Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

12.12.07
 
Lá Fora Também se Aprende
Este era um título de um interessante programa de televisão conduzido por Maria Emília Brederode Santos há cerca de trinta anos. Mas a ideia que lhe deu o título tarda em ser assumida pela sociedade portuguesa.
Ouvimos, a 11 deste mês, na Assembleia da República, Santana Lopes indignar-se com o processo oficial de reconhecimento e validação de competências (RVCC).
Segundo ele, haveria facilitismo no processo, o que seria injusto para quem estuda no ensino regular.
A sua atitude não me espanta. Apesar de ser hoje cada vez mais reconhecido que a melhoria da qualificação dos portugueses passa pela educação de adultos, este sector da educação nunca foi levado muito a sério, no mundo da política.
O conhecimento que aqueles que produzem a opinião no país consideram ter sobre a educação, pelo simples facto de terem andado na escola não lhes permite conhecerem este mundo da educação de adultos, sobre o qual se dizem os maiores disparates. Trata-se porém de um sector que foi decisivo para a democratização e para o desenvolvimento de vários países entre os quais os países nórdicos.
E, no entanto, todos sabemos que há, na sociedade portuguesa, sectores significativos da população, e da população activa em particular, que, infelizmente, não tiveram possibilidade de aceder à educação básica e secundária. E há também um número elevadíssimo de jovens excluídos em anos recentes, aos quais a escola não foi capaz de dar a resposta certa, e que é necessário qualificar.
O sistema de reconhecimento de competências apoia-se em instrumentos rigorosos de avaliação, que, independentemente de poderem ser mal ou bem aplicados - como aliás a avaliação efectuada pelas escolas - permitem avaliar as competências adquiridas pelos adultos ao longo da sua vida e encaminhá-los para as formações de que necessitam para adquirirem um determinado nível de escolaridade.
Conheci histórias extraordinárias de pessoas que, através deste sistema, aprenderam a valorizar os seus percursos, a sua vida pessoal, se reconciliaram com a educação, estudaram mais, aprenderam com entusiasmo, ganharam aptidões profissionais e alguns criaram o seu próprio emprego. Estes percursos de reconhecimento de competências podem constituir um patamar precioso para iniciar trajectos de formação e qualificação com a necessária consistência.
São um êxito da democracia.
Ao contrário do que se vai dizendo, o facto de não se possuir diplomas escolares está longe de corresponder à ausência de conhecimentos, saberes e competências.
Inúmeros exemplos no mundo da política e das artes, por exemplo, confirmam-no.
É fundamental consolidar a rede nacional de instituições vocacionadas para a educação de adultos, capaz de motivar os portugueses para aprenderem mais, e fornecer mais armas para fazerem face ao desemprego.
Avaliar e corrigir este processo inovador e pouco compreendido por muitos é o caminho.

Achincalhá-lo é um acto de ignorância.

Ana Maria Bettencourt

Comments:
RVCC? Não há facilitismo? EM que planeta vive? Tenho uma aluna de 42 anos que fez o o 9º ano através do RVCC em 3 meses. Como? Foi à "escola", convenientemente uma organização com fins lucrativos, apenas duas vezes: uma para se inscrever e outra para levar "uma folha" (sic) com uma "composição feita pelo meu filho" (sic). O que se chama a isto? Rigor? Excelência? Mérito? Democracia? De facto, quando nos posicionamos na esquerda ideologicamente cega pelo pensamento eduquês, dificilmente conseguimos compreender as inanidades que escrevemos.
 
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