Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

11.4.05
 
A Web e a TV Educativa: Um Matrimónio Secreto Ignorado em Portugal
Haverá, em Portugal, novos públicos a necessitarem novas respostas educativas ?
Sem dúvida.

Comecemos pelo princípio, isto é, pelos mais novos :

Se só há uma dezena de anos Portugal começou a fazer um enorme esforço para oferecer uma educação de qualidade às crianças de 3 a 5 anos e a sua rede do pré-escolar ainda está longe de cobrir a totalidade destas crianças, a verdade é que a educação de crianças mais novas , isto é, com menos de 3 anos, é já uma realidade ou uma preocupação na maioria dos outros países europeus. É no fundo uma nova concepção da criança e das suas necessidades educativas.
Este é portanto um novo público para o qual Portugal ainda não encontrou – nem procurou – respostas educativas adequadas.

No que diz respeito às crianças em idade escolar ( e esta vai hoje obrigatoriamente até aos 15 anos), basta recordar os números do abandono, do insucesso e do desempenho em testes internacionais como reveladores da necessidade de novas e diferentes respostas educativas. E o prolongamento anunciado da escolaridade obrigatória para 12 anos vai requerer que a própria escola se transforme de modo a que deixe de ser possível que, logo no 10º ano, um quarto dos alunos que nele se inscrevem abandonem a escola.

Mas há também, como todos sabemos, públicos não atingíveis pela rede escolar :

A população activa portuguesa em média tão fracamente escolarizada e que se manifesta maioritariamente sem vontade de aprender . A população imigrante, muitas vezes mais escolarizada do que a nacional (o que só veio tornar mais visível e penosa a baixa escolaridade da população portuguesa), mas desconhecedora da língua e cultura portuguesas e tendo, por isso, necessidades educativas claras e tão diversas quanto a sua origem e língua materna.

O prolongamento da média de vida dos portugueses criou também um número considerável de reformados, desejosos de actividade mental, como o demonstra a existência, em 2005, em Portugal, de 65 universidades e academias seniores, o que constitui, aliás, um dos poucos sinais positivos de vitalidade cultural na sociedade portuguesa.

Como chegar a esses novos públicos tão carenciados de informação e de enriquecimento cultural ?
O único meio que hoje o pode fazer é ainda a televisão que cobre praticamente 100% dos lares e chega a toda a gente.

Ora enquanto em Portugal, sobretudo nos últimos anos, a televisão recusa a sua dimensão educativa, reduzindo às duas primeiras a tríade clássica das funções televisivas - informar, entreter e educar -, em quase todos os países europeus e americanos, pelo menos, reforça-se essa dimensãoo educativa da televisão, agora combinada com os "sítios" na Internet : multiplicam-se os canais com programação educativa, produzem-se programas para públicos específicos, reabilita-se o cultural, criam-se "extensões à comunidade", introduz-se o "video a pedido", constroiem-se "sítios" que permitem aprofundar e desenvolver os temas tratados nos programas emitidos, publicam-se dossiers, CD-ROMs e outros materiais.

Ignorando este "matrimónio" entre a televisão e a web com fins educativos, Portugal está a perder mais uma oportunidade de enriquecimento cultural, de abertura ao mundo, de fonte de informação diversificada e actual. Receio mesmo que esteja a perder a passada para a Sociedade do Conhecimento.

Maria Emília Brederode Santos

Texto publicado na Capital em 9.04.2005

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