Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

18.3.06
 
ACTUALIDADE EM DEBATE
O FECHO DE ESCOLAS

Tem vindo a público alguma contestação ao fecho de certas escolas. O que surpreende nessa contestação é ter por base apenas as reacções de pais, avós e professores e sustentar-se quase exclusivamente na preocupação da "morte" de comunidades devido ao fecho das escolas ou, no caso de antigas grandes escolas do Ensino Secundário, em apreciações saudosistas por instituições que, no passado, tiveram muitos alunos e foram um marco da evolução ou da inovação em educação.

São razões e critérios apreciáveis e importantes, mas a questão ultrapassa-os em muito e já foi antecedida, em quase todos os países europeus, por um debate antigo, vivo e muito interessante. Porque a dimensão de uma escola, correcta e ajustada aos alunos e profissionais que a frequentam, já antes de 1974 era discutida nos fóruns europeus e internacionais e já há muito que a junção e divisão de escolas se impunha em quase todos os países. Portugal, à altura, já era um caso raro de escolas demasiado pequenas ou demasiado grandes, situação que, aliás, se veio a agravar com o crescimento exponencial do acesso à educação e as alterações sociológicas posteriores ao 25 de Abril.

Porque está provado que, para além do conforto de um enquadramento social próximo ou da preservação de um património, não é a existência de uma escola que impede o "fecho" de uma aldeia, nem é uma escola sem alunos que justifica a sua preservação patrimonial.

E se o que surpreende mais no fundamento da actual contestação é raramente ser referido o interesse das crianças e dos jovens que frequentam essas escolas, é porque está cada vez mais comprovado que os alunos precisam de se integrar em meios escolares equilibrados mas não restritos, que os professores necessitam, para o seu progresso e desenvolvimento, de uma interacção constante e próxima com colegas e outros profissionais e que a vida social e educativa de uma escola implica espaços e equipamentos cada vez mais exigentes e ricos para responderem ao que os alunos necessitam, desejam e esperam e que confrontam e comprovam com tudo o que a comunicação social e a Internet lhes traz.

Reconhece-se que não é uma questão fácil, linear e simples. Preocupa e inquieta as "Inquietações Pedagógicas" pelo que a ela voltaremos num debate mais amplo e interdisciplinar!


Publicado no Jornal de Letras - Educação a 15 de Março

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