Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

3.1.08
 
ANO NOVO...O INVESTIMENTO E O MANDATO DA ESCOLA
Nos últimos anos, Portugal tem vindo a interrogar-se sobre os frutos do esforço de investimento na Educação. Passámos de uma etapa em que se considerava, de forma generalizada, que o problema da educação residia na falta de investimento, para uma outra etapa em que se aponta para problemas de funcionamento.

Alguns procuram encontrar, de modo simplista, bodes expiatórios, nos professores ou na acção do Ministério da Educação.

Considero que não é o investimento em educação que está em causa mas o modo como se entende o mandato da escola e como esta o gere, a passagem de parte significativa da responsabilidade pelo que se aprende da família para a escola e para as equipas compostas de professores e outros profissionais. O que exige mudanças profundas ao nível da organização, da pedagogia, e sobretudo da capacidade de a escola apoiar os alunos.
Para que estes trabalhem mais e aprendam a fazê-lo na própria escola.

Parece haver consenso em torno da ideia de que é preciso que os alunos da escola pública trabalhem mais. Mas enquanto uns consideram que esse trabalho tem de ser realizado em casa (ou nas explicações), para outros, a evolução da população escolar /democratização do acesso obriga a que seja realizado, em grande parte, na escola, sob pena de não existir.

Há uns tempos, numa reunião internacional promovida pelo Conselho Nacional de Educação, uma professora norueguesa contou como, no seu país, se passou de uma fase de grande perplexidade - como era possível que o país com um dos maiores investimentos em educação apresentasse resultados insatisfatórios nos testes internacionais? - para uma fase de questionamento e pesquisa de novas formas de organização e trabalho com os alunos.

Em Portugal deram-se passos significativos para que a escola pública pudesse ser mais eficaz. Aumentou-se o investimento, melhoraram-se os equipamentos, caminhou-se para a estabilização dos professores nas escolas, sem a qual não havia qualquer hipótese de aumentar a responsabilidade pelas aprendizagens. Mas a estabilidade, sem uma organização que garanta a continuidade pedagógica, o funcionamento em equipa, a reflexão conjunta e a procura de soluções para os problemas de aprendizagem dos alunos, não trará os frutos que dela se esperam.
Uma organização em que o tempo dos professores seja mais rentabilizado, estes se sintam mais realizados, e os alunos trabalhem mais e sejam mais apoiados na própria escola.

Que o Ano Novo permita novas dinâmicas e melhores resultados para todos!

Ana Maria Bettencourt

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