Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

22.3.06
 
Encerramento de Escolas
O anunciado encerramento de escolas é muito difícil de aceitar pelas populações. Temos ouvido a este respeito discursos de grande tristeza.
É preciso mais pedagogia para que as pessoas entendam as vantagens para as crianças de frequentarem uma escola a tempo inteiro, mais rica do ponto de vista cultural, dos meios para aprender, e do convívio com outras crianças. Mas é igualmente necessário que os centros escolares de acolhimento tenham efectivamente melhores condições do que as escolas que vão ser encerradas.
Ajudaria também muito que se fizesse um esforço para reanimar as aldeias que perdem a sua escola, designadamente através da reutilização para fins comunitários e educativos de uma parte dos edifícios escolares. Podem ser criados pequenos centros de animação e educação de adultos que muito poderiam contribuir para que a vida das pessoas fosse menos triste e solitária.
A Internet pode tornar-se num meio decisivo para quebrar o isolamento entre pessoas e entre as aldeias e a Câmara Municipal o motor da mudança.
Não é mantendo uma escola sem condições aberta que se contraria a morte das aldeias, é pelo desenvolvimento cultural das populações. Qualquer que seja a sua idade.

Ana Maria Bettencourt

Comments:
Penso que o encerramento dos poucos serviços públicos, escolas incluídas, contribuem sobremaneira para uma maior desertificação do interior. Estaremos de acordo que em muitas escolas não é sustentável a sua continuação, por motivos relacionados com a educação prestada às crianças, mas estas decisões são para tomar com cuidado, caso a caso, com critérios adaptados.
Se bem me lembro, quando foi anunciado o encerramento, a Ministra falou em 500 escolas. Depois, e em grande parte devido ao protesto, com números, do Sindicato dos Professores da Região Centro (acho que vale a pena consultar o site deles, sobre esta matéria), a ministra admitiu que eram 1500. A Ministra e o 1.º Ministro têm-se desdobrado em discursos sobre o alcance pedagógico e não economicista destas medidas. A necessidade de tanta justificação é em si própria significativa. Também o modo como as coisas têm sido feitas, deixa muito a desejar.
 
Ao ler um anterior post deste "Inquietações pedagógicas" sobre este assunto do encerramento das escolas, li que em Portugal, já há muito tempo existe o problema das escolas demasiado pequenas ou demasiado grandes. Concordo com esta forma de colocar a questão. Mas então qual o porquê de não estar na ordem do dia a "existência" muito disseminada no 2.º, 3.º ciclo e ensino secundário, de escolas em desdobramento, com populações escolares muito numerosas?
O turno único(TÚ), isto é o regime normal que é o que existe por essa Europa fora e não só na Finlândia, foi um conceito deixado cair por esta equipa governativa. Aqui há uns anos quando o PS estava no governo, esta ideia de concretizar o TÚ era um objectivo de legislatura. Como as coisas mudam. Este objectivo foi agora travestido de escola a tempo inteiro.
Talvez a leitura a tirar das prioridades, dos conceitos e dos discursos seja: a grande questão é economizar, cortar na despesa, depressa e a todo o "custo". Para que tal desiderato não pareça muito crú, encontram-se alguns conceitos justificativos que doirem a pilula. Não será?
 
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