Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

27.2.05
 
Gestão das escolas, mas gerir o quê?
A toda a hora se refere a criança e/ou jovem como fulcro da política e da acção educativa. Assim sendo, e porque a criança e/ou jovem não são uma tábua rasa, onde se imprime indiferentemente, o que quer que seja, juntamente com as questões da construção do conhecimento, surge a preocupação com as matérias de ordem psicológica e sociológica, com a pedagogia e a didáctica.

Se o que acabámos de afirmar, embora nos pareça óbvio, não é igualmente aceite por todos, as vozes dissonantes ainda aumentam mais quando abordamos a questão da gestão das escolas.
O que têm a ver o desenvolvimento das crianças e dos jovens com a gestão das escolas?

Pois é, na nossa opinião, tem tudo a ver. E é interessante verificar que no Programa do PS, que acaba de ganhar as eleições, se referem diversos assuntos que deviam dizer, obrigatoriamente, respeito à gestão das escolas, sem nunca indicar a palavra fatídica- gestão- a não ser dizendo, genericamente “…as escolas verão reforçadas as suas capacidades próprias de organização e gestão, num quadro de maior responsabilização e avaliação de processos e resultados…”.

Interrogámo-nos: porque será que se continua a abordar, mais ou menos sistematicamente, várias questões essenciais à vida das escolas, ignorando o papel da gestão, como se essa não fosse uma peça decisiva na melhoria do funcionamento das escolas??

Expliquemo-nos melhor: ter uma ideia clara sobre as matérias que devem estar no âmbito da gestão das escolas, por que assim sendo se torna clara a sua responsabilidade sobre a aprendizagem aos alunos, é uma tarefa fundamental. Por isso mesmo, não tem sentido ou tem reduzidas consequências falar em autonomia, contratos de autonomia, contratos programa, sem um quadro claro de definição das matérias sobre as quais as escolas podem exercer maiores responsabilidades com benefícios para os alunos. ( nomeadamente, colocação e definição do trabalho lectivo ou não do professor, definição de tempos e espaços, definição local de uma parte do currículo, gestão financeira…)

E aí é que está o busílis, saber sobre quais os campos de trabalho e respectivos graus de autonomia, o Governo ( estamos a falar de poder) estará convencido da importância e terá os meios para obrigar, a administração central e regional, a passar poder de decisão às escolas.

O poder e as competências fundamentais de ordem geral, que devem ser exercidas plenamente pelo governo e pelas administração central e regional, não devem ser confundidas com o exercício de questões que, melhor do que ninguém, as escolas devem ter a responsabilidade de assumir.

Não podem continuar-se a elaborar Projectos Educativos de Escola, só porque está na lei, sem serem criadas condições para que esses passem a ser instrumentos fundamentais de gestão. Mas assim continuará, enquanto aspectos fundamentais da vida da escola, como os acima referidos e que afectam todos( alunos, professores, pais, autarquias, funcionários) não fizerem parte dos assuntos sobre os quais a direcção e gestão da escola terão que assumir a decisão e a responsabilidade.

Por isso, e porque pensamos que a produção de mais literatura política sobre educação, só por si, não é uma prioridade para o nosso país, ficámos a aguardar um programa que, entre os focos de mudança proponha novos campos de acção para a gestão das nossas escolas.
Para que a lógica organizativa seja instrumental face às finalidades educativas, como muito bem se afirmava nas bases programáticas do partido socialista, a prioridade não é alterar o desenho da gestão mas as margens de manobra da gestão de cada escola.
Berta Macedo
Publicado no jornal A Capital a 26 de Fevereiro
Comentários Inquietacoes_Pedagogicas@hotmail.com

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