Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

1.4.05
 
Comentário ao texto de Maria Emília de 28 de Março
Como comentário ao texto da Maria Emília Brederode Santos “José Caldas acende a luz” re-lembro o papel do teatro e da expressão corporal na formação de professores.
Seguem-se extractos de um texto que escrevi em 1997 “Uma experiência inovadora na formação contínua de professores” integrado no mesmo livro de depoimentos José Caldas – 20 anos de teatro e miscigenação

“ O 25 de Abril estava perto, na escola os movimentos de mudança fervilhavam, a escola repensava-se.
Em Outubro de 1976, a DOE, Divisão de Orientação Educativa, coordenada por Lisete Barbosa Castro, organizava as primeiras acções de formação para directores de turma e professores.
(…)
O trabalho de José Caldas explorava aspectos diferentes, pois apelava à criatividade e espontaneidade, tocava as fantasias de cada um, as descobertas intuitivas, banhava-se numa irreverência revitalizadora.
O surpreendente e o inusitado das situações agarrava os professores, propondo-lhes questões e, frequentemente punha-os em questão. O clima tecido em grupo pretendia-se reparador, capaz de superar possíveis fragilidades pessoais. Mas também houve quem partisse, quem não quisesse ou não fosse capaz de responder às exigências, quem abandonasse.
(…)
O Caldas era exemplar na gestão destes dificéis equilíbrios da animação educativa: ele devolvia sabiamente ao grupo as sínteses promotoras de um amadurecimento.
Esta concepção de formação tinha subjacente a polémica ideia de que só se muda como professor quando se muda como pessoa. Acreditava-se pois, que o indivíduo podia descobrir, compreender e afirmar as suas potencialidades e que a formação deveria optimizar este percurso do aprender a ser.
Assim, se por um lado se se apelava à expressão de uma criatividade, à improvisação, ao sensitivo, à comunicação com o outro, por outro lado estimulava-se um auto-conhecimento, uma reflexão pessoal e intimista; procurava-se uma formação multidimensional sobre todos os aspectos do indivíduo.
No final dos anos setenta e princípios dos anos oitenta, a herança de uma escola do passado, rígida, selectiva e sem esperança coabitava conflituosamente com os princípios de uma escola humanizada participante na democracia e justiça social.
Este dispositivo de formação trabalhava as relações interpessoais e a dinâmica de grupo: a capacidade de escuta, de aceitação, de empatia e a compreensão dos fenómenos grupais. Estas competências relacionais eram uma das principais finalidades desta formação: um professor amigo, disponível para as crianças e jovens, consciente do seu possível papel como figura de identificação, como facilitador dos processos de autonomia e de aprendizagem , interessando-se por eles como alunos e como pessoas.
(…)
Contei com uma certa nostalgia … “ e deixo um histórico abraço.
Milice Ribeiro dos Santos
Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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