Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

20.2.08
 
UMA NOVA PERSPECTIVA:
A Formação Contínua de Professores e o Programa de Formação Contínua em Matemática para professores do 1.º ciclo


Maria de Lurdes Serrazina*


Pensar hoje a formação contínua de professores implica ter consciência que o professor possui um conhecimento profissional específico, multifacetado, que desenvolve continuadamente ao longo do tempo, em diálogo com as experiências diversas que vai vivendo, nomeadamente no contexto concreto das escolas em que lecciona e com as turmas que vai encontrando. Esse conhecimento é dinâmico, está em constante evolução, na procura de resposta às novas situações com que o professor se depara, requerendo actualização e aprofundamento permanente e sustentado, o que pressupõe o desenvolvimento de uma atitude e predisposição positiva para o seu investimento profissional. Isto é, a formação contínua deve ser encarada como um processo de desenvolvimento profissional do professor e não apenas como uma forma de colmatar deficiências detectadas na sua formação.


Foi com este pressuposto que se desenhou o Programa de Formação Contínua em Matemática (PFCM) para professores do 1.º ciclo[1] que está no terreno desde o ano lectivo de 2005/06 e que envolveu nos dois primeiros anos mais de 7 000 professores nos 18 distritos de Portugal continental, coordenado pelas respectivas instituições de ensino superior. No corrente ano lectivo estão envolvidos cerca de 3 000 professores do 1.º ciclo e um número superior a 1 000 professores do 2.º ciclo do ensino básico.


O PFCM constituiu um ponto de viragem em termos de estratégias formativas. Trata-se de um modelo em que a formação está centrada na escola e na sala de aula, com duas componentes: uma de trabalho conjunto e continuado (durante o ano lectivo e em sessões com periodicidade quinzenal) do grupo de formandos (8 a 10 professores por grupo) com o formador para planificação, reflexão e aprofundamento dos conhecimentos matemático em articulação com o conhecimento didáctico e curricular envolvidos; e outra de acompanhamento ao nível da sala de aula das planificações trabalhadas nas sessões de formação em grupo, com a consequente reflexão sobre as aprendizagens realizadas pelos alunos, face aos objectivos das tarefas planeadas. O acompanhamento na sala de aula é um aspecto inovador no nosso país e o balanço até aqui revela-o como um espaço fundamental de aprendizagem do professor.


O Programa de Formação está a conseguir, de forma progressiva e gradual, uma atitude profissional de maior empenhamento e investimento no ensino da Matemática, com maior consciência dos desafios que se colocam e com maior capacidade de lhes fazer face – maior sensibilidade para os problemas da aprendizagem da Matemática, maior conhecimento da Matemática a ensinar e de como o fazer, maior predisposição para planificar de forma cuidadosa e aprofundada a aula de Matemática, maior conhecimento dos recursos a mobilizar. Tratam-se de mudanças muito significativas, que têm natureza cultural, e por isso são demoradas. É preciso a mobilização e empenho de todos os parceiros (professores, pais e encarregados de educação, autarcas, estruturas intermédias do Ministério da Educação) para que o processo tenha o êxito esperado. Importa assim criar condições para que este processo continue e se possa desenvolver plenamente, de modo a que atinja a sua finalidade última - a melhoria das aprendizagens dos alunos na área da Matemática e o desenvolvimento de uma atitude positiva face a esta área do saber.


*Professora Coordenadora da Escola Superior de Educação de Lisboa e Coordenadora da Comissão de Acompanhamento do Programa de Formação Contínua em Matemática


[1] Posteriormente alargada ao 2.º ciclo do ensino básico.



Publicado no Jornal de Letras - Educação em Fevereiro de 2008

Comments:
Sou professora do 1ºciclo desde 73 com muito empenho e entusiasmo, adorei a formação de matemática, utilizo muito o que aprendi, TODOS os meus alunos gostam de matemática e de música. Força, continuem, não estamos a trabalhar "para inglês vêr!" Obrigada Luisa Bernardes
 
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