Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

4.6.06
 
A RAIZ DE TODO O MAL
Chego a Portugal e não reconheço o meu pacífico país. O ambiente é de guerra civil opinativa:

. Nos Prós e Contras economistas septuagenários parecem querer recuperar a revolução cultural de Mao ateando fogo aos maiores de 50 anos que tão caro saiem ao país e que serão "a raiz de de todos os males" futuros da juventude.

.Nos jornais diz-se que a Ministra da Educação acusou os professores de serem os responsáveis pelo insucesso escolar dos alunos (não ouvi o discurso e se a Ministra disse isso os professores devem sentir-se extremamente injustiçados e revoltados. Mas a ministra terá razão se tiver dito que a escola não se assume como responsável pelo percurso educativo dos alunos, isto é, perante o insucesso educativo revelado por certos indicadores nem o Ministério nem as escolas nem o sistema educativo têm sabido encontrar caminhos diferentes que ajudem realmente os alunos em dificuldades e todos a aprender mais e melhor).

. Na RTP uma reportagem com câmara escondida revela a indisciplina, a desordem e a violência numa sala de aula, no momento em que a mesma Ministra anuncia uma proposta de estatuto da carreira docente que incluiria na avaliação dos professores um contributo dos pais. O momento não podia ser pior ! E uma medida tão polémica e discutível não é apresentada com argumentos que a fundamentem minimamente. Não teria sido mais útil começar por ajudar as escolas a auto-avaliarem-se tendo em conta os resultados nos exames e outras provas e aí sim recolhendo o contributo dos pais e até, de preferência, o dos alunos ? Acresce que há estudos e experiências a nível europeu (e que incluiram escolas portuguesas) que podem fundamentar e orientar este processo.

. Nos debates subsequentes em vários canais televisivos e nos jornais,sucedem-se os disparates, as acusações, a procura de bodes expiatórios e mesmo os apelos à violência.

O mais grave é que esta gritaria histérica não é "conversa de taxista" (como contundentemente lhe chamou Daniel Oliveira) mas de professores universitários e investigadores em Ciências Sociais, logo imitados e repetidos por comentadores televisivos. O que só prova como de facto o ensino em Portugal está em muito maus lençois... Porque se a situação actual apresenta de facto grandes dificuldades provocadas em parte pela expansão - necessária e desejada - do ensino a seguir ao 25 de Abril, que dizer de um ensino selectivo e elitista que só conseguiu produzir estas mentalidades simplistas e bárbaras ? E como debater, reflectir e agir com racionalidade e ponderação quando o que "está a dar" é o histerismo ruidoso e violento ?

Maria Emília Brederode Santos

Comments:
Tem muita razão cara Maria Emília.Mas não lhe teria ficado mal citar concretamente as excelsas esforçadas em aprendizagens Fátima Bonifácio e sua prima em ira anti-pedagógica Filomena Mónica
 
Excelente, como seria de esperar!
Pois é, não há cão nem gato que se coíba de debitar opinião sobre educação, mesmo que nunca na vida tenham sequer lido uma linha sobre o assunto.
 
A Senhora Ministra tem explicado que quer acabar com os números negros da ignorância e da iliteracia.
Quem não se rende a este propósito tão nobre?
Eu rendo-me, claro!
Mas recuso-me a acreditar que a maneira de o fazer seja à custa da vida dos professores. A troco de quê? De aulas de substituição que não servem para nada e desgastam inutilmente os professores? A troco da ameaça velada e a partir de agora continuada de uma avaliação injusta por parte de qualquer encarregado de educação muito, pouco ou nada instruído, pois não é isso que está em causa?
Eu sou velha nisto e sempre ouvi os professores dizerem que eram permanentemente avaliados por todos: pais, alunos, colegas, funcionários... Só faltava mesmo a formalização dessa avaliação e a validação por parte do Ministério.
E a indisciplina Senhora Ministra? E os programas? E a carga horária das disciplinas? E as áreas projecto e os estudos acompanhados? Sabem os senhores em geral que, no quinto ano, as disciplinas de Inglês, História e Ciências têm a mesma carga horária do Estudo Acompanhado? E os noventa minutos, em que sobeja tempo útil de aula, ao contrário dos quarenta e cinco, em que falta? E as carências dos meninos mais pobres? E as pobrezas morais que por aí há que "animam" muito os telejornais? Sou professora há 30 anos (e alguns meses) e finalmente fui vencida!
 
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