Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

7.3.05
 
De Manuais e Outros Materiais que Tais*
Há muito que estão diagnosticados dois problemas relativos aos manuais : o do seu custo para os alunos e famílias e o da sua qualidade.

Também as soluções são bem conhecidas e já há muito experimentadas noutros países. De facto, em países com um nível de vida bem superior ao nosso, os manuais escolares são emprestados aos alunos no início do ano e por estes devolvidos à escola no final – e isto sem necessidade de envolver direcções regionais nem, muito menos, criar “estruturas especiais” no Ministério para acompanhar o processo. Qualquer escola, através do seu centro de documentação ou mesmo da sua secretaria, pode e deve assumir este processo desde que para isso tenha verbas e que os seus órgãos próprios façam opções claras sobre os manuais a conservar e os manuais a renovar e com que periodicidade.

Já o problema da qualidade dos manuais é um pouco mais complicado. Não por os manuais serem “muitos” como se chegou a dizer, mas porque não se trata apenas da qualidade científica dos ditos cujos e sim também de outros factores como a sua qualidade pedagógica e estética ou a sua adequação aos destinatários e à função. A avaliação de manuais não deverá consistir assim numa espécie de aprovação /reprovação e sim numa classificação em vários parâmetros que informe os professores das forças e fraquezas de cada manual e os deixe menos à mercê das estratégias de “marketing” das editoras. E aí sim convirá criar ou aproveitar uma “estrutura especial” no Ministério que recorra a especialistas das várias áreas e dimensões.

Finalmente qualquer legislação sobre o assunto deve contemplar a possibilidade de o professor não querer utilizar manuais escolares. Muitos dos melhores professores preferem “fabricar” eles próprios os recursos dos alunos. Se isso já acontecia por exemplo na Língua Materna em que muitos professores preferem usar obras completas de autores em vez dos excertos dos manuais, hoje, com as novas tecnologias, em todas as áreas isso é possível.

Aliás estes problemas já deveriam estar resolvidos há muito e ultrapassados. Neste momento deveríamos estar a tratar justamente de problemas referentes aos materiais em novas tecnologias e das formas de os rentabilizar para a educação. E aí também se colocam problemas de visibilidade e de avaliação. Ainda há pouco as autoras de um CD-ROM bem pensado e bem executado ( “vamos brincar aos médicos No Hospital das Brincadeiras”) me perguntavam se o Ministério da Educação não tinha uma estrutura avaliadora destes materiais para onde o pudessem mandar. De facto, o antigo Instituto de Inovação Educacional encomendava e publicava na revista NOESIS fichas de avaliação dos CD-ROMs educativos de que ia tendo conhecimento e constituiu depois uma base de dados que disponibilizava a todos na internet. E o programa NONIO organizava concursos de produção desses materiais aos quais dava uma certa visibilidade. Depois, e tudo um tsunami levou … E a verdade é que as forças do mercado livre ainda não resolveram o problema nem parecem interessadas em fazê-lo.

Maria Emília Brederode Santos
* Publicado no jornal A Capital a 5 de Março
Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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