Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

14.3.05
 
A Formação Contínua de Professores-interrogações e desafios*
No actual quadro de desafios sociais, políticos e da educação, a Formação Contínua dos professores (FC) é genericamente reconhecida como um importante factor de inovação do sistema.
A este propósito, será interessante invocar o «Relatório sobre os objectivos futuros concretos dos sistemas de educação e de formação», aprovado em 2001 pelo Conselho Europeu de Estocolmo [1]. Logo no primeiro Objectivo estratégico enunciado, associa-se o desígnio de Melhorar a educação à activação da formação dos professores e dos formadores. Para a sua execução, são identificadas algumas acções-chave, de que sobressaem duas ordens de princípios:
- a vinculação da função de professor às exigências da sociedade actual (os desafios levantados pela sociedade do conhecimento, as exigências de justiça social, reforçando o carácter inclusivo da escola), o que aponta para a necessidade de clarificação de perfis de competências, no sentido da qualidade generalizada do desempenho dos professores e de correspondentes dispositivos de avaliação;
- uma perspectiva “em aberto” do exercício da profissão, contemplando a flexibilidade do percurso profissional, a facilitação de recrutamentos diversificados e necessariamente, a aprendizagem ao longo da vida.
Em ambos estes aspectos, a FC constitui um eixo fundamental. No referido relatório, e correspondendo à natureza programática do seu enunciado, os indicadores definidos para a medição dos progressos realizados são expressos em termos do nível de qualificação dos professores e do seu acesso à formação profissional contínua

Face a tais desígnios, que se inscrevem nos compromissos internacionais do nosso país, e são obrigações incontornáveis das nossas políticas educativas, é pertinente perguntar: Em que ponto se encontra a realização destes objectivos operativos em Portugal?
A consulta de dados publicados por entidades responsáveis pelas políticas de FC (como as estatísticas de acreditação do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua e os Relatórios de Execução do PRODEP) não dão elementos suficientemente descritivos sobre estes processos.
De que dados deveríamos dispor?
o Informação sobre a formação que os professores, do ensino público e privado, têm efectivamente seguido (custos e acções, globais e sectoriais, por nível educativo e por regiões, por idades, modalidades, durações, incidências temáticas e revelando também o cruzamento destes factores…)
o Avaliações dos efeitos da formação nas práticas e na melhoria da Educação
o Elementos sobre a expressão de estratégias de formação articulada com o desenvolvimento da acção da escola
o Dados sobre a acção dos Centros de Formação das Associações de Escolas
o Dimensão da acção das instituições de Ensino Superior: como se potencia a articulação entre os terrenos da Formação Inicial e da Formação Contínua e o da produção de conhecimento sobre a Educação?

E porquê levantar interrogações sobre o que foi (ou não) realizado, quando se aguarda com interesse o programa de um novo governo e todos reconhecemos a premência da acção neste campo?
A formação de professores é referida de modo sintético e genérico no programa do PS às eleições - aponta-se para um programa nacional, com explicitação de perfis de desempenho e deixa-se entrever a sua articulação com a avaliação do desempenho e o incentivo à melhoria da qualidade, quer das práticas de ensino, quer dos programas da própria formação.
A abertura de um novo ciclo na FC seria bem mais segura, se não ignorasse enormes investimentos financeiros, experiências em contextos diversificados, e a existência de recursos que constituem um património valioso, a relançar agora para novos desafios.

Maria José Martins

Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com
[1] (http://europa.eu.int/scadplus/leg/pt/cha/c11049.htm)

*Publicado no jornal A Capiatal a 12 de Março

Comments: Enviar um comentário

<< Home