Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

5.1.08
 
As autarquias, a integração educativa e o jogo do empurra.
Todos sabemos como a integração das crianças de etnia cigana na escola é difícil e encontra como obstáculos, preconceitos culturais e o facto da educação escolar não fazer parte dos projectos que as famílias têm para os seus filhos. É confrangedor ver crianças que aos 7, 8, 9 anos não sabem pegar num lápis e jovens com capacidades demonstradas abandonarem a escola para casarem precocemente ou irem trabalhar sem a idade legal para o fazer....(factos que constituem claros atentados aos Direitos Humanos). Apesar das dificuldades, existem por este país fora algumas experiências de integração na escola bem sucedidas, que representam um enorme esforço da parte dos professores e responsáveis por esses projectos.
É um destes projectos que está em curso no agrupamento de escolas de Vialonga, onde uma população escolar em situação de abandono do 1º ciclo está, através de um projecto especial, a ser integrada com sucesso na escola e a aprender. O projecto abrange igualmente um grupo de crianças do pré-escolar.
Os pais de grande parte destas crianças foram agora avisados que de que as suas habitações, ilegais, vão ser destruídas na próxima semana, deixando-os na rua.
A GNR fará o papel a que é obrigada.
Os pais são candidatos a alugar casas pagando-as, mas os senhorios não aceitam as suas candidaturas.
Provavelmente terão de abandonar aquela zona, levando as crianças, uma vez mais, para situações de abandono e exclusão educativa e social.
Perante a indiferença de muitos, dirigiram-se à escola, a instituição que até agora consideram ter resolvido muitos problemas das crianças.
É um bom sinal que a escola seja considerada como um interlocutor.
Mas a escola fica com a angústia, pouco podendo fazer. Tem ajudado, falando com quem pode intervir.
Há sobretudo a considerar em casos como este o papel da autarquia, que não pode ser indiferente e tem de ser o mediador e a entidade que encontra soluções para estes dramas, articulando esforços dos várias intervenientes no processo.
Uma autarquia, ainda para mais de maioria socialista, tem de estar disponível para ouvir os pobres e os excluídos. Para articular esforços e encontrar soluções.
É este o único caminho aceitável.....para uma responsabilidade social pela integração e educação em que todos os esforços nunca serão demais. Essa responsabilidade social, alargada, pela educação e integração das crianças e dos jovens, é um traço distintivo do funcionamento dos países nórdicos .
Esperemos que o jogo do empurra tão característico do nosso país não se instale também neste caso.....
Ana Maria Bettencourt

Comments:
Mas as autarquias preferem, por enquanto, investir em produtos mais visíveis e consensuais!
 
Estes desafios são da responsabilidades de todos os envolvidos. É muito bom sinal para a Escola o facto de ser considerada como um interlocutora num processo como este - está de PARABÉNS!

Quem disse que a «formação ao longo da vida» só tem pertinência em ambientes e contextos laborais?
Não é este um processo em que todos os envolvidos e interessados "aprendem" a ser mais solidários com o outro, mesmo diferente, na resolução de um problema que não é só dos que vão ficar sem casa?
 
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