Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

18.4.05
 
Elevar o Debate sobre a Educação
Realizou-se em Castelo Branco, entre 7 e 9 de Abril, o VIII Congresso da Sociedade Portuguesa das Ciências da Educação.
Várias das conferências trataram a questão da produção do conhecimento na área da Educação e da sua relação com as tomadas de decisão pelas múltiplas instâncias políticas, com as práticas no campo da educação, e ainda com a interacção social neste domínio.
Na sua conferência plenária, com o tema “Saber Educativo e Culturas Profissionais”, Maria do Céu Roldão sugere uma reflexão sobre três “campos de tensão” relacionados com o saber em educação:
- Entre a sociedade e a comunidade da educação
- No interior da comunidade da educação – o “saber sábio” e o “saber prático”
- Entre a comunidade da investigação educacional e a comunidade da prática educativa.

Esta conferência suscita aos protagonistas da área da Educação algumas interrogações. Refiro-me designadamente às tensões que MCR identificou no seio da própria comunidade das Ciências da Educação e que deverão, verdadeiramente inquietar-nos.
Na verdade, estas tensões, expressas tão frequentemente em conflitos, em vez de produzirem energias criadoras de mudanças, poderão, afinal, alimentar o desentendimento entre a sociedade e a comunidade da educação a que MCR se refere no seu primeiro campo de tensão.
Uma das responsabilidades que poderemos assumir é a de produzir uma divulgação pertinente e eficiente do saber educacional, dirigido a públicos não profissionais, mas necessariamente interessados, corresponsáveis e socialmente envolvidos, dos mais diversos pontos de vista, no campo da educação.
Noutros domínios da Ciência, este processo constitui, nos nosso dias, um forte campo de investimento - no domínio das ciências da vida (a genética, a saúde…) ou da natureza (o ambiente, as estratégias de produção agrícola ou florestal, a meteorologia…) ou da economia ou até da astronomia. A comunidade científica desenvolve, a par da investigação, práticas de difusão que contribuem para que o “público” se aproprie desses conhecimentos, para os incorporar nas suas práticas de vida pessoal e familiar e, num sentido mais amplo, nas suas vivências sociais, expressas no exercício da cidadania.
É neste sentido que podemos interrogar-nos sobre o modo como se exprime, em geral, no domínio social, tudo o que se refere à Educação e analisar criticamente (o que causa frequentes perplexidades) os processos de abordagem da educação predominantemente realizados pela comunicação social.
Mas o facto é que esta deverá ser uma inquietação da própria comunidade educativa.
O que fazemos, para que passe para a sociedade a problemática envolvida no/s processo/s da educação? Como centrar as notícias, as análises, as polémicas, em conteúdos que transmitam as infinitas implicações de tudo quanto se passa nas escolas e ainda do que lá não se passa e do que se passa fora dela e não é menos relevante para a educação? Como se poderá elevar, realmente, o debate sobre a educação, dando-lhe substância e, simultaneamente, aproximando-o de todos aqueles a quem a educação diz respeito, que são, afinal, TODOS?...
Em suma, enfrentemos como um desafio a tensão “entre a sociedade e a comunidade da educação”: teremos de convertê-la numa tensão dinâmica que poderá contribuir para a construção da “sociedade educativa”.

Por Maria José Martins
Publicado em "A Capital" em 16.04.2005

Comments: Enviar um comentário

<< Home