Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

3.4.05
 
Comentário à mensagem de Ana Vasconcelos de 31 de Março
Aproveito a sossegada e calma manhã de domingo, ao som do violoncelo de
Mischa Maisky, para "reagir" à importante mensagem da Ana Vasconcelos,
pedopsiquiatra. Identifico-me profundamente com o que diz, a começar pela
citação da Hannah Arendt com a qual (citação) e com quem (autora) também me
identifico profundamente. Tenho dedicado toda a minha vida às questões da
educação de infância e, como formadora de profissionais e investigadora
neste campo, preocupo-me também com a falta de quadros de referência que
proporcionamos às crianças ... sobretudo as mais pequenas que, sendo cidadãs
de corpo inteiro e sujeit(a)s de direitos, exactamente porque são cidadãs,
também devem começar a entender desde cedo que os deveres - prefiro falar em
RESPONSABULIDADES - são o reverso da medalha ou, eventualmente, o que falta
ao outro prato para equilibrar a balança. Preocupa-me hoje ver muitos pais
com "receio" de estabelecer limitas e deixando-se literalmente "tiranizar"
pelos filhos - já o "nosso" João dos Santos dizia que sem frustração não há
educação - ainda que me pareça mais e mais ( e a nova sociologia da infância
para isso aponta) que o devam fazer em "negociação" com as perspectivas dos
filhos, mas não deixando de assumir as suas funções de mães e pais, isto é,
aqueles que dão "a criação". Encontro esta "ausência" de figuras parentais
tanto em crianças de grupos sociais favorecidos como em grupos sociais
considerados "desfavorecidos". Por isso defendo de há largos anos a esta
parte que o trabalho dos profissionais de educação -- educadores de
infância, professores do 1º ciclo, psicólogos, pediatras, etc,etc -- deve
ser feito numa intervenção directa com as crianças mas, também, com os pais,
no sentido de criar dinâmicas de interacção e de apoio mútuo que contribuam
de forma benéfica para o projecto de desenvolvimento (e de vida) das
crianças. Mais do que enchê-los de "coisas", "objectos", precisamos de ter
como prioridade das nossas vidas dar-lhes tempo, atenção, afecto... E
limites, quando tal se revelar necessário... Sem entrar em desnecessárias
lutas de poder. Lembro há dias o meu sobrinho-neto Manel de 2 anos
recém-feitos que, inundado com "mimos" de Páscoa e ovos de chocolate dados
pelos padrinhos, preferia brincar enfiado numa caixa de cartão que era
empurrada pelo chão da sala por um dos tios... esquecendo-se do triciclo ou
bicicleta último modelo comprada em qualquer "Toys or us"!
Teresa Vasconcelos

Comentários inquietacoes_pedagogicas@hotmail.com

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