Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

12.11.07
 
SABE MAIS DO QUE UM MIÚDO DE 10 ANOS?
Sabe mais do que um miúdo de 10 anos?


Este é o nome de um concurso da RTP1. Aos concorrentes, adultos, são feitas perguntas sobre matérias do 1º ao 5º ano de escolaridade. É estranho, para o sistema educativo português, considerar os cinco primeiros anos de escolaridade. Mais lógico seria 4 ou 6, correspondendo ao primeiro ou ao segundo ciclo do ensino básico. Só se percebe a razão sabendo que o original é dos Estados Unidos e que lá o ensino primário é de cinco anos. Bem que se podia ter feito um esforço maior de adaptação.
Mas a questão essencial não é essa. Não faço ideia do tipo de perguntas que são feitas no original, mas as perguntas da versão portuguesa são muito à base de conhecimentos de tipo enciclopédico. O concurso é animado e agradável de ver, mas algumas perguntas têm-me feito pensar sobre a utilidade dos conhecimentos que aí são testados.
Ao ouvir um concorrente, que tinha perdido, dizer que sabia menos do que um miúdo de 10 anos, questionei-me sobre a forma como a generalidade dos espectadores olhará para o concurso. Ou seja, para além do eventual prazer que retirarão da humilhação do concorrente, até que ponto valorizam o conhecimento implícito nas perguntas ou percebem que aquilo não é o que de importante um adulto deverá retirar dos seus primeiros anos de escolaridade.
Efectivamente há conhecimentos que são importantes e que exigem memória, mas a maioria dos conhecimentos pode ser esquecida, desde que se transformem em conceitos e competências. Mas creio que a maioria das pessoas não pensa assim e que tem uma visão das aprendizagens escolares como um conhecimento enciclopédico.
Os anos de escolaridade seriam, nesta visão, como volumes de uma enciclopédia e quem vai no volume 7, já tem, e terá sempre, todo o conhecimento dos seis primeiros. É, certamente, uma caricatura, mas tem algum fundo de verdade. Tudo isto por oposição às competências que fazem parte da “escola da vida” e que permitem enfrentar e resolver os problemas “reais”.
Quem é que acha que é importante saber de quantas peças se compõe um Tangram? Ou mesmo, quem é que sabe o que é? Eu não sabia e nem sei se já tinha sabido. E para além de ajudar a ganhar concursos, não creio que seja importante. Mas pode ser interessante se o conhecimento da sua origem e uso ajudar a compreender o povo que os criou.
É só um concurso e talvez eu esteja a levar isto muito a sério. Mas, no fundo, um concurso pode, sem se dar por isso, reforçar ou contrariar determinadas concepções e ideias.

Pedro Lourtie

Comments:
A maneira como colocou o problema parece-me correcta. Na verdade os conhecimentos que se adquirem na escola fazem parte daquilo que o senso comum apelida de "cultura". Quanto mais conhecimentos enciclopédicos uma pessoa interiorizar mais "culta" é.
Acresce que ao colocarmos adultos (que perdem!) e crianças a competir será uma possível tentativa de demonstrar que os conhecimentos adquiridos diluem-se no tempo e que afinal ensina-se HOJE alguma coisa na escola.
 
Boa noite. Sou telespectadora assidua do vosso programa e tenho uma proposta para fazer, relativamente ao programa "Não sei mais que um miudo de 10 anos": Será possível passar a apresentar as questões em rodapé e nao apenas no quadro? É que gostamos de responder e é dificil ler tudo durante o pouco espaço de tempo em que aparece! Se a escrevessem também na parte inferior do ecrã seria uma optima ideia pois falicitava o raciocinio do telespectador e fomentava ainda mais o conhecimento... Obrigada pela atenção e se possível aceitem esta proposta. E já agora parece-me que o programa é transmitido muito tarde, uma vez que é suposto as crianças assistirem e a partir das 22h estas já devem estar a descansar... neste momento são quase 23 horas e estou a assistir ao programa!Poderiam transmitir o programa logo a seguir ao telejornal e os programas que inserem no meio, poderiam ficar adiado para depois do mesmo programa.Os meus Parabéns pelo programa. Obrigada. Vera
 
Enviar um comentário

<< Home