Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

28.9.07
 
A difícil formação de cidadãos
A melhor aluna de uma escola da periferia da Grande Lisboa, que entrevistei à saída do 9º ano de escolaridade, dizia-me que quando era pequena se interessava por política e até tinha, nessa altura, opções partidárias. À medida que crescia, foi perdendo a confiança na política .
Presentemente a política não lhe interessa, porque considera que os políticos não dizem a verdade e não cumprem as suas promessas. Infelizmente encontramos esta opinião em muitos jovens. É difícil, assim, pensar a educação para a cidadania democrática .
O discurso em círculo fechado, e os rituais da vida dos partidos tornam muito problemático encontrar cidadãos que se queiram implicar na política.
Os debates destes dias em torno das eleições directas no PSD, não são de molde a cativar jovens. Estéreis, em torno de questões insignificantes, disse-se. E, no entanto, Pacheco Pereira tinha razão ao afirmar a importância das questões levantadas.
A opacidade das práticas partidárias a falta de democracia interna, o caciquismo são porventura os principais problemas de uma parte dos partidos portugueses. O vazio de ideias, debates e causas, a arrogância muitas vezes encontrada em quem governa os aparelhos partidários serão, porventura, uma consequência......
Ana Maria Bettencourt

Comments:
Lembro-me tão bem da satisfação que sempre sentia quando, ainda pequena e antes dos 18 anos, acompanhava os meus pais à Escola Secundária onde votavam, às mesas de voto... e imaginava... "quando tiver 18 anos"... Os 18 chegaram e é com orgulho que voto, sempre! Apesar de me reconhecer no desencanto...
 
O que me parece verdadeiramente assustador é que a escola reproduz o que há de pior na democracia representativa, com a eleição de representantes para órgãos onde normalmente os alunos só podem ouvir. Completam estas reproduções com reproduções ainda mais caricatas em que crianças vestidas de adultas vão brincar aos deputados, às vezes na própria assembleia.
É perfeitamente possível, sobretudo quando se trabalha em monodocência, criar uma comunidade em democracia directa, que gera todo o processo de ensino-aprendizagem, sem perder de vista a encomenda: cumprir os objectivos do programa. É possível, porque existe. É possível fazer agir crianças para intervir activamente e denunciar abusos de poder. São experiências que nunca mais são esquecidas, quando se chega a altura de decidir como adulto como se intervirá como cidadão - apesar das partidocracias.
 
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