Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

29.10.08
 

Diário da Finlândia – dia IV

Tähtiniityin koulut, escola das “Estrelas”.

Hoje em Espoo, segunda cidade da Finlândia, visitámos uma escola primária, a escola das Estrelas (Tähtiniityin), - não estamos a falar de rankings!
Nesta escola identificámos 3 linhas de orientação: o sucesso para todos os alunos, a integração de crianças e jovens com NEE e um projecto de ensino bilingue.
Com 280 alunos do ensino regular e cerca de 45 alunos do ensino especial respira-se um ambiente de tranquilidade e bem-estar.

Uma aposta na integração e no reforço das aprendizagens

Esta escola procura resolver os problemas, fazendo jus ao facto de a Finlândia obter, actualmente, os melhores resultados nos testes internacionais.
Quando interrogamos os professores sobre o «segredo» do seu sucesso atribuem-no à formação inicial dos professores que consideram de grande qualidade.
O ambiente é de grande exigência relativamente às aprendizagens. Todos os professores têm um mestrado e foi-nos dito que têm uma grande capacidade de adaptar o ensino a cada aluno.
Acreditamos que esta formação tenha uma grande importância mas não somos indiferentes à rede de apoios – internos e externos - de que os alunos em dificuldade beneficiam: identificado o problema são assegurados os recursos e estratégias pedagógicos necessários à sua solução.
Existe, assim, um forte investimento na integração e no sucesso dos alunos.
Para além dos 30 professores – muitos deles de educação especial - a escola tem 25 assistentes e cinco auxiliares, a enfermeira, a assistente social, a psicóloga e uma relação permanente com os pais. Se, mesmo assim, o problema não ficar resolvido, existem ainda os recursos do Município, nomeadamente no campo da saúde e serviço social.
Mais uma vez há uma aposta clara no apoio a todas as crianças que encontram dificuldades, e que são fortemente enquadrados pela escola e pela família desde o início do ano.

Os aluno com NEE são integrados, preferencialmente, nas turmas regulares, mas sempre acompanhados por um professor de educação especial ou um assistente.

Existe, ainda, uma secção de educação especial constituída por cerca de 45 crianças e jovens, dos 6 aos 18 anos, com deficiência mental, distribuídos por 6 classes, cada uma com um professor de educação especial e dois a três assistentes.

A avaliação não serve para chumbar, conceito que não está presente nas práticas dos professores; serve, sim, para identificar necessidades e procurar respostas para as solucionar.

As práticas de bilinguismo

Em cada ano de escolaridade, desde o 1º ano, há uma turma bilingue – finlandês/inglês - na qual os alunos aprendem uma parte das matérias em inglês.
Também aqui pudemos observar a importância dada à aprendizagem das línguas. Talvez esta esteja relacionada com o facto de o finlandês ter um número reduzido de falantes. Certo é que as crianças com quem conversámos manifestam, já, uma notável proficiência na Língua Inglesa.

O espaço e o tempo

As crianças, em meias – os sapatos estão colocados junto dos bengaleiros – estão sorridentes. Sente-se que a sua vida segue um ritmo tranquilo e seguro na escola. Cumprimentam-nos, fazem perguntas – tudo isto sem sobressaltos.
As salas de aula são agradáveis, algumas com piano, bancadas de carpintaria ajustadas ao seu tamanho, máquinas de costura, agulhas de croché. E computadores e quadros electrónicos. Toda esta mescla nos permite concluir que todas as dimensões estão presentes.
Os professores, sentados em sofás, mesas de trabalho – alguns com jornais abertos – participam, durante um intervalo, na reunião semanal de 20 minutos dirigida pela Directora – em pé - e que tem como objectivo resolver os pequenos problemas ocorridos durante esse período.

Ficámos com a sensação de que aqui a vida flui calmamente

Ana Maria Bettencourt, Maria Armandina Soares, Maria Emília Brederode Santos

Comments:
Se ao menos estas experiências servissem para rever conceitos e pensar mais no país do que em ideias feitas!
 
Pois por cá há pessoas desanimadas com a perspectiva de não haver «chumbos» na instrução obrigatória!
 
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