Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

28.10.08
 

Diário da Finlândia -dia III

A perplexidade dos alunos quando lhes perguntamos o que acontece aos seus colegas que não aprendem e uma grande aposta na aprendizagem das línguas.

Hoje às 11.00 chegámos à Escola Secundária – equivalente ao 3º ciclo - e fomos recebidas pela Directora.
Uma enorme simpatia e a pergunta se queríamos almoçar. Também aqui o almoço acontece, por turnos, a partir desta hora. Os alunos têm meia hora para almoçar e fazem-no no intervalo das aulas.
Esta escola, onde trabalham 30 professores, tem 270 alunos, entre os 13 e os 16 anos de idade, que frequentam o 7º, 8º e 9º (e ainda um ano extra, uma oportunidade oferecida aos alunos que pretendam melhorar os seus resultados). Com 30 horas semanais de trabalho o ensino passa, a partir deste nível de escolaridade, a ser organizado por disciplinas.
A nossa visita teve 3 momentos distintos: a reunião com a Directora da escola, a visita a salas de aulas e um encontro com 6 alunos. Muitas questões que fomos esclarecendo ao longo destes 3 momentos.
Destacaremos a conversa com um grupo de alunos constituído por vários delegados de turma, entre os 13 e 14 anos, três raparigas e três rapazes.
Falaram-nos do seu dia-a-dia: entrada às 8 e permanência na escola até cerca das três da tarde. Têm um horário muito diferenciado que atende aos interesses deles, principalmente no domínio das línguas. Falam-nos das suas actividades preferidas, leitura, jogos de computador, lições de piano, ginástica, encontro com os amigos…
A conversa correu num Inglês fluente. Mas, provavelmente, poderia ter acontecido em Alemão, Espanhol, Sueco, Russo. De facto, esta escola definiu como sua missão (de novo a questão da autonomia/responsabilidade) dar resposta aos alunos que mostram uma aptidão/vontade para aprenderem línguas. Assim, em todos os anos de escolaridade existe uma turma cujos alunos têm 2 a 6 horas extra, por semana. Podem estar a estudar, em simultâneo, 6 línguas. Alguns dos alunos com quem estivemos reunidos pertencem a essa turma.
Falaram-nos do modo como se resolvem problemas de disciplina, dos debates na aula de História, da discussão realizada com vários professores sobre a “matança” que ocorreu há alguns meses numa escola finlandesa e que muito os abalou.
Quando interrogados sobre o que acontece aos colegas que têm dificuldades, olharam para nós com perplexidade …..aparentemente essas situações não se colocam ao grupo. Depois de pensarem um pouco disseram-nos, então, que quando um aluno tem dificuldades recorre ao professor da disciplina, num segundo momento tem apoio de um professor especializado e finalmente há um trabalho com os pais no sentido de estes se responsabilizarem por algum trabalho de recuperação nas férias de Verão. Algumas escolas têm “escolas de verão”.
Atribuímos esta reacção ao facto de praticamente não existirem repetências - no ano passado só um aluno em toda a escola chumbou - e também ao facto de as notas só serem conhecidas pelos próprios e pelas famílias. As avaliações são objecto de uma análise com cada aluno mas nunca são afixadas. Existem provas de aferição ao nível do país que servem unicamente para orientação da escola.
Ficou-nos a ideia de que tal como a escola primária que visitámos ontem, também esta está organizada para prevenir dificuldades/intervir ao primeiro sinal.

Autonomia para desenvolver estratégias de integração
A directora explicou-nos que as escolas têm a possibilidade de realizar opções quanto à forma de promover a integração. A partir de um orçamento - que depende do nº de alunos, do nº de imigrantes e do nº de alunos com NEE - a aposta pode ser nos professores especializados, nos assistentes, ou na redução do nº de alunos por sala de aula. Enquanto na escola primária visitada ontem a aposta foi nos professores de apoio e nos assistentes, aqui a aposta foi na desmultiplicação das turmas.
Estas são organizadas de forma flexível: o conjunto de alunos de 2 turmas pode, em muitas disciplinas, constituir 3 grupos de trabalho, cada um a ter uma disciplina diferente.
Mais uma vez o poder da Direcção para tomar estas decisões tendo presente a sua missão: garantir condições de sucesso para todos os alunos.
Ana Maria Bettencourt, Maria Armandina Soares, Maria Emília Brederode Santos

Comments:
Então não há rankings das escolas? E os jornais aí de que vivem? Não me digam que não tentam saber as notas dos alunos?!A Finlândia está aqui está a passar de moda entre nós...
 
Pois é...

Uma escola em que existem 30 professores para 270 alunos (dá que pensar para quem gostar de médias),materiais e equipamentos do melhor que há (REPARARAM NAS MESAS DE TRABALHO DE CADA ALUNO?), arquitectura e condições ambientais(luz, som, espaço, temperatura, etc,etc)...

Enfi, eu também queria uma escola assim.
 
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