Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

29.12.06
 
O primeiro ciclo do ensino básico

Actualidade em Debate (a partir de um pouco de história):

O primeiro ciclo do ensino básico:
Por uma perspectiva integrada*

Durante o XI Governo Constitucional (1987- 1991) foi elaborado um novo programa para o 1º ciclo do Ensino Básico (integrado na reforma geral dos currículos do ensino básico e secundário) , programa que, apesar de algumas alterações sofridas em relação à proposta dos seus autores, veio a ser aprovado pelo Ministério da Educação em 1990.

Para apoio à difusão e ao esclarecimento do programa, a equipa que o elaborou produziu um texto e uma grelha que valorizam a leitura cruzada do Programa, procurando salientar as possibilidades de articulação entre as diferentes áreas. Possibilidade que é uma necessidade e evidência porque se adequa e serve
o processo de desenvolvimento da criança e o papel da escola neste processo e porque a perspectiva que se tem sobre o desenvolvimento da criança é a de que ele constitui um processo integrado no qual os vários domínios (psicomotor, sócio-afectivo e cognitivo) interagem entre si: o desenvolvimento numa dimensão influencia e é influenciado pelo desenvolvimento em qualquer das outras dimensões”.
Separar tudo isto na “escola primária” pode ser um risco e uma perversão cujos possíveis efeitos nefastos será difícil anular. Ao “bondosamente” se querer qualificar o 1º ciclo do Ensino básico, podem-se estar a pôr em prática algumas medidas de política educativa que incentivem a sua desagregação em disciplinas, agravando-se mais que se curando os males de que o “ensino primário” padece. O documento e o mapa elaborados em 1989 e que seguidamente se apresenta são, por isso, de uma enorme oportunidade e pertinência!


A concepção integradora do currículo resulta da complementaridade de diferentes perspectivas com consequências e implicações quer na concepção e elaboração de um programa quer, e sobretudo, no momento de o concretizar na prática pedagógica.
Decorre, em primeiro lugar, da forma como é encarado o processo de desenvolvimento da criança e o papel da escola neste processo.
A perspectiva que se tem sobre o desenvolvimento da criança é a de que ele constitui um processo integrado no qual os vários domínios (psicomotor, sócio-afectivo e cognitivo) interagem entre si: o desenvolvimento numa dimensão influencia e é influenciado pelo desenvolvimento em qualquer das outras dimensões.
Relativamente ao papel da escola a Lei de Bases do Sistema Educativo estabelece claramente que o sistema se deve orientar “para favorecer o desenvolvimento global da personalidade” e que a “organização curricular (…) terá em conta a promoção de uma equilibrada harmonia entre os níveis de desenvolvimento físico e motor, cognitivo, afectivo, estético, social e moral dos alunos”

Se estas perspectivas foram determinantes para a selecção e definição das componentes e conteúdos a incluir no Programa do 1º ciclo, deverão sobretudo encontrar uma efectiva tradução na prática educativa das escolas.
Por outro lado, se pelas razões já expostas se optou por apresentar os conteúdos organizadores por áreas, procurou-se assegurar que existisse uma articulação coerente entre elas. Há múltiplas relações entre os conteúdos das diferentes áreas, havendo mesmo conteúdos que embora com enfoques ou desenvolvimentos específicos, são abordados em várias áreas.
Uma segunda dimensão da integração diz pois respeito à forma como os conteúdos serão sequenciados e articulados na planificação das actividades educativas.
Os mesmos conteúdos podem ser agrupados em torno de unidades didácticas muito diferentes, cabendo à equipa educativa e/ou ao professor seleccionar os conteúdos a incluir e desenvolver na programação para um determinado período de tempo de modo a garantir: uma sequência lógica entre eles; a adequação aos interesses e conhecimentos anteriores dos alunos a quem se dirigem; o equilíbrio entre os diferentes domínios do desenvolvimento visados.
Em estreita ligação com o ponto anterior, um terceiro aspecto determinante para uma concepção integradora do currículo, diz respeito ao papel das abordagens globalizaras no desenvolvimento do processo de ensino.
Mais do que a simples associação de conteúdos em torno de um tema englobante, a perspectiva globalizadora prende-se com a necessidade de confrontar os alunos com acontecimentos, situações ou problemas no seu contexto real e na sua globalidade (complexidade), para análise dos quais contribuirão os saberes das diferentes áreas e que permitirão construir esquemas interpretativos de síntese sobre essas mesmas realidades.
A valorização desta perspectiva, assente na identificação de situações a estudar (a conhecer) e de problemas a resolver, para abordagem da maioria dos conteúdos, garante um maior significado às situações de aprendizagem e consequentemente uma maior motivação por parte dos alunos. Contribui ainda de forma decisiva par uma das principais finalidades educativas que reside justamente no desenvolvimento da capacidade de compreender a realidade para poder tomar opções e intervir nela.

O quadro que a seguir se apresenta pretende orientar desde o início a leitura do Programa numa perspectiva integrada e interactiva.
Dividido em duas partes pela diagonal, nele se relacionam as áreas a dois níveis diferentes:
- Na metade superior direita apresentam-se os contributos implícitos de umas áreas em relação às outras. Por exemplo, em que medida é que as aquisições realizadas no domínio da Expressão Plástica contribuem para as do Estudo do Meio e vice-versa; ou, dito de outro modo, quais são os contributos recíprocos em termos do desenvolvimento do aluno entre a Expressão/Educação Físico-motora e a Matemática ou entre esta e a Língua Portuguesa.
Nesta primeira parte do quadro procurou-se pôr em evidência o contributo de cada uma das áreas no contexto global do currículo, realçando assim, uma vez mais, a importância de um efectivo desenvolvimento de todas elas na prática educativa das escolas.

- Na metade inferior esquerda do quadro indicam-se os principais conteúdos ou temas comuns às diferentes áreas, isto é, quais os conteúdos mais relevantes que, embora com desenvolvimentos específicos, se encontram na intersecção das várias áreas.

Com a segunda parte do quadro pretende-se facilitar uma leitura cruzada do Programa, procurando assim salientar as possibilidades de articulação entre as diferentes áreas.

Nota: se quer receber completo o mapa que veio truncado no JL dê-nos o seu endereço electrónico que lho enviamos pela mesma via - mgraca@ese.ips.pt

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