Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

21.5.05
 
Ainda sobre Educação Sexual...

ver http://dn.sapo.pt/2005/05/20/sociedade/educacao_sexual_e_sob_ataque.html

e ainda...

Júlio Machado Vaz comenta a polémica que também o envolve

http://murcon.blogspot.com/


Professor António Marques,

Chame-me louca se quiser, mas enviei este mail a esta associação de gente mal informada.

Enfim, dei comigo numa de lhes responder pelas petições que andam a organizar e pela forma como falam do que não sabem...como sou uma ilustre desconhecida, até posso escrever o que penso.

Andrea



Exmos. senhores e senhoras:

Li a vossa petição relativamente à Educação Sexual e fiquei perplexa!
Sou mãe e estudante numa ESE e considero serem evidentes as expectativas sociais que a este tema estão ligadas e que, desde o final do séc. passado, têm vindo a aumentar pela sua reconhecida importância em todo o processo educativo, fundamentalmente no que diz respeito à Promoção da Saúde em Meio Escolar em todas as suas diferentes dimensões, curricular, psicossocial, comunitária, ecológica, entre outras. Ora, vem-se assumindo cada vez mais a urgência em clarificar ideias, conceitos, princípios, bem como, acima de tudo, definir estratégias.
Vamos a esclarecimentos:
O que se entende como Educação Sexual e qual a implicação que a mesma poderá ter na construção da identidade da criança?
A Educação Sexual define-se como um processo em que a pessoa se desenvolve enquanto ser sexuado e sexual, perante acções que são estruturadas e formais – Educação Sexual Explícita – e, em simultâneo, perante acções não estruturadas e informais – Educação Sexual Implícita. Ora, estando apenas esta última vertente presente na formação do indivíduo, poder-se-á assistir ao aparecimento de uma série de conceitos, comportamentos, princípios, atitudes e valores deturpados, que poderão ter implicações na realização pessoal de cada um, condicionando a vivência de uma sexualidade ampla e feliz, a nível pessoal, familiar e social.

É então esta a situação defendida por vós, em defesa da moral e bons costumes, certo? Um modelo onde não exista a intervenção directa do educador, logo, onde todo o conhecimento é implícito, sem orientação, e decorre da vivência da criança.

Pois bem, a Educação Sexual explícita tem como grande finalidade alterar esta situação, levando a criança a alargar os seus conhecimentos ligados à sexualidade, a desenvolver valores positivos e atitudes positivas e a adquirir comportamentos sexuais responsáveis aos níveis pessoal e social. Este modelo tem por base princípios e valores humanos, a clarificação de conceitos e a formação integral do indivíduo.

Tendo em conta que a família tem responsabilidades educativas próprias no campo da sexualidade da criança, será sempre de todo o interesse adequar a óptica da complementaridade e da partilha entre a Escola e a Família, a quem se devem dar explicações sobre as actividades que se vão desenvolver, de forma clara e assumida. Nesta dinâmica com a Família, a Escola pode desempenhar um papel importante no reforço e desenvolvimento das competências familiares, promovendo a partilha das suas dúvidas e anseios com outros pais e/ou encarregados de educação e garantindo a confiança no trabalho dos profissionais.

Pode-se e deve-se escolher, imaginar, idealizar e construir o futuro pessoal, familiar, profissional e social, o modelo de relações pessoais, a utilização do tempo e as expectativas sociais, analisando o presente e escolhendo o que se quer perpetuar e mudar. Através da atribuição de valores individuais e sociais, idealizando comportamentos e modelos de relação interpessoal e social, é possível projectar um futuro diferente, rompendo e modificando o que já foi recebido e aprendido.

Considero que são estes alguns dos pressupostos que justificam a Educação Sexual na Escola, em qualquer nível de Ensino/Aprendizagem, quer pelas temáticas que poderão ser escolhidas, quer pela interdisciplinaridade que é possível conseguir.

Acima de tudo, não concluo que a Educação Sexual venha a resolver todos os males de que a sociedade padece, mas a sua ausência da Escola poderá fazer com que essa dimensão continue a decorrer nas escolas, sim, mas de forma oculta, ignorante e prejudicial.

Atenciosamente,

Andrea Diegues

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