Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

20.6.06
 
SERVIÇOS DE APOIO ÀS ESCOLAS SIM OU NÃO, COMO E QUAIS?

M.J.Rau

Em 1999 foi publicado um texto de José Madureira Pinto* aonde, de uma forma que considerei perfeita, por ajustada e integradora, se referia o que há muito eu sentia como uma evidência que poucos, estranhamente, levavam a sério. O texto com o sugestivo título "NOTAS SOBRE O SOFRIMENTO NA SALA DE AULA E POSSÍVEIS MODOS DE ATENUAR" apareceu no Boletim da Direcção Regional de Educação do Norte e nele, depois de descrever muitos dos "sofrimentos" para os que vivem na e para a escola, se diz a certa altura "... Perante as diversidade e complexidade dos problemas que aqui se colocam, não vejo como se possa continuar a prescindir de um acompanhamento regular dos estabelecimentos de ensino por equipas pluridisciplinares (formadas por técnicos de saúde, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, diplomados em Ciências da Educação e outros especialistas na área das Ciências Sociais) com capacidade de entrosamento efectivo nos territórios educativos. Não ignoro os custos associados à manutenção de serviços profissionalizados com esta ambição; mas não tenho dúvidas em garantir que a sua acção implicaria, a prazo, uma redução sensível de custos sociais, que, na ausência de inovações deste tipo, se vão relevando insustentáveis". E ainda mais adiante e reforçando "quanto ao argumento de que serão demasiado elevados os encargos decorrentes do tipo de medidas preconizadas, só sei responder que, desde sempre, as mudanças políticas, ou as mudanças de política impuseram redefinições de prioridades orçamentais".

Num momento em que se repensa e se reestrutura a administração pública, se pretende acabar com sobreposições e dispersões ineficazes e se investe na qualidade da formação e do desempenho, é importante não esquecer que há custos sociais que resultam em gravosos custos financeiros e que se os reduzirmos conseguimos, simultaneamente, importantes "economias e eficácias".

Sempre me inquietou a sobreposição de redes e serviços e, sobretudo, a excessiva especialização e o desperdício que decorre, sempre com o argumento da prioridade e especificidade, de estruturas de apoio compartimentadas, seja para o desporto escolar ou a para a saúde nas escolas, seja para a orientação educativa ou as necessidades educativas especiais, seja para a inovação mesmo que nas novas tecnologias, seja ainda para a formação contínua de professores e todos os mais compartimentos e feudos que se foram criando, iam morrendo e logo depois voltavam a ressurgir muitas vezes com diferentes designações.
Mas não se deite fora o menino com a água do banho. O apoio interdisciplinar especializado (por equipas de profissionais) aos alunos, professores e escolas é um imperativo que tem tradição e acção relevante em muitos dos países com que convivemos, com que nos comparamos e a que estamos unidos. Vejam-se as boas e as más experiências. Reflicta-se nos sucessos e nos resultados e o caminho por certo se iluminará!

Não é uma questão fácil num momento de reestruturação/redução da administração pública. Preocupa as "Inquietações Pedagógicas" que vê, com inquietação, que esta matéria não tem estado na ordem do dia e sobre a mesa das análises e dos debates e receia que venha a ser esquecida ou menosprezada. A ela também voltaremos!

*Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto
Publicado no Jornal de Letras - Educação

Comments:
Agradeço ao Inquietações Pedagógicas este olhar diferente das estreitas vistas e caminhos que orientam, por ora, muitas das decisões políticas na área da Educação e não só.
 
Enviar um comentário

<< Home