Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

10.11.06
 
Ainda sobre a Diversidade

A valorização da diversidade linguística - uma estratégia para combater as desigualdades na educação.


A diversidade existente hoje nas nossas escolas vem colocar um desafio decisivo: o que podem/devem fazer as escolas para que a diversidade seja fonte de enriquecimento e não se transforme em desigualdade? Como podem contribuir para que as crianças e os jovens imigrantes vivam positivamente um processo de integração no nosso país?

Diversidade e desigualdades-I

Há hoje muitas críticas à escola portuguesa pelos maus resultados que os alunos obtêm.
Mas esta generalização que se faz dos maus resultados não é correcta porque, na escola portuguesa, uma parte dos alunos obtém muito bons resultados. Basta analisar a geração de jovens empreendedores ou cientistas que a escola forma. Para muitos destes jovens a escola foi determinante e podemos dizer que foi uma boa escola.

A escola ensina bem mas só a uma parte dos seus alunos.
O grande problema da escola portuguesa tem sido não conseguir produzir respostas adequadas à heterogeneidade e diversidade dos públicos que a frequentam e portanto
não conseguir promover a integração de uma parte muito significativa dos seus alunos.
Um problema grave da escola portuguesa é continuar a utilizar, como principais estratégias de regulação dos problemas de aprendizagem, a retenção e a exclusão, que são a meu ver medidas que desresponsabilizam as escolas, ferem a auto estima dos alunos e conduzem muitas vezes ao abandono dos caminhos da educação e formação. São processos que originam profundas desigualdades. Ou seja, a escola não conseguiu ainda substituir a retenção e a exclusão por estratégias eficazes de apoio e enquadramento e por pedagogias adequadas à heterogeneidade e à diversidade dos alunos.

Ao contrário do que muitos dizem e pensam, as desigualdades continuam a ser um problema grave das nossas escolas. Ouvimos hoje muitos discursos sobre a escola que preconizam que se ignorem as desigualdades, que se ignorem as marcas na escolaridade da origem sócio-cultural e linguística dos alunos. Vemos que se classifica facilmente como boa escola, uma escola que transmite os conhecimentos, esperando que os alunos aprendam. Os esforços e trabalho para que todos os alunos aprendam efectivamente, não são considerados indicadores para avaliação da qualidade de uma escola.
Ensinar e avaliar são efectivamente missões da escola que tem de ser capaz de organizar melhor o trabalho dos alunos, exigir que trabalhem mais e melhor, mas, ignorar a sua origem sócio-cultural e linguística das crianças e jovens é contribuir para reforçar o conceito de que uma boa escola pode sê-lo mesmo que o seja só para alguns, continuando a deixar muitos alunos para trás.
Para que a diferença não se transforme em desigualdades irremediáveis temos de conhecer a diversidade e aprender a valorizá-la na escola. A realidade que temos hoje na escola evoluiu muito rapidamente e surpreendeu-nos, por isso os instrumentos para o seu conhecimento são indispensáveis.

Ana Maria Bettencourt

Comments:
Estou completamente de acordo.
Só me interrogo muitas vezes: que esforço especial fazemos nós, os professores, para o sucesso dos bons alunos?
Penso, frequentamente, que os seus bons resultados dependeram muito pouco do nosso trabalho. São excelentes mesmo em meio extremamente adverso.
Os alunos de insucesso continuam a ser o nosso problema. Para esses temos dificuldade em encontrar soluções.
Armandina
 
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