Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

24.6.05
 
EDUCAÇÃO SEXUAL: DEBATES E EXPERIÊNCIAS EMPARELHADOS
Há cerca de uma semana, num encontro de pais promovido pela FAPAG (Federação das Associações de Pais do Concelho de Gondomar), no qual fui uma das palestrantes, ouvi alguém dizer “temos de repensar aquilo que lemos”. Esta narrativa, tão usual nos meus contextos de intervenção, fizeram-se reflectir sobre a fragilidade dos nossos pensamentos, sentimentos e acções. Tirar conclusões precipitadas, acríticas, quando lemos uma notícia, quando vemos uma série de imagens, quando ouvimos alguém a falar de alguém… Este, é o meu ponto de partida… reflectir sobre a necessidade de ter uma postura de conscientização (sermos críticos e conscientes de determinada realidade mas, para isso precisamos de a conhecer) perante o que lemos, ouvimos e vemos, concretamente, no que diz respeito à Educação Sexual em contexto escolar e sobre o papel importantíssimo que a APF (Associação para o Planeamento da Família) tem tido na sua concretização.

Da larga (e não longa) experiência que tenho na área da sexualidade (escutante numa linha telefónica de ajuda; técnica de planeamento familiar no centro de atendimento a jovens da Batalha; ex-ccordenadora do Projecto de Educação Sexual em contexto escolar da APF, formadora e especialista em vários centros de formação e docente na Escola Superior de Educação do Porto), chego às seguintes conclusões:
- que há um desconhecimento sobre os conceitos sexualidade e educação sexual;
- que a educação sexual explícita em contexto escolar tem-se limitado a aspectos biológicos e fisiológicos;
- que os pais, educadores e professores, perante as conclusões acima descritas, referem ter muita dificuldade em abordar a temática;
- que as crianças e os adolescentes não têm (salvo algumas excepções) um espaço para reflectirem e trabalharem as relações, os sentires e as vivências;
- que há pessoas empenhadas em impor um modelo educativo da educação sexual com uma forte carga moralista;
- que na generalidade, pais, educadores e professores desconhecem a existência das linhas orientadoras da educação sexual (livro* vulgarmente denominado de “bíblia” da educação sexual, pois, responde a todas as questões, hesitações levantadas até ao momento sobre a temática).
Assim e perante estas ilações, todo o meu trabalho em contexto de formação, tem-se centrado na desmistificação de um conjunto de representações negativas (que carecem de rigor cientifico e dizem apenas respeito a opiniões e crenças). Não só o meu trabalho e desempenho, como também o dos colegas que em conjunto tentam dar asas a projectos desenhados para/em contexto escolar, tendo sempre como retaguarda a única instituição que tem sido coerente nos seus princípios e em todos os seus processos - a APF.

Neste sentido, vários têm sido os debates e as experiências de uma panóplia de escolas que têm colocado em marcha os seus projectos na área da Saúde Sexual e Reprodutiva. Porém, a maioria destas práticas partiram de um ponto comum: a formação de agentes educativos com o objectivo de estes “serem capazes de agir de forma adequada e coerente face a dúvidas e manifestações das crianças e jovens relativas à sua sexualidade” (Linhas Orientadoras, 2000. p.26).
Desta forma, a APF e os seus técnicos têm formado, sensibilizado e criado espaços para que os intervenientes possam interactuar, reflectir, repensar e pôr em prática propostas e projectos. Pois, só a partir daqui se pode construir, desenhar… projectos que respondam às necessidades dos alunos, dos pais, dos professores e até dos auxiliares de acção educativa (AAE) (tão importantes na educação daqueles que serão os nossos futuros adultos).
Assim e chegado o ponto de finalização, concluo o seguinte: que a maioria dos educadores, professores, AAE e pais que tiveram espaços de reflexão, estão mais aptos para a escuta, são agentes mais pró-activos e não se sentem agentes únicos de dificuldades e hesitações. Também concluo que, ao contrário do que vulgarmente se diz, há muitas escolas no país a desenvolverem projectos neste âmbito.

Não posso deixar de agradecer aos cerca de 2000 pais, educadores, professores e AAE com quem desenvolvi estes espaços de reflexão pois, são todos eles que dão visibilidade a este modelo de Educação Sexual e porque foram eles que me fizeram acreditar no sucesso e eficácia desta intervenção.

Este espaço (de debate e de reflexões emparelhadas) pode ser seu, somente quando conhecemos a realidade, podemos criticá-la. Venha conhecer a APF, conheça de perto este modelo, os nossos princípios, os nossos valores.


Carla Serrão (Psicóloga, Docente na Escola Superior de Educação do Porto e voluntária da Associação para o Planeamento da Família)


*Educação Sexual em Meio Escolar - Linhas Orientadoras, Ed. Ministérios da Educação e da Saúde, 2000.

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