Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

24.10.05
 
ranking escolar
Na pessoa do seu Director, o Público volta a orgulhar-se da publicação de um ranking das escolas secundárias portuguesas. Pergunto-me quais as razões para tal orgulho.

Fazer passar na opinião pública a ideia de que as boas escolas, os bons alunos, os bons professores se encontram no sector privado, nicho obviamente (pré)-seleccionado ? Fazer tábua rasa da diversidade da população escolar portuguesa, comparar o incomparável mundo dos meninos-de-liceu filhos e netos de famílias escolarizadas, com o mundo dos jovens que procuram na escola um caminho curto para a profissão? Desencorajar o esforço subterrâneo de professores que não se resignam perante posições de partida adversas e não só aceitam estes alunos na sua escola como ainda, pasme-se, não temem levá-los a exame – mesmo que essa ousadia tenha custos no mercado das imagens?

Ou fazer crer, de um ponto de vista técnico, que médias de exame falam por si ? Independentemente de coisas tão simples como...o contingente de alunos levados a prova?....o controle da relação, em cada escola, entre o nº alunos que entram no 10º ano e aqueles que apresenta a exame no 12º? E que dizer do fabrico de uma média geral por escola, juntando no mesmo cesto exames de Português A, Física, Matemática ou Biologia?! A leviandade de procedimentos é tão chocante que, não sendo fruto de desonestidade intelectual ou de manipulação propositada de dados, só pode representar ignorância e incompetência. Justamente atributos que não deveriam faltar a quem se arroga o direito de avaliar.

O que se pretende afinal com a publicação destes rankings? Reflectir sobre o sistema de ensino, dar contributos para a sua melhoria, mobilizar os portugueses para a educação e fazer chegar, a quem trabalha no terreno, apoio nas dificuldades, esperança e confiança? Não creio. O que está aqui em jogo, por detrás da reivindicação de um direito à transparência e à informação é, primeiro, a imposição prepotente de um juízo sumário sobre uma realidade educativa cuja riqueza, complexidade e profundidade se resiste teimosamente a conhecer (e a avaliar). E depois, num cenário de queda acentuada de índices de fecundidade e de redução do fluxo de alunos, nada melhor que os resultados “objectivos” de um ranking para levar pais e famílias a inscreverem os seus filhos nesses redutos do topo que são os colégios privados. Just in case...

Ana Nunes de Almeida

Comments:
E depois, num cenário de queda acentuada de índices de fecundidade e de redução do fluxo de alunos, nada melhor que os resultados “objectivos” de um ranking para levar pais e famílias a inscreverem os seus filhos nesses redutos do topo que são os colégios privados. Just in case...
--------------------------------- Das duas uma. Ou aumenta a fecundidade ou (já ouviu falar do mercado?)passa uma testado de menoridade aos pais.
Cara colega, existem dois tipos de ensino. O bom e o mau. Parece-me que só consegue ver o publico (bom) e o privado (mau). Tente saltar para o século XXI. O muro já caiu há uns anitos. Vá lá, faça um esforço.
Um aparte. Dei uma olhada a este blogue, que não conhecia, e reparei que o debate é do tipo aula de noventa minutos expositiva com os alunos a dormir ao fim de 15 minutos. De facto quando os mesmos falam para os mesmos sempre do mesmo, já ninguém tem pachorra para tanto corporativismo e tanta pseudo sabedoria.
Abaixo os exames (no fundo é isso que está em causa, não é?) viva a escola fechada e inavaliável.
 
Venho muitas vezes a este blog... como há opiniões tão diferentes! Mas umas são sempre anónimas.
 
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