Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

23.3.05
 
Transições...Pedagógicas*
Aumenta a investigação a nível nacional e, sobretudo, internacional, sobre a importância das transições na vida da criança ou do jovem: da família para a creche ou jardim de infância; do jardim de infância para o 1º ciclo; da escola para o ATL; do 1º para o 2º ciclo…. do secundário para a universidade… se as crianças e suas famílias estão preparadas (e se preparam) para estas transições. As perspectivas ecológicas (Bronfenbrenner, 1979) têm demonstrado a importância de abordar esta temática de forma sistémica. Um estudo realizado recentemente na Alemanha (Fthenakis, 2000, 2003) considera serem necessárias as seguintes competências básicas nos primeiros anos: aprender a aprender (penso ser inata a disponibilidade para aprender nas primeiras idades); desenvolver a resiliência (isto é, a capacidade de incorporar, de forma dinâmica e construtiva, as normais adversidades) e fazer face às transições de forma dinâmica.
Podemos assumir que as transições trazem descontinuidade (Griebel & Neisel, 2003) e, portanto, podem causar perturbação emocional ou social, assim como descontinuidades na aprendizagem. Assegurar que cada transição tenha sucesso é fundamental e significativo para o bem-estar emocional da criança ou do jovem, mas também importante para o seu desempenho cognitivo.
A transição da criança mais pequena para o 1º ciclo implica a adaptação a uma nova cultura institucional, a integração num grupo diferente de pares, o conhecimento de outro professor. Mas alguns autores vão mais longe e indicam os factores indicativos de uma inserção positiva no 1º ciclo: são eles, além do normal sucesso escolar, a capacidade de fazer amigos demonstrando iniciativa nas interacções, competências sociais de colaboração mas, também, auto-confiança e auto-controle..
A palavra transição pode lembrar “ritos de passagem”. Só se fazem transições com sucesso mediante os decorrentes processos de articulação entre os vários níveis do sistema. A legislação portuguesa contempla amplamente a necessidade de articulação: relembro, por exemplo, o artigo 8º da Lei de Bases ainda em vigor que insiste que a articulação entre ciclos obedece a uma sequencialidade progressiva, conferindo a cada ciclo a função de completar, aprofundar e alargar o ciclo anterior, numa perspectiva de unidade global do ensino básico.
Uma nova conceptualização da transição – no sentido de a tornar pedagógica, isto é, potenciadora de desenvolvimento - implica que se incorporem os saberes e as perspectivas das crianças e famílias, mas se não ignorem os saberes e perspectivas dos educadores e professores aos vários níveis do sistema. Quer dizer, as transições têm que ser co-construídas e co-negociadas, sendo o projecto último garantir que a criança/aluno esteja feliz e aprenda em cidadania. Perguntemo-nos, então, como será possível “andaimar” (apoiar, sustentar) estes processos de modo a torná-los potenciadores do desenvolvimento de todos os que estão implicados neles.
Teresa Vasconcelos
*Publicado no jornal A Capital a 19 de Março
Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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