Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

26.3.06
 
Uma aula empolgante - foto New York Times
Um artigo no New York Times de hoje (26 Março) aponta para um problema que conhecemos (os fracos resultados em Inglês e em Matemática) e soluções muito simplificadas que são a tentação de muita gente – regular por meio de exames e concentrar o trabalho nestas duas áreas…
http://www.nytimes.com/2006/03/26/education/26child.html?th&emc=th

Uma lei federal de 2002 ( No Child Left Behind )determina exames a estas duas disciplinas, na Junior High School (2º/3º ciclos em Portugal), estabelecendo sanções para as escolas que não melhorem a sua posição na qualificação graduada.
Eis a fórmula de recurso das autoridades educativas, para corresponder a esse desiderato nacional: “narrowing the curriculum”!
E assim, 71% das 15 000 zonas escolares (com autonomia na gestão do currículo) reduziram drasticamente o tempo dedicado à história, música e língua estrangeira (incluindo o espanhol, para muitos a Língua Materna ) e até ciência (!), para reforçar o tempo de trabalho com as disciplinas “básicas”. Esta solução aplica-se, bem entendido, aos alunos com níveis não satisfatórios.
Em uma das escolas referida no artigo, 150 alunos integrados neste “currículo alternativo” ocupam cinco dos seis tempos de aula diários, com matemática, leitura e ginástica, deixando apenas um tempo para todas as outras matérias.
Anunciam-se já alguns efeitos, não muito brilhantes, nas comunidades com muitos alunos de origem hispânica … Por exemplo, nos exames intercalares realizados no estado da Califórnia, apenas 17.4% alcançaram um nível satisfatório em Matemática e 14.9 em Inglês.

Há também consequências manifestas no mercado de emprego dos professores.
Aguarda-se com interesse o relatório de avaliação externa, realizada pelo Center on
Education Policy, a sair esta semana.
Na notícia do NYT, são referidos casos estudados na avaliação, testemunhando reacções de alunos e de professores que transmitem a ideia de melhorias nos resultados, pese embora algumas reacções penosas dos alunos a esta estratégia para os motivar (sic).
Vale a pena ler a resposta de uma professora a uma aluna “morta por sair deste programa” - Muito bem! A única forma de saíres é fazeres melhor no exame!
Trata-se daquele velho princípio pedagógico: “Hás-de cantar até aprender!”

Concorde-se ou não com o conteúdo destas medidas e das estratégias desenvolvidas, interessa salientar que o mesmo governo que aponta uma prioridade política, define em paralelo, processos de implementação, fórmulas de sanção e linhas de avaliação. É a combinatória destas acções que reforça o protagonismo de todos os intervenientes, pela sua responsabilização, e que oferece a todos ( também a nós, distantes leitores de uma notícia de jornal) elementos de reflexão.

Maria José Martins


Comments:
Espero que o nosso Primeiro Ministro e a nossa Ministra da Educação não tenham lido essas notícias...
 
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