Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…"  Jorge de Sena in Metamorfoses

16.11.08
 

POR UMA CULTURA DE SUCESSO

A massificação da Educação em Portugal não foi capaz de promover uma Cultura de Sucesso.
(e, talvez, o problema resida nesta ideia instalada de massificação, que pretende olhar para todos da mesma forma, incapaz de ver as diferenças).
Pior: habituamo-nos a encarar este fenómeno do insucesso como “natural” separando o processo educativo em duas partes distintas: ao professor cabe o papel de ensinar, competindo ao aluno aprender.
A Escola, ao olhar desta forma para o problema, desresponsabiliza-se pelo sucesso dos seus alunos: realiza o seu trabalho com “empenho” e “profissionalismo” e lava daí as suas mãos. Do lado de lá ficam os alunos: os que trabalham e têm sucesso e aqueles que não trabalham e cujos pais não assumem o seu papel de responsáveis pela sua educação e sobre quem, com “justiça”, se abate a retenção.
E que preço “pagamos “, enquanto sociedade, por este insucesso que, anualmente, atinge milhares de alunos, de todos os níveis de escolaridade?
Financeiramente, são muitos milhões de Euros.
Mas os custos sociais não são menores. Uma sociedade em que muitos crescem com o estigma da sua incapacidade para aprender não pode aspirar a construir um país verdadeiramente democrático, capaz de gerar riqueza e promover condições de verdadeira justiça social.
Jovens condenados a trabalho desqualificado (até quando o século XXI vai permitir que este se mantenha?), carregando o peso de derrotas sucessivas, dificilmente se transformarão em cidadãos de pleno direito.
Será esta situação inevitável? Temos um tão elevado número de alunos incapazes de alcançar SUCESSO?
A esta ideia de Sucesso para todos, numerosas vozes se levantam, acenando com o monstro do FACILITISMO.
A esta acusação de facilitismo acrescenta-se o princípio moral da “justiça” – estes alunos devem ser “castigados” pela sua falta de trabalho!
Mas será que quando falamos de sucesso educativo queremos dizer: temos de os “passar” a todos, a qualquer preço?
• Não será necessário, para o País, que todos aprendam?
• Não terão, todos os nossos alunos, o direito a que sejam criadas condições organizativas nas Escolas capazes de promover o seu real sucesso?
Penso que é necessário repensar esta Escola, “construída” para uma elite que dela tinha necessidade para manter o seu estatuto social.
Uma escola que não dá espaço à iniciativa, à criatividade, à diferença.
Uma escola organizada para aqueles que, naturalmente, se “ajustam” ao “modelo”, ou têm famílias capazes de colmatar, directa ou indirectamente, nomeadamente com recurso a explicadores, as suas dificuldades.
Curioso observar que, frequentemente, se ouvem comentários nas nossas Escolas acerca de jovens com notáveis capacidades e que apresentam elevados níveis de absentismo e maus resultados escolares.
Proponho, então, que falemos de uma Cultura de Sucesso, assumida pelo conjunto da Sociedade, que confia à Escola a responsabilidade da sua promoção, mas a quem são garantidos os meios para a sua concretização.
É imperioso que o País assuma, de forma decidida e eficaz , a prioridade do SUCESSO EDUCATIVO, encarando-o como a norma.
E que nesta assunção se estabeleçam redes eficazes de intervenção - bem distintas das eventuais parcerias - com responsabilidades claramente definidas.
Cabe à Escola organizar-se para que todos aprendam, diferenciando aprendizagens, respeitando ritmos e culturas diferentes, apoiando os alunos com dificuldades, respondendo ao primeiro sinal de abandono ou insucesso.
Mas neste trabalho a Escola não pode continuar sozinha. Não podemos admitir que haja alunos que não têm óculos, quando deles necessitam; alunos que nos aparecem, constantemente, com a cara inchada e que vão “tratando” as infecções dentárias com uns Benurons; alunos com graves perturbações emocionais e para quem não existe o indispensável acompanhamento.
Considero, indispensável, que se instale, na nossa Sociedade, uma nova concepção em que o Sucesso Educativo seja inevitável, competindo às Escolas, no quadro da sua Autonomia, contratualizar, com o Ministério da Educação, as medidas necessárias para a sua promoção, mas, simultaneamente, assumindo a responsabilidade de o alcançar.
Provavelmente, muito rapidamente, transitaremos de uma economia de desperdício para uma gestão eficaz de recursos.


Maria Armandina Soares

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