Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

22.11.05
 
Poderá ser, finalmente, permitido proibir em matéria de praxes ?
Poderá ser, finalmente, permitido proibir em matéria de praxes?

O tribunal de Santarém decidiu levar a julgamento seis dos sete arguidos num processo de violência exercida sobre uma aluna durante a praxe..
Também o ministro Mariano Gago se manifestou recentemente indignado com um outro caso ocorrido em Bragança.
São boas notícias.

As situações de violência, em matéria de praxe, são inaceitáveis e são quase sempre um sinal de cretinice da parte de quem as pratica.
Porque considero que uma das missões de um professor é educar para a cidadania, durante anos lutei na escola em que sou professora contra a praxe, trabalhei com os meus alunos textos que saíam ciclicamente nos jornais, propus por exemplo a análise de práticas rituais frequentes. Reflectimos sobre o que significavam certas posturas de subserviência, em que os alunos se deslocam como animais, ou são acorrentados como escravos, mesmo que seja com latas de coca-cola amarradas aos pés......
Enquanto estive no Conselho Directivo a nossa equipa afixava à entrada da escola um cartaz que dizia : “Os alunos têm o direito de não ser praxados”. Apesar disso havia sempre inúmeras formas de coacção. Alguns colegas meus consideravam que eu exagerava, que se tratava de umas graças inocentes, que não havia mal nisso e que “não me ficava bem” interferir.... Confesso que nunca me conformei ao ver os alunos e as alunas a fazerem os papéis mais ridículos que é possível imaginar.
Conseguimos que as praxes fossem menos violentas, mas considero que a praxe é quase sempre uma violência, uma privação de liberdade e um atentado aos Direitos Humanos. Nunca entendi alguns amigos que tenho, acérrimos defensores dos Direitos Humanos, mas que acham que a praxe é um direito.......faz parte da vida académica. Por mim sou contra os tabus e acho que não nos devemos calar.
Uma jovem dizia-me outro dia que, ao fim de uma semana de praxe, tinha enormes dores nas costas por ter tido que rastejar, e que, além disso, se sentia muito violentada por ter tido que repetir frases e palavrões que nunca havia dito em toda a sua vida....
É um triste começo de vida universitária...que bom seria estes estudantes serem acolhidos em ambiente de festa e também de cultura, por quem os ajudasse a integrar.
Em França existe uma lei que proíbe a praxe. Eu acho bem.

Ana Maria Bettencourt

Comments:
Estou plenamente de acordo. Enquanto estudante a minha universidade nunca teve praxes. Aliás em Lisboa era inexistente e, sempre desenvolvemos ,enquanto estudantes, uma cultura anti-praxe. Não compreendo o generalizar destas práticas a todo o país quando deviam era ter sido proíbidas onde se faziam com a capa da tradição.
 
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