Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

21.11.05
 
LGP - III
Ora estes materiais agora publicados são a concretização desse direito, são um meio para as crianças surdas verem reconhecida a sua 1ª língua com igual dignidade às línguas faladas e com idênticas possibilidades narrativas e constituem um instrumento de aprendizagem dessa sua língua que, como qualquer outra verdadeira língua, requer aprendizagem e um contexto facilitador dessa aprendizagem.

E porque se trata de jogos e de histórias - e porque estão bem feitos - permitem uma aprendizagem com prazer. Hoje fala-se muito na necessidade de esforço para aprender e de se ensinar aos meninos que a aprendizagem requer esforço. Mas os meninos surdos não precisam desse ensinamento. Para eles aprender através da oralidade é um esforço imenso, extenuante, esgotante. Por isso saúdo com imenso agrado estes materiais que possibilitam uma aprendizagem com prazer.

A produtora Mª João Reis sublinhou o trabalho de equipa que o video e o DVD envolveram. E realmente nota-se que houve uma orientação pedagógica que atravessou toda a produção e que houve uma articulação com os técnicos que permitiu por exemplo que as narrações nas três linguagens (narração em off em língua oral; narração in em língua gestual e narração através das ilustrações), sem serem traduções umas das outras, se conjugassem e não entrassem em conflito; que a iluminação e o ângulo de focagem das câmaras fossem os adequados à visibilidade dos gestos e das expressões faciais. Por outro lado, e conhecendo as dificuldades financeiras destas produções, foi preciso muita imaginação e boa vontade para o humor e a adequação dos guarda-roupas dos narradores aos conteúdos das histórias.

Finalmente, cada história tem o seu formato (a 1ª tem a narradora contra o fundo de ilustrações desenhadas; a 2ª tem a narradora contra um fundo de imagem real em movimento; e a 3ª tem um narrador num contexto de imagem real seguido de algumas cenas em movimento) . Para além da adequação das histórias e seus formatos a diferentes idades das crianças destinatárias como explicou uma das responsáveis (Co-autora do guião e directora da narração em LGP) Helena Carmo, creio ver nesses diferentes formatos um experimentalismo que gostaria de ver continuado nas escolas. E que as escolas com unidades de crianças surdas - a quem vai ser oferecido pela DGIDC um exemplar de cada material - informem o serviço de Ensino Especial da DGIDC sobre as formas da sua utilização com as crianças, reacções, efeitos, seguimentos e melhorias possíveis. Digamos que cada Unidade de Surdos deveria disp^or de uma "antena" de investigação.

Por mim gostava de sugerir às Dras. Filomena Pereira e Mª João Reis que nos próximos videos/CDs dessem mais destaque aos livros, que se visse, no início e talvez no fim, que a narradora está a ler um livro e que os livros contêm histórias, ou seja, que houvesse também uma preocupação em motivar as crianças surdas para a leitura. É uma sugestão. Mas acima de tudo quero registar as minhas felicitações por um bom trabalho, não só às responsáveis pedagógicas já nomeadas mas também aos técnicos, oriundos, aliás, do ex-IIE : ao realizador José Mendes e ao Câmara e Som Pedro Humberto Rodrigues(também responsável, com José Mendes, pelo Chroma-Key). Os parabéns vão também para os narradores em LGP Marisol Coelho, Ana Isabel Chavinha e Diogo Grilo, para a intérprete de LGP Alexandra Najmark, para a locutora Isabel Freitas Guimarães e para a adaptadora das ilustrações Raquel Pinheiro.

A assistência esteve muito animada e participativa. Ficou no ar uma pergunta da mãe de uma criança surda : para quando a introdução no currículo da Língua Gestual Portuguesa ? Por que é que os alunos quando chegam ao 7º ano de escolaridade não podem optar pela LGP (pelo menos os surdos) em vez de por uma 2ª língua estrangeira ? Pergunta pertinente, não é verdade ?

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