Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

12.12.05
 
A EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR E A AUTONOMIA DAS ESCOLAS
A EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR E A AUTONOMIA DAS ESCOLAS

Com a publicação e progressiva implementação do Decreto-Lei 115-A que, em 1998, estabeleceu a autonomia das escolas e a constituição dos Agrupamentos, abriu-se uma nova porta à educação pré-escolar.
De facto, a inclusão dos jardins de infância nos Agrupamentos veio consolidar a educação pré-escolar como parte integrante do ensino básico e os educadores de infância como docentes. Ao mesmo tempo, veio criar novas oportunidades, quer para o estabelecimento de redes de comunicação entre educadores e professores, facilitando um mútuo conhecimento e entendimento profissional, quer para proporcionar às crianças e familiares a continuidade educativa desejada e uma escolaridade coerente e integrada, ainda que diferente em cada etapa.
No entanto, nem tudo tem acontecido conforme o pretendido e há ainda um longo caminho a percorrer. A comunicação entre professores e educadores continua a ser dificilmente estabelecida; entre eles não há ainda a confiança indispensável ao melhor funcionamento da escola. Existindo ainda uma marca e sobretudo um passado profissional distinto entre os vários corpos profissionais que aí trabalham, a constituição de um governo da escola que não tivesse que correspondesse necessariamente a esses diferentes grupos, mas que traduzisse uma concepção do corpo docente entendido como um corpo único, foi considerado, na altura da elaboração do dec-lei 115/98, uma meta desejável mas permatura.
Assim e embora,por lei, os educadores de infância tenham lugar no governo dos Agrupamentos, eles não o têm querido, ou não o têm podido, ocupar. E, estando os educadores em minoria entre os docentes, dificilmente criam, o espaço necessário para fazer vingar os seus princípios e os princípios da educação pré-escolar. Além do mais, vêem, em muitos casos, complicar-se burocraticamente o dia-a-dia no jardim de infância. O que dantes se resolvia de imediato, no pequeno jardim de infância, agora necessita de mais tempo para obter a aprovação do topo... e, muitas vezes, ou porque essa aprovação tarda, ou por falta do entendimento necessário, as suas pretensões, e as das crianças, ficam por satisfazer.
Parece, então, ser forçoso que os educadores, desde já, ocupando o(s) lugar(es) a que têm direito na escola, não abandonem as suas convicções e aprendam a explicitá-las e a explicá-las; que os professores compreendam e aceitem o processo de ensino-aprendizagem que ocorre no jardim de infância; e que os professores e os educadores dialoguem entre si para aprenderem e colherem o melhor de cada um, e construírem e oferecerem a necessária coerência educativa.
O processo de autonomia das escolas, exige, por isso mesmo, a construção de uma linguagem comum entre todos os actores em beneficio das crianças e dos jovens ultrapassando-se, assim, uma visão da educação pulverizada e atomizada em escolas e escolinhas cada uma com os seus donos.
Luísa Homem

Publicado no Jornal de Letras - Educação

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