Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

2.7.05
 
Os estágios na formação dos professores
A propósito do texto de Maria Odete Valente sobre a formação dos professores desenvolvida pelas universidades.

O modelo defendido nesse texto tem certamente bastante mérito, mas terá sido considerado pelo governo um modelo de difícil sustentação.
Actualmente, no nosso país, coexistem essencialmente dois modelos de formação inicial, que se distinguem fundamentalmente pelo modo como se articula a componente de prática docente no plano de estudos. O modelo integrado inclui a prática no currículo desde o 1º ano, crescendo em tempo e em responsabilidade até ao último ano, antes da aquisição do diploma. A prática é tutorizada e desenvolve-se em turmas cujos professores “acolhem” os estudantes. No modelo agora em apreço, a componente prática constitui um ano de trabalho numa escola, de responsabilidade plena, embora também tutorizada.

As razões que presidem às decisões de um lado e à defesa do modelo do outro lado não são suficientemente conhecidas. Seria possível não deitar fora o menino com a água do banho ? Como? O que representa neste caso o menino?
Que estudos existem sobre os modelos que temos de formação inicial de professores? Que alterações devem ou podem ser introduzidas sem que se ponha em causa o essencial? Como valorizar o que um e outro modelo têm de bom, sem que subsistam as desigualdades hoje existentes, em que os candidatos a professor inseridos num dos modelos de formação são remunerados e os outros não?
Seria por outro lado importante que as razões para alteração da situação existente fossem mais conhecidas.
O que é certo é que a situação da formação de professores mudou radicalmente entre um tempo em que havia lugar para todos os estudantes que se formavam e uma situação em que existem dezenas de milhares de candidatos a professor, com formação profissional concluída, sem qualquer hipótese de inserção no mercado de trabalho, e em que consequentemente as turmas atribuídas aos estagiários são encaradas como factor de menos oferta de trabalho para os já diplomados nos vários modelos de formação.

Pessoalmente, batemo-nos há muitos anos para que, ao serem colocados numa escola, os professores em início de carreira beneficiem de um acompanhamento pelas instituições de formação, no seu primeiro ano de trabalho.
Seria o Ano de Indução, existente em vários países e que pode ser decisivo para reforçar práticas, corrigir erros e também potenciar a energia e os conhecimentos dos jovens professores. Em Portugal já foram ensaiadas algumas experiências nesse sentido que morreram, por falta de condições administrativas e de apoio.
Independentemente dos modelos de formação, e cremos que não seria desejável reduzir a formação toda a um único modelo, o Ano de Indução seria decisivo para colmatar deficiências sempre encontradas nessa primeira situação de responsabilidade plena nas escolas.
 Este poderia constituir um dispositivo que tirasse partido da experiência e conhecimentos consolidados e das capacidades de liderança de professores seniores, reforçando o funcionamento do trabalho em equipa nas escolas;
 Este pode ser um caminho para suprir dificuldades da formação, para o qual existem recursos (instituições, pessoas e capacidade de acompanhamento directo e produção de meios on-line...);
 Seria essencial, porém, aprofundar o conhecimento sobre os programas e os modelos de formação inicial existentes no país, promover a qualidade, valorizar as diferenças e combater as desigualdades nas condições de formação.

Ana Maria Bettencourt; Maria José Martins

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