se mesmo ao teatro e ao ensino.( Sim, que ela foi professora na Escola Superior de Educação pela Arte, mais uma inovação interessantíssima que em Portugal se cria e se mata.)

Um momento particularmente comovente foi a sua evocação da colecção Saber da Cosmos ao mesmo tempo que a imagem mostrava todos esses pequenos livros, súmulas do saber da época, da Física ao Teatro, da Pré-história à Economia, quando ainda se acreditava que a educação seria o motor do progresso e da liberdade em Portugal.

Maria Emília Brederode Santos

9.8.05
 
E a 5ª estação é um novo público também !
A 5ª estação da vida corresponde aos seniores, aos maiores de 60 ou 65 anos, reformados, a quem os poderes, públicos e privados, têm vindo a tratar, nos últimos anos, como um "fardo social", uns inúteis, uns parasitas...

Na realidade constituem um grupo social que, para além de experiência, saber e por vezes sabedoria, gozam de duas imensas riquezas : tempo e a consciência da precaridade da vida.

Por isso concentram-se mais no importante do que no urgente (para retomar uma problemática de Vergílio Ferreira) e retomam a procura do sentido da vida. Interessam-se por aprender (em 2005 estão registadas, em Portugal, 65 universidades da 3ª idade e academias senior), pelo reencontrado puro prazer de aprender. Como é que as Universidades, sobretudo os cursos de Letras e de Ciências Socias e Humanas, ainda não descobriram este novo público e não se dedicaram a servi-lo ? Como é que a televisão, sobretudo a televisão pública, ainda não descobriu este público potencial para elevar a qualidade dos seus programas de dia ?

Quanto aos livros, escolhi para esta 5ª estação uma biografia do grande pintor Pierre Auguste Renoir escrita pelo seu filho, o realizador cinematográfico Jean Renoir e editada pela Bizâncio. Escrito com uma grande ternura e uma preocupada procura da verdade, creio que este livro "Pierre Auguste Renoir, meu Pai" é apropriado a quem está pronto para se lançar na compreensão de si e dos outros e na aprendizagem da felicidade pela via do enriquecimento interior .

E com este livro termino as minhas recomendações de leitura para 5 estações da vida que corresponderam a cinco géneros diferentes : conto, poesia, romance, ensaio histórico e biografia.

Dado o feliz prolongamento da longevidade humana, esta 5ª não será provavelmente a última estação ! Mas foram estas cinco as que me foram inspiradas pelo programa de Bárbara Guimarães na SIC Notícias - "Páginas Soltas" - que irradia o gosto pela leitura entre telespectadores das cinco estações da vida.


Maria Emília Brederode Santos

 
"Portugal em Transe"... para a 4ª estação da vida
"Sempre houve momentos na história mais intensos do que outros e durante os quais se condensa uma espécie de código genético que vigora e se desenvolve durante períodos posteriores..." escreve José Medeiros Ferreira no Prefácio do seu "Portugal em Transe", lindíssimo título do VIII volume da História de Portugal dirigida por José Mattoso.

Por isso, para a "4ª estação de vida", a idade adulta, a fase industriosa e empreendedora em que é importante compreender o mundo e o tempo em que se vive , escolhi esta história de Portugal que vai do 25 de Abril de 1974 até à entrada de Portugal na Comunidade Europeia, a 1 de Janeiro de 1986.

(Claro que tenho que fazer aqui uma declaração de interesses : estou casada com o autor desta "obra de autor". O que não me impede de saber apreciar a sua qualidade e a importância ...)

8.8.05
 
3ª Estação da Vida
Retomo os meus posts com recomendações de livros para várias estações da vida.

Salto o inicio da adolescência que está muito bem servido de livros escritos propositadamente para essas idades e refiro-me agora ao final da adolescência e à juventude :

Nessa "era" quando tudo parece jogar-se de novo e se procura, mais que nunca, um sentido para a vida, acho que os livros a recomendar devem ser as grandes obras-primas do romance (século XIX, primeira metade do século XX).

Entre estes , escolheria a "Guerra e Paz"do fabuloso Leão Tolstoi (que também foi pedagogo e até criou uma escola nas suas propriedades...) pelo seu valor intrínseco e também por um aspecto circunstancial : a Presença está a publicar uma nova edição, pela primeira vez traduzida directamente do russo, tarefa assumida pelo par bilingue Nina e Filipe Guerra que, por este trabalho, ganharam o Grande Prémio de Tradução Literária APT/Pen Clube Português.

Esta edição será em quatro volumes, Saíram já dois, está previsto o 3º para o próximo mês.

Maria Emília Brederode Santos