Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

2.5.08
 

Para que serve o "Chumbo?"
Pelos jornais desta semana ficámos a saber o elevadíssimo custo das retenções dos alunos portugueses. São custos para o país e custos ainda mais graves para os alunos. (Tenho encontrado no nosso sistema alunos retidos três e quatro vezes no mesmo ano! São situações aberrantes impossíveis de encontrar na esmagadora maioria dos países europeus.)
Sabemos, por outro lado, através de estudos consistentes, que o chumbo fragiliza os percursos educativos causando em geral desmotivação e muitas vezes abandono. (Sei que existem exemplos pontuais em que a retenção ajudou um ou outro aluno, mas não se pode continuar a fazer generalizações abusivas destes casos!)
Surgem muitas vezes argumentos de justiça...seria injusto para um aluno que estudou, que outro que não estudou passasse o ano (quem utiliza este argumento, não vê em geral, que estes alunos que não estudam muitas vezes não têm ninguém para os ajudar, ou nem sequer uma mesa para trabalhar em casa ). A justiça será criar condições para que o aluno que não estuda seja capaz de trabalhar mais e receba os apoios de que necessita para o fazer.....o facilitismo é chumbar e deixar que os alunos abandonem o sistema ..a via mais exigente é fazer com que todos trabalhem na escola muito mais do que o fazem.
O chumbo é a solução mais fácil para a escola resolver problemas de aprendizagem.
Não faltam pessoas para defender a importância pedagógica do chumbo e o seu papel como garante da justiça!
Por mim preferiria ver as verbas gastas, em processos alternativos ao chumbo ( para bem dos alunos e do país). Processos mais exigentes do ponto de vista da escola e dos alunos, como por exemplo mais apoios dentro e fora das aulas, um maior enquadramento dos alunos, planos individuais de trabalho, estratégias de diferenciação pedagógica, tutorias, estratégias para ensinar os alunos a trabalhar....(não esqueçamos que aqui reside a base das desigualdades de sociais, sobre as quais a escola pode actuar!) .
Acredito que grande parte dos problemas se podem resolver na escola e na sala de aula. E por isso é preciso formar os professores para trabalharem nesse caminho. O trabalho colaborativo dos professores em torno de estratégias para resolver o insucesso escolar e a responsabilização da escola pelos percursos dos alunos são essenciais.
Enquanto considerarmos que a estratégia essencial para a lidar com o insucesso escolar é o "chumbo" ....teremos problemas graves ao nível da eficácia do nosso sistema.
Ana Maria Bettencourt

Comments:
O chumbo é importante para garantir a autoridade do professor! Se o aluno souber que não chumba não estuda. Nos países que não chumbam os alunos não aprendem nada na escola!
 
Na Finlândia a repetência é residual e ninguém ducida de que os alunos aprendem!
 
Antes do "chumbo" dos alunos falemos sobre os professores.É
interessante quando escreve: "Acredito que grande parte dos problemas
se podem resolver na escola e na sala de aula. E por isso é preciso
formar os professores para trabalharem nesse caminho."
O caminho a seguir é esse sem dúvida. Mas os professores querem seguir
esse caminho? Sabem que o tem de fazer?
Planos individuais de trabalho, estratégias de diferenciação
pedagógica são "coisas" que poucos alunos conhecem. Aqueles que
tiveram a "sorte" de fazer um plano individual de trabalho adequado às
suas dificuldades trabalhou com os seus pares e professores e aprendeu
certamente estratégias para trabalhar e estudar.
Ora, quando a prática pedagógica da maioria dos professores é fazer
fichas iguais para toda a turma fazer ao mesmo tempo não me parece
seja possível uma diferenciação pedagógica.
Também não me parece ser possível que um professor ensine estratégias
para trabalhar/estudar quando o que mais tenta fazer é não trabalhar e
estudar.
Professores novos, recém-licenciados não lêem, não gostam de ler, só
querem receber ao final do mês e pretendem apenas trabalhar o minimo
possível.
Os professores são o exemplo para os alunos e é essa a grande
diferença entre Portugal e os outros países.
Mais do que uma mudança económica e na formaçao profissional dos
professores é preciso que cada professor descubra a beleza da
profissão.
Não há nada melhor do que encontrar crianças felizes às 8h30 da manhã,
contentes por irem estudar, aprender e cooperar. A esta hora já oiço
"precisa de alguma ajuda? posso ir para a sala fazer isto ou aquilo?
ainda falta muito para irmos para a sala?" Durante o dia os meus
alunos primam pelo entusiamo e vivacidade e relacionam tudo o que
aprenderam ... e quando chega a hora da saída apenas me questionam
porque que o tempo passou tão rápido... Na minha sala os chumbos
seriam certamente por o tempo ser curto... porque todos sabem as
dificuldades uns dos outros, tentam diariamente superá-las e quando as
superam... começa tudo de novo porque descobrem outra! É bom aprender
e trabalhar também!
 
Realmente, a situação é preocupante. A esmagadora maioria dos profesores mais velhos, os tais do 10º escalão, titulares e regiamente pagos pelo bolso dos contribuintes, trabalha umas míseras 12 horas semanais, não prepara aulas, demora uma eternidade a entregar os testes, esquiva-se ao trabalho, dedica-se a outros negócios e negociatas, faz acumulações ilegais em colégios privados e ainda obriga os mais jovens a trabalhar por conta deles. Esses professores, herdeiros do 25 de Abril, do Maio 68 e do tempo dos charros e das bebedeiras, são a verdadeira geração rasca: chegaram ao poder e mantêm-nos no lamentável estado de coisas a que assistimos. Por culpa dessas sanguessugas o défice orçamental está como se sabe e a educação caíu num lamaçal empoeirado. Grande parte desses revolucionários da ganza, hoje com 55 ou 60 anos, nem uma licenciatura frequentou, tendo baixíssimas qualificações; mas, à boleia da carência de licenciados, agarraram-se como lapas aos lugares que o erário público lhes deixou à disposição por altura dos tempos do PREC.

A geração que nasceu nos anos 40 e 50 é uma geração falhada, constituída por falhados. São pequeno-burgueses instalados e acomodados no sofá, apesar da retórica esquerdista e supostamente revolucionária.

Mais um charro? Ou um livreco de Paulo Freire?
 
Não nos podemos perder num debate, pondo questões mal resolvidas à frente de assuntos tão sérios. Perrenoud mostra-nos a importânia dos ciclos escolares. O Plano Individual de Trabalho e o Conselho de Cooperação Educativa são essenciais para que a criança cresça e se desenvlva, não só na e para a escola, mas principalmente na e para a sociedade. "Chumbo" só se... primeiro vamos apostar no sucesso.
 
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