Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

19.10.05
 
A NOITE SANGRENTA
Hoje é dia 19 de Outubro de 2005.

No dia 19 de Outubro de 1921, 11 anos depois da implantação da República em Portugal, uma "camioneta fantasma" percorreu as ruas de Lisboa assassinando alguns dos fundadores da Repúblic : António Granjo,primeiro-ministro deposto, Carlos da Maia, oficial da Marinha que alvejara o palácio real no 5 de Outubro, Machado dos Santos e vários outros. morreram pelas balas de um grupo de marinheiros. Cunha Leal foi ferido procurando defender o seu adversário político António Granjo.

Quem foram os mandantes destes crimes, os seus autores morais ? Fez-se constar que teria sido uma ala mais radical de republicanos. Mas segundo Helder Costa, Berta Maia , viúva de Carlos da Maia, conseguiu descobrir que se tratou de um plano de inspiração monárquica integralista consistindo em "infiltrar um movimento revolucionário e depois empalmá-lo". O Estado Novo viria depois a encobrir estas revelações.

Hoje, dia 19 de Outubro de 2005, estreia no Cinearte, pela Barraca, a peça O Mistério da Camioneta Fantasma da autoria de Helder Costa. Vale a pena ver pela História, pelo Teatro e também pela Política.

Maria Emília Brederode Santos

Comments:
conseguiu descobrir que se tratou de um plano de inspiração monárquica integralista consistindo em "infiltrar um movimento revolucionário e depois empalmá-lo". O Estado Novo viria depois a encobrir estas revelações.
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Curioso este artigo. ficamos a saber que os monárquicos andaram na mesma escola de estaline. Ficamos também a saber que já naquela altura a justiça não funcionava.Meia duzia de anos depois dos acontecimentos o estado novo não resolveu a questão.
Gostariamos também de saber quantos mortos fizeram os republicanos após a implantação da dita.
Para blogue de professores não está nada mal não senhor.
Com professores destes, imagino a História que está a ser leccionada.
 
Apesar de ser tão velha e conhecida a estratégia dos sínicos, não deixa de espantar que pessoas que desejamos sejam intelectualmente honestas decidam propagar, ou não perceber que estão a propagar, essa tal estratégia dos sínicos.
Então os monárquicos assassinaram António Granjo, Machado Santos e Carlos da Maia, todos eles claramente direitistas republicanos? E porque haveria o chefe do Golpe de 1921,10,19, que recolocou no Poder o omnipresente Partido Democrático, o tal de Afonso Costa e António Maria da Silva, ao mesmo tempo querer assassinar estes homens? Não seria preferível assassinar Afonso Costa, ou António Maria da Silva, ou Cunha Leal? Ou até Liberato Pinto, o cacique e mentor da GNR, o principal órgão de repressão do regime contra monárquicos, republicanos de direita, sindicalistas ou anarquistas? Já agora, só não assassinaram i industrial Alfredo da Silva porque não o conseguiram apanhar. Também isso era do interesse dos monárquicos? Não bate a bota com a perdigota.
Escreveu ainda que o Estado Novo silenciou a investigação. Como? Então o julgamento teve início e foi concluído ainda durante a Primeira República, e a Segunda República é que o silenciou? Não será uma vez mais sacudir a água do capote, como costume quando se analiza o desastre político, social e económico que constituiu a Primeira República?
Por fim, o tal “Dente de Ouro”, o cabo Olímpio, alguns anos depois dos acontecimentos disse a D.Berta Maia, mulher de Carlos Maia, um dos assassinados, que tinha sido uma conspiração monárquica. Ora, o cabo Abel Olímpio era um bronco, pouco capaz de grandes raciocínios. Cumpria ordens do coronel da GNR Manuel Maria Coelho, este, por sua vez, cumpria ordens do tal Libertato Pinto, um dos óbvios beneficiários do Golpe. A cadeia de comando é muito clara. O cabo Olímpio foi mais um brutamontes que a Primeira República usou para assassinar adversários, sujando as mãos para que alguns senhores de cartola alta continuassem de mãos limpas. Sim, um testemunho do cabo Olímpio! E porque não disse ele isso no julgamento? Porque foi que, em vez disso, no final do julgamento, gritou para quem o quis ouvir que os oficiais que tinham comandado o 19 de Outubro sabiam todos o que ele andava a fazer na madrugada de 20 para 21, mas só ele e os marinheiros é que estavam sentados no banco dos réus?
Por último, uma nota não mencionada no seu texto, e suponho que também não na tal peça de teatro. Os jornalistas do jornal “Imprensa da Manhã” acompanharam todos os movimentos da camioneta fantasma. Inclusive ajudaram o motorista a encontrar o caminho mais curto para a morada dos assassinados. O “Imprensa da Manhã” era propriedade de... Liberato Pinto! Também eles fariam parte da tal “conjura monárquica”?
Com isto das teorias da conspitação consegue-se dizer as coisas mais improváveis; vai-se a ver e, afinal, o rato que roubou o queijo não estava a responder ao seu natural instinto de sobrevivência; estava numa missão obscura, pouco óbvia, ordenada, imagine-se, pelo próprio dono do queijo.
Por último, cito Cunha Leal, republicano de esquerda, na altura ainda membro do Partido Democrático. No funeral de Machado Santos, disse: “O sangue correu pela inconsciência da turba — a fera que todos nós, e eu, açulámos, que anda solta, matando porque é preciso matar. Todos nós temos a culpa! É esta maldita política que nos envergonha e me salpica de lama”. Uma bela definição do que era a política durante a Primeira República, da autoria de um dos seus mais destacados protagonistas.
Vale a pena ser como Cunha Leal foi, pelo menos nesse momento, decentes e honestos. Se a Primeira República o tivesse sido, não teria durado tão pouco, e não teria arrastado Portugal de mal para pior.
P.Costa petrusport@hotmail.com
 
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