Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

19.3.05
 
Rondando o Dia do Pai
Gostaria de partilhar alguns desabafos sobre o anunciado Dia do Pai. O significado social, a forma como estas comemorações se repetem anualmente agravam o papel mais tradicional de pai: fechando em vez de abrir sobre novos horizontes e dinâmicas inovadoras.
A escola não foge à onda normalizadora do consumismo social com que este tema é agarrado. Claro que penso nas crianças que têm que se entusiasmar com mais este assunto que a escola lhes propõe quer tenham pai ou não, quer tenham feridas, saudades, agruras, ressentimentos … claro que penso que no tratamento desta temática sem a riqueza da sua problematização. (Também poderia pensar nos pais frente à falta de criatividade e qualidade reflectida nas produções dos seus pimpolhos mas passo este aspecto à frente…) Todavia, o que me doi é perder-se a oportunidade– na escola e fora dela – de uma importante e desempoeirada reflexão sobre o que é ser pai hoje.
Ser pai, no mundo ocidental, é complexo e acompanha as transformações da família, da conjugalidade, da masculinidade, das relações interpessoais no espaço doméstico. São exigidas - para a maioria dos pais - novas formas de exercer a paternidade, bem diferentes das vividas na sua infância: envolvimentos com intimidade; relações com expressão dos afectos e sentimentos. Assim, não só não se reproduzem modelos conhecidos como ainda ser pai não é uma cópia do que é ser mãe.
No confronto com os pedidos paradoxais de papéis, simultaneamente tradicionais e da modernidade, o que é exigido aos pais é uma descoberta pessoal.
O que realmente se espera do Dia do Pai é que não se façam ondas e que se festeje sem inquietudes nem sonhos.

Milice Ribeiro dos Santos
Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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