Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

4.4.08
 

A pedagogia e a prevenção da violência escolar
A criminalização da violência na escola e a procura de culpados têm marcado um debate pouco esclarecedor, “ilustrado” por um momento lamentável da vida de uma aula, repetido de modo exagerado pelos media. Debate que tem “embaciado” a realidade.
Não devemos nem ignorar que a violência existe, nem devemos transformar os factos, classificando como violência actos reprováveis, mas que dificilmente poderão ser considerados como tal.
A pedagogia é o instrumento mais eficaz para prevenir situações de violência em meio escolar.
Deveríamos ser capazes de substituir os modelos do autoritarismo que herdámos (e com os quais muitos ainda sonham em voz alta por estes dias), por uma autoridade baseada em leis e regras claras, que os alunos compreendam e aprendam a respeitar. A pedagogia cooperativa, aplicada em Portugal em algumas situações educativas muito interessantes, constitui uma das vias para a prevenção da violência. Também o trabalho de equipa dos professores constitui uma medida de prevenção eficaz. Um professor que não partilha as suas dificuldades com os colegas é um alvo fácil de violência! A estabilidade das equipas e a organização do trabalho dos alunos na escola são outros factores determinantes.
Estas estratégias, entre outras, são avançadas pelo presidente do Observatório Europeu Contra a Violência na Escola, em entrevista à SH da qual transcrevemos alguns excertos a seguir.
Ana Maria Bettencourt


Pedagogia contra a violência
Resumo de uma entrevista em que Éric Debarbieux, (professor na universidade de Bordéus que dirige o Observatório Europeu da Violência na Escola) fala à revista Sciences Humanes sobre violência e sobre condições que a fazem recuar (N° Spécial N° 5 - L'école en questions), com base em numerosos inquéritos de terreno realizados em todo o mundo.

ED, constata que existe um discurso demagógico em torno da violência na escola, e que são utilizados por vezes “faits divers” isolados para dramatizar e propor as soluções mais simplistas e populistas como remédio.
Considera que os casos extremamente violentos seriam muito raros.
Considera também que existe uma outra atitude “politicamente correcta” que consistiria em minimizar, a realidade para não fazer o jogo das políticas securitárias.
Perante estas duas perspectivas, o autor aponta para a atitude correcta que será não exagerar, nem negar os factos.

Salienta que, para se conhecer bem o fenómeno da violência, é de considerar a dificuldade de observação dos problemas de fundo, porventura menos visíveis, tais como os insultos, brigas, gozo, roubos, formas de violência entre pares, etc problemas que considera deverem ser tomados a sério, sobretudo quando incidem sempre nas mesmas pessoas. “mesmo quando se constata um aumento muito preocupante de ódio para com o professor, as principais vítimas de violência escolar são maioritariamente os alunos...“

A escola pode produzir violência
Embora exista uma combinação de factores familiares, sócio-económicos, ligados à posição das minorias e igualmente à personalidade das crianças violentas, não existe um determinismo absoluto, susceptível de gerar um handicap “socioviolento”.
O autor considera que a escola pode produzir violência e dá como exemplo certos processos de repartição dos alunos pelas turmas, originado verdadeiras “classes –gueto”.

Certas investigações apresentam mesmo os factores-escola como os mais determinantes. Estes factores estão ligados à organização dos estabelecimentos de ensino, ao modo de colocação dos professores, à estabilidade das equipas, às práticas pedagógicas.
[...]
EB, considera que existe uma forte correlação entre o clima da escola e a violência escolar, afirmando que, mesmo sem políticas públicas muito fortes, certas escolas conseguem fazer recuar os fenómenos de violência. Salienta o autor que a primeira condição para que se produzam esses efeitos é a estabilidade das equipas educativas e o modo como elas se auto-gerem, pois é conhecido que não existe possibilidade de trabalhar contra a violência escolar com equipas instáveis ou que não se entendem. Outro dado relevante é que os professores isolados são impotentes.

Em geral, a violência recai sobre pessoas isoladas: a criança que não pertence ao bairro, o professor que caiu de pára-quedas numa escola onde não existe trabalho de equipa.

Que estratégias?

Apontam-se algumas: a criação de um clima convivial nas escolas, de um sentimento de pertença a um grupo partilhando valores comuns entre alunos e professores. O autor refere uma experiência espanhola “conviviencia escolar” que fez recuar muito sensivelmente a violência pela diminuição do isolamento dos alunos, através de projectos pedagógicos, como a organização de festas escolares, teatro, pedagogia cooperativa em que os alunos participam nas decisões......
Os grandes programas nacionais, por si só, são quase sempre ineficazes ...Afirma Egide Royer, director do Observatório Canadiano para a prevenção da violência: “nós não necessitamos de pronto a vestir, mas de trabalho feito à mão”.

O autor faz notar que em França existe uma grande dificuldade de pôr os professores a trabalharem em equipa e não deixa de referir que genericamente, a formação dos jovens professores é dramaticamente desprovida dos aspectos pedagógicos específicos da profissão, que deviam acompanhar a transmissão dos saberes, particularmente junto de “públicos difíceis”.
Mesmo em países com grande violência nas ruas foi possível estabelecer uma forte ligação dos alunos à escola e aos professores e combater situações problemáticas. Em África e no Brasil é possível ver os pais circularem livremente na escola

Comments:
Em vez de estarem todos a falar de castigo deveriam antes pensar em que é que errámos e como se pode prevenir a violência
 
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