Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

16.3.06
 
"Graus de Bolonha"
Ontem, ao abrir na Internet um sítio de uma Universidade suiça, reparei que os programas de estudo tinham os seguintes títulos genéricos: Mestrados de Bolonha, Licenciaturas de Bolonha, etc... A instituição em causa teve a preocupação de advertir o público de que os programas conferentes de grau que agora oferece são qualitativamente diferentes dos seus anteriores programas, conducentes aos mesmos graus.

Este facto suscitou-me diversas reflecções que partilho convosco:
- A transparência da informação que as Universidades e Institutos Politécnicos fornecem ao público exige, de facto, que se faça uma destrinça entre uns e outros cursos. Quanto a nós, essa distinção deveria ser feita utilizando uma fórmula comum a todas as instituições de ensino superior, fórmula facilmente reconhecível pelo público, ainda que a expressão "de Bolonha" não me pareça feliz.
- A pouca informação, clara a acessível ao comum dos cidadãos, sobre as transformações que se estão a operar no ensino superior é deveras preocupante. Como é que os futuros alunos que não tiveram acesso a orientação escolar e com pais pouco informados vão compreender a oferta educativa que lhes será proposta já para o próximo ano (?) e como irão escolher o seu curso?
- Até agora, e que eu tenha conhecimento, só o Diário Económico, na sua edição de 17 de Janeiro publicou informação detalhada e acessível sobre as características dos novos cursos. O público visado é restrito, abrangendo uma camada especialmente interessada - a dos empregadores. Neste caso, é de prever que as consequências em termos de remuneração dos diplomados não tardará, existindo também o risco de que os detentores dos anteriores graus sejam também desfavorecidos, por arrastamento.

Finalmente e como conclusão considero que temos o dever de nos indignar com a falta de informação e de transparência para o público em geral de todo este processo de reconversão do ensino superior. Não estou contra o processo que, entre outras, tem a vantagem de permitir aos nossos estudantes e diplomados uma maior mobilidade. Compete, contudo, ao poder público assegurar a mobilização dos meios adequados de divulgação pública e de regulação do processo (como é o caso das nomenclaturas dos cursos) sem os quais são de prever bastantes efeitos perversos, socialmente discriminatórios.

Beatriz Bettencourt

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