Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

5.6.06
 
Sonhar com a autoridade perdida e regressar ao passado
Este podia ser o título de muitos dos artigos e intervenções televisivas dos últimos dias.
Algumas das intervenções são proferidas por pessoas promovidas a especialistas da escola, que são pais e avós (e só a esse título ou como antigos alunos conhecem a escola) que curiosamente consideram que os encarregados de educação não se podem pronunciar sobre os professores. Estes mesmos que não se coíbem todavia de emitir opiniões sobre os professores e sobre a escola. Mais,... verifica-se que de uma só penada resolveriam todos os problemas de que o país e em particular as escolas sofrem. No caso da indisciplina e da violência bastaria regressar ao passado e reencontrar a autoridade perdida. Bastaria dar mais autoridade aos professores e o ideal seria mesmo “que estes soubessem inspirar medo nos alunos”. Gostaria de ver algumas destas pessoas com responsabilidades em algumas escolas......

Nem se dão ao trabalho de ir ver que existem muitas soluções para os problemas que “tão bem” diagnosticam, em curso em Portugal e noutros países do espaço europeu por exemplo. E, se as soluções não devem ser importadas, pelo menos devem servir para que pessoas tidas como “especialistas” entendam que os problemas são complexos e exigem soluções organizativas e pedagógicas que não se compadecem com os palpites....

Há muitas pessoas que sonham com o regresso ao passado. Que defendem que os problemas de indisciplina se resolvem sem repensar a organização da aula e do trabalho escolar, bastando para isso que o professor saiba organizar a sua retórica e saiba mandar calar os alunos. Estes métodos podem efectivamente conseguir o silêncio de alunos, mas não são métodos úteis nem para melhorar a qualidade das aprendizagens nem para a democracia. Regra geral essas pessoas não conhecem a escola de hoje, não conhecem escolas onde estes problemas foram resolvidos, apesar de grandes dificuldades.
Na procura de bodes expiatórios surge o Ministério da Educação.....É patético o discurso que atira para o Ministério da Educação a responsabilidade pela resolução dos problemas de indisciplina e violência. Uma lei aprovada há cerca de dois anos pela AR sobre o estatuto do aluno necessitaria de ser alterada para que os problemas se resolvessem! E as escolas? Qual o seu papel?
Tenho defendido neste blog, que a autoridade do professor e da escola é essencial enquanto meio de aprendizagem e defesa da democracia, e condição para que se possa trabalhar bem. Defendo que é necessária autoridade dos conselhos executivos, associada a mais autonomia para a resolução de problemas como a indisciplina e o insucesso escolar. É também necessária mais autoridade das chefias intermédias, designadamente dos directores de turma, e dos professores. Mas grande parte da solução dos problemas que existem hoje passa por novas estratégias organizativas e pedagógicas. Estratégias que visem resolver problemas. Conheço exemplos de excelentes professores que souberam gerir uma autoridade democrática baseada na criação e cumprimento de regras claras e de leis e no desenvolvimento de uma vida escolar baseada no estudo, no trabalho rigoroso, na entreajuda, na pesquisa, no desenvolvimento do sentido crítico, procedimentos pedagógicos essenciais para escapar ao laxismo e ao autoritarismo. O resultado é bem mais interessante do que a via do medo. Conseguem-se melhores ambientes escolares, em que se trabalha mais, se aprende melhor, se aprende a compreender e cumprir as leis e a praticar a democracia.
A solução dos problemas educativos é complexa. Por isso ela deve partir da reflexão sobre as realidades concretas de hoje e ser enriquecida pela pedagogia. Choca-me a arrogância com que certas pessoas que tenho por inteligentes e cultas, ignoram o contributo da pedagogia e o esforço de professores que no terreno resolvem bem muitos problemas.
É indispensável que se entenda que “o regresso ao passado não tem futuro” porque os alunos são diferentes, a relação com o conhecimento mudou profundamente nas nossas sociedades e a escola tem hoje novas missões .

Ana Maria Bettencourt

Comments:
"nunca foram professores na vida"?
"Dessas 60 mil pessoas que se candidataram e não foram contratadas, só cerca de um terço eram professores, outros eram pessoas que se candidataram ao lugar de professor" e "nunca foram professores na vida", afirmou (o Primeiro Ministro) aos jornalistas em Resende, Viseu.
É urgente explicar ao Senhor Primeiro Ministro que o concurso em questão se destina ao preenchimento de vagas de Quadros de Escola ou de Quadros de Zona Pedagógica, o que implica ser profissionalizado, ser mesmo professor portanto.
Eles não estão a candidatar-se ao lugar de professores. Eles são professores.
Como é possível ficar tudo calado e não repor a verdade?
Estes não colocados irão passar para um concurso de professores contratados e a maioria dos contratados também tem habilitação profissional.
Sabia o Senhor Primeiro Ministro?
Todos os dias são dias de dizer a verdade e só a verdade, sobretudo quando se trata de pessoas que prometeram exercer as suas funções "com lealdade".
 
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