Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

11.7.06
 
Formação Contínua de Professores, Mudanças e Desenvolvimento Educativo
Ana Maria Bettencourt*

A formação contínua de professores tem hoje inevitavelmente associadas imagens de descrença, desânimo, desperdício. Como alterar este estado de coisas?
Como pode a formação contínua de professores contribuir para a modernização e para o desenvolvimento educativo? Em que medida pode contribuir para melhorar a escola e os seus resultados? Como pode servir de apoio a medidas que vão nesse sentido e que dizem respeito designadamente à escola a tempo inteiro, à prevenção dos abandonos escolares, à formação profissional e à educação de adultos?
A mudança terá de envolver de modo activo os professores ou correrá o risco de não passar de projectos de modificação geradores de insegurança. Por isso é necessário que existam nas escolas formas de acompanhamento e espaços de reflexão sobre a organização, as práticas educativas e os resultados escolares.
Num contexto de grande pressão social e mediática sobre a escola para que obtenha melhores desempenhos, os professores são olhados muitas vezes pela sociedade, injustamente, como bodes expiatórios de um sistema que funciona muito mal porque só é eficaz para alguns.
O desempenho dos professores é decisivo, mas para que obtenham melhores resultados, é necessário repensar o próprio mandato da escola que terá de se tornar num meio onde os alunos que encontram dificuldades, recebem os apoios necessários para as superar. É claro que a escola não pode resolver muitos dos problemas sociais que pesam no seu funcionamento. Mas, se não se mudarem profundamente, como fizeram outros países europeus, os modos de trabalho das equipas de professores, o sistema de acompanhamento dos alunos, a pedagogia utilizada na formação profissional e na educação de adultos, a gestão dos projectos de escola, estamos condenados a perpetuar um sistema inaceitável e injusto que desperdiça recursos e condena os jovens e os formandos à exclusão.
O sistema português falhou de modo trágico na gestão da mudança e na formação de professores. Independentemente de se concordar com esta ou aquela mudança/reforma é preciso analisar o modo como são lançadas, acompanhadas, avaliadas.
O sucesso de uma inovação educativa exige que os professores conheçam e compreendam bem os seus objectivos, o seu contributo para a solução dos problemas dos alunos, das escolas e do país e é também essencial que se mobilizem para a por em prática. A organização da mudança é um importante desafio que se coloca hoje às escolas.
A formação contínua dos professores pode ser determinante para a sustentação das mudanças visando designadamente a obtenção de melhores resultados escolares, mas terá de ser profundamente diferente da formação por catálogo, descontextualizada, na qual foram consumidas nos últimos anos, de forma pouco rentável, verbas astronómicas. Não está em causa o interesse que algumas formações referidas seguramente tiveram, mas sim a orientação global da formação contínua e a sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento educativo. Não é possível entender uma fórmula de financiamento cega que tem condenado as instituições de formação de professores do ensino superior a dar prioridade à formação inicial, ignorando as necessidades da formação contínua.
A formação dirigida a equipas pedagógicas e situada em contexto de trabalho com apoio/parceria de equipas de formação/investigação, gera um ambiente de maior segurança e capacidade de inovação. Este ambiente é essencial para que os professores se sintam com confiança para iniciarem transformações nas suas práticas e analisarem os resultados obtidos, entendendo deste modo que não é a sua capacidade profissional que está em causa, mas sim a evolução das suas funções e a organização do trabalho.

*Professora da ESE de Setúbal

Publicado no Jornal de Letras - Educação

Comments:
"É claro que a escola não pode resolver muitos dos problemas sociais que pesam no seu funcionamento. Mas, se não se mudarem profundamente, como fizeram outros países europeus, os modos de trabalho das equipas de professores, o sistema de acompanhamento dos alunos, a pedagogia utilizada na formação profissional e na educação de adultos, a gestão dos projectos de escola, estamos condenados a perpetuar um sistema inaceitável e injusto que desperdiça recursos e condena os jovens e os formandos à exclusão."
Afinal qual é o sistema inaceitável e injusto...?
É o sistema educativo que temos?
É o sistema social?
Os outros países europeus fizeram melhor por causa das mudanças recentes, que fizeram nos seus sistemas educativos ou por, simplesmente, estarem com economias menos em crise?
Quais são, especificamente os países a que se refere?
 
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