Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

29.12.05
 
Sinais perturbadores
A história conta-se em poucas palavras; Andrew Wragg, cidadão do Reino Unido
e pai duma criança com a síndrome de Hunter ­ doença degenerativa causada
por défice enzimático ­ em Julho de 2004, quando o seu filho, Jacob, tinha
dez anos, dirigiu-se ao quarto deste e asfixiou-o com uma almofada. A mãe da
criança, levou o irmão saudável para casa da avó a pedido do marido na noite
da morte de Jacob.
Após o julgamento, o júri não conseguiu chegar a um veredicto e a juiza
declarou Andrew Wragg inocente da acusação de homicídio mas culpado de
homicídio involuntário, pelo que apanhou dois anos de pena suspensa. A juiza
considerou a mãe de Jacob cúmplice, apesar desta o negar e até considerar a
sentença chocante pois sanciona a condição de Jacob como desculpa para este
crime.
Jacob ainda poderia viver mais uns anos e o Pai disse que tinha visto nos
olhos do filho o desejo de morrer.
Na minha vida profissional como professor e director duma escola ­ vai para
30 anos ­ tenho visto com apreensão que, cada vez mais, os pais não
conseguem (ou não querem, ou nem sequer lhes passa pela cabeça) que os
filhos aprendam lidar com a adversidade. E isto é, obviamente, muito
preocupante pois fácil é imaginar o que será Portugal daqui a uns anos com
uma geração assim criada a tomar conta dos seus destinos. O que seremos nós
como nação, o que seremos nós como sociedade? Ora nunca pensei, nem nos meus
sonhos mais delirantes, que um pai não consiga lidar com a adversidade e
sendo esta a doença do seu filho, resolva o problema matando o filho. Este é
o sinal da completa falência de valores. É o egoismo no estado puro
consubstanciado no brutal assassínio duma criança de 10 anos ­ o próprio
filho. Jacob estava a dar muito trabalho e o frágil pai, não sabendo lidar
com a situação mata-o.
É grave é muito grave, mas, mais grave é a decisão do tribunal. A ligeireza
da pena é reflexo do julgamento que a própria sociedade faz deste crime. No
big deal. O que seremos nós como planeta, o que seremos nós como humanidade?
Por cá mereceu um artigo na página 29 dum jornal na secção sociedade e
nenhum canal televisivo se referiu a este assunto.
Por cá a informação continua a falar dum País que não existe, por cá ninguém
se incomodou e viva a telenovela.

João Rangel de Lima

Comments:
Infelizmente, Dr. Júlio, essa é a atitude dos novos tempos. E isso me preocupa tanto como mãe da Maria Luiza, de um ano e meio, que resolvi escrever sobre a nossa vida toda TERÇA-FEIRA no meu BLOG. como sou jornalista do Brasil e trabalho em casa, tento por meio desses post convencer revistas brasileiras a me contratar para um freela. Por isso, caso tenha sugestões ou idéias, estou à sua disposição!
muito obrigado e parabéns pelo blog.
 
Enviar um comentário

<< Home