Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

24.2.05
 
AFINAL O QUE É UMA ESCOLA?!*
Há 100, 50 anos, ou mesmo há 25 anos, uma escola não era o mesmo que tem de ser hoje. Na Europa do século XXI a escola tem de ser um local aonde se educa, se instrui, se socializa e se acompanham os alunos até à sua inserção na vida activa. Exige-se “uma escola para todos”, que promova a equidade e coesão social, que assegure as aprendizagens e o sucesso escolar e desenvolva uma educação equilibrada e diversificada que vai do inglês, ao desporto e às artes.

Para poder cumprir esta missão a escola tem de ter condições que passam por profissionais qualificados, apoios técnicos especializados e acessíveis, e bons espaços físicos. A escola tem também de servir refeições e de ter locais para os profissionais reunirem, trabalharem e se relacionarem com a comunidade local.

Para além da amplitude e dificuldade do debate à volta das escolas e das redes educativas há questões que subsistem por resolver e, apesar do percurso feito e de existirem exemplos modelares e de uma qualidade quase inexcedível, essa não é a regra e o conforto dos espaços, a oferta de equipamentos especializados e a acessibilidade dos apoios técnicos está longe de ser uma realidade.

Uma primeira questão tem que ver com as características e dimensão das escolas. Será que se justificam as pequenas escolas rurais e urbanas e os agrupamentos escolares decididos com mera fundamentação administrativa?

- “Centros Escolares de média dimensão”, “Centros Educativos Comunitários” ou “agrupamentos de escolas do ensino básico numa lógica em que a organização seja instrumental face às finalidades educativa” aparecem em três programas eleitorais como medidas que podem ultrapassar o isolamento de alunos e professores ou resolver o absurdo da constituição de alguns agrupamentos. Mas será que os recursos físicos e humanos que hoje uma escola exige são possíveis para dar resposta a grupos reduzidos de alunos? Não há alternativas que favoreçam melhor a socialização e multidisciplinaridade que a aprendizagem implica e de que, tanto alunos como professores, necessitam. A resposta não é fácil e talvez seja de admitir que a muito pequena escola já não é a que os alunos e os pais preferem, nem é a que o país precisa para fazer progredir a qualificação dos seus jovens e para ultrapassar os tão desoladores resultados qualitativos do seu sistema educativo. Haverá dinheiro para manter uma rede excessivamente dispersa com a qualidade que se exige e será que é por manter a escola que se pode suster a morte de um aldeia!

Outra questão refere-se à imprescindibilidade de uma escola poder dispor de apoios técnicos e infra-estruturas especializadas.

O “reforço das redes de cooperação com vista à partilha de recursos humanos, materiais e financeiros e infra-estruturas entre escolas”, ou a “rede territorialmente equilibrada e eficiente de recursos educativos, sociais e psicológicos para apoio às escolas e aos professores” são ideias que aparecem também em dois programas eleitorais e que merecem ser bem trabalhadas, porque permitem assegurar às escolas as condições sem as quais não podem responder à grande ambição que se lhes atribui. A dificuldade tem estado e está em saber que recursos, que integração e articulação entre eles, quem assume a sua gestão e o seu equilíbrio e quais são as condições para que a partilha pelas várias escolas seja adequada, oportuna e eficiente.
Até agora, tem sido mais fácil, criar estruturas paralelas, “reinos” concorrentes. Como ultrapassar esta dificuldade num momento de emagrecimento da administração pública, sem criar ainda mais uma nova estrutura para coordenar as restantes. Esta é a dificuldade e o desafio, tanto mais que a educação, hoje, para acontecer, também se tem de articular com outros sectores da administração, como sejam, a saúde, a segurança social, o emprego e a justiça.

Maria José Rau
*Publicado no jornal A Capital no dia 19 de Fevereiro
Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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