Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

4.5.05
 
Do Pisa às medidas enunciadas para o 1.ºCiclo
É com alguma preocupação que nos vamos confrontando com os dados que o PISA nos vai revelando face à posição de Portugal em relação aos outros países da OCDE. Todavia, também é hoje cada vez mais abundante a literatura que se vai produzindo e chamando a atenção para as leituras relativizadas que se devem fazer de qualquer estudo de educação comparada. Lembro apenas que esta febre comparativa já surgiu na Europa nos anos 20 com os testes psicoméricos em que se comparavam as inteligências das populações dos diversos países. Tais procedimentos levaram a posteriores desenvolvimentos em diversos sistemas educativos europeus. Há ainda estudos que nos mostram como o PISA vai construindo uma ideia de insucesso "nacional" longe dos alunos e portanto com uma fatalidade gerada pelos próprios sistemas educativos de massas.
Mas a questão que queria deixar é a seguinte: Sendo a prioridade o trabalho em redor do 1º ciclo e sendo este conduzido em regime de monodocência, não terá mais sentido uma abordagem integrada e mais globalizante da forma de conduzir esse tipo de ensino do que focalizar agora as questões quase exclusivamente na matemática? Escrever um texto não implica também ser capaz de resolver um problema? Codificar por palavras, ou através de outras conceptualizações, as ideias é na minha opinião a questão central. Naturalmente que a resolução deste problema não se faz sem um suporte de conhecimentos específicos, mas também exige ser-se capaz de pensar uma estratégia que faça apelo ao uso de tais instrumentos/conhecimentos que se podem ir buscar às diversas fontes. É aqui que o trabalho dos apoios às dificuldades dos alunos, agindo "just in time", pode ser decisivo. Dito isto, em minha opinião, penso que do que mais matemática, ou outra coisa qualquer, é preciso romper com uma lógica de pedagogia "burocrática" que assenta em todos fazerem quase o mesmo no mesmo tempo. É certo que esta perspectiva não é contraditória com mais formação em matemática ou noutra área qualquer, mas permite olhar o trabalho formativo como um todo fazendo apelo à importância da equipa.
Quanto à propostas da Srª Ministra sobre a necessidade de criação de uma escola a tempo inteiro, não posso deixar de estar mais de acordo, mas penso que para isso é preciso, uma negociação séria com as Câmaras Municipais, no que concerne à transferência de competências e de recursos; de acabar de vez com os regimes duplo, pois é inaceitável que hoje eles ainda se mantenham; de negociar com o sector privado de "tempos livres" que até agora tem suprido esta lacuna da escola pública; e finalmente "cuidar" da inclusão do primeiro ciclo de forma adequada nesta verticalização à força nos agrupamentos, que em muitos locais, se tornam parte do problema em vez de solução. Sabemos que estes problemas não se resolvem à velocidade da enunciação das medidas. Exigem um trabalho diversificado e multilateral de apoio, assistência e consultoria aos vários actores em presença.
Penso que é também neste terreno que as instituições de formação de professores nomeadamente as ESE´S podem dar um importante contributo pelo seu estatuto de proximidade local e, naturalmente, pelo seu conhecimento sobre estas questões enunciadas.

Jorge Pinto


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