Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

2.5.05
 
Pisa 2003
Os dados do estudo internacional PISA 2003 apresentados na última quarta-feira pelo Ministério da Educação merecem-nos algumas reflexões. Segundo o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) o PISA 2003 focou a literacia matemática definida como a “capacidade de um indivíduo identificar e compreender o papel que a matemática desempenha no mundo, de fazer julgamentos bem fundamentados e de usar e se envolver na resolução matemática das necessidades da sua vida, enquanto cidadão construtivo, preocupado e reflexivo”. Para os pais e professores que queiram conhecer alguns dos itens que medem esta competência podem fazê-lo consultando uma das publicações editados pelo GAVE. A pontuação nas escalas de literacia matemática foram agrupadas em seis níveis de proficiência que representam conjuntos de tarefas de dificuldade crescente em que o nível 1 é o mais baixo e o nível 6 o mais elevado. De notar que em Portugal ainda existem cerca de 30% dos nossos jovens de 15 anos com nível 1 ou inferior a 1, quando nos países da OCDE essa percentagem é de 21%. Este dado é preocupante pois representa que cerca de um terço dos nossos alunos apenas é capaz de responder a questões que envolvem contextos familiares e resolver procedimentos que correspondem a situações de rotina. Em contrapartida enquanto que nos países da OCDE 15% dos alunos estão nos níveis de proficiência 5 ou 6, em Portugal apenas 5% se encontram nessa situação.
O baixo nível de desempenho a matemática tem vindo a repetir-se nas diferentes avaliações nacionais e internacionais. Existem problemas de vária ordem, nomeadamente os que têm a ver com aspectos económico-sociais para os quais não é fácil encontrar resposta a curto prazo. Mas outros são intrínsecos ao próprio sistema educativo, como o da retenção (vulgo repetência) dos alunos. Os dados do PISA mostram mais uma vez que não se promove o sucesso dos alunos através da sua retenção.
De realçar a atitude da Ministra da Educação que, reconhecendo o problema da literacia matemática como grave, decidiu avançar com medidas que, embora pontuais não deixam de ser importantes. Como tem vindo a ser dito por muitos é no 1º ciclo do ensino básico que muitos dos problemas começam. Daí a importância das medidas anunciadas, nomeadamente as que se referem à formação inicial e contínua de professores daquele nível de ensino. Assim, espero que se concretize, já a partir do próximo ano lectivo, o plano nacional de formação contínua de professores em matemática anunciado numa parceria com o ensino superior. Este processo deve conduzir a médio prazo à criação de estruturas que garantam localmente um ambiente de reflexão e discussão sobre as práticas de ensino e em especial da Matemática, tendo em conta que os professores do 1º ciclo são professores generalistas, que têm de ensinar todas as áreas. Este trabalho pode e deve ser dinamizado por um professor do 1º ciclo, dos muitos que existem com boas práticas a matemática, a quem seja atribuída essa função.

Maria de Lurdes Serrazina

Publicado no jornal A Capital a 30 de Abril

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